A morte cresce dentro de mim, faz eu crescer, evoluir no meu emocional. Não há distância na morte. Nela, todos estão comigo, sempre. O sempre cessa antes do fim. Nada se reflete. Abundância de nada, a escorrer vazio, como um pensar infinito no olhar do que não se vê. O delírio sem olhos torna-se pensamento. Vivo o nada para ter todos os pensamentos da vida. Agora são meus pensamentos. Vivo a certeza de um olhar. Diz-me quem sou. Eu não sei. Não há certeza em morrer. Sou o que deveria estar perdido. Como a lua a desatar o sol, esmoreço em alegria na falta de mim. Vida, sou tua lua, teu céu, tua esperança, teu sol, tua ausência em lágrimas, onde construo o tempo da vida, nunca o meu tempo, que não importa. O que importa é esse ficar, longe do tempo. Meu corpo é o que não pude dizer em vida. Falo na morte como voz do meu corpo. Nada é a realidade de morrer. A morte é um outro mundo nesse mundo. A eternidade de ouvir é a voz separada do corpo de onde falo eternidades com minha própria voz, a qual tinha abandonado falando de vida. O meu eu que fala não é o meu eu que vive. Corpos são esperanças de viver. Um corpo no outro é eternidade. Nunca será um único corpo. A vida em mim é a falta do meu corpo. O sonho é um corpo de asas. O fim da eternidade é o amor que a vida lhe dá. Há mais firmeza no canto dos pássaros do que na vida! A vida teve que conquistar esse silêncio de morte. O silêncio do sol é a vida. O silêncio compreende a alma, mas não a aceita em seu silenciar. A realidade é o silêncio na alma. O que mantém o silêncio é a presença do ser. O silêncio é a presença do ser. A imagem do silêncio faz eu esquecer e abandonar a imagem da vida, que nada é nada, comparado aos meus olhos, que não vivem mais.