Blog da Liz de Sá Cavalcante

Incontornável

Sou igual a todos. Sofri, morri, até chegar ao incontornável do ser, onde minha imaginação me deseja, no incontornável de mim. O incontornável é sincero. A alma é o incontornável do ser. Não me sinto bem na alma. Ao tocar minha imaginação, meu corpo vibra, eu o sinto no imaginário. Pobre corpo confinado ao imaginário. Fui destruído em um corpo sem vida. No imaginário, meu corpo me possui, salta no infinito de mim. Dentro de mim. A alma desabitada, como uma flor a desabrochar. Não sei ter alma, que é semente do amanhecer, deixada na terra do meu amor. Vamos deixar a alma como ela é: nada mudaria na alma: ela pertence ao tempo, deixado por mim, para sentir a alma. O mar da escuridão é amor. Nossas almas unidas ainda não fazem nascer a vida. Quem de mim ou o que de mim é sombra da perda da vida? Quem de mim ou o que de mim me faz me ver? Chorar do adeus é me ver. O cuidado com a alma é o mundo interior. Ver sem o mundo interior é ver com a alma. O mundo interior é a ausência, o descanso da alma. Ver não tem pausas. Ver são as asas da imaginação, voando de eternidade. Até encontrar a vida em ver. Não ver é ter a vida sem encontrá-la. O não ver vê a alma. Ver é presença inexistente em mim. Ver não é saber que vê. É algo interior que me liberta das trevas. O silêncio é um olhar eterno, vem do fundo da alma, para a vida. Para a vida, a alma é superficial na oração de Deus. A intimidade com Deus, não precisa da alma para atrapalhar. O silêncio é a eternidade do amor, envolve o nada de vida. O nada é o absoluto, o pleno, sem sonhos, apenas um resto de escuridão. O nada nunca será escuridão.

O sonhar da alma

A alma fez-se sonho. O fim é o ofuscar sem sonhos. O brilho obscurecido com o nada sonham juntos e removem a realidade para o sonho. Sonhar me une à realidade. Conheço o fim de uma realidade pelos seus sonhos. Conheço a saudade pelos sonhos, a desconheço na sua realidade. A realidade é a união de sonhos. São todos os sonhos juntos: é mais do que o infinito, é mais do que morrer. É muito mais que o silêncio da flor. Apenas o silêncio da flor floresce a alma, como sendo a vida do sol. Esquecer não é só é lembrar. Sonho na lembrança, sem o tempo de sonhar. A alma é o tempo que preciso para sonhar e deixar de sonhar. O depois do acontecer é o amor. O silêncio transborda palavras que pronuncio sem nenhum pensamento. O real é um pensamento não perdido em existir. Faço do sonho um lar eterno, onde sou eterna também. Na eternidade ver é continuar do sonho de ser. É o amor, o fim da eternidade. E se eu sou eterna sem sentir? Falta o ser na eternidade. O ser em si é a morte. A morte sem eternidade é como o mar. Mas o mar não é como a eternidade. O sonhar do mar alcança apenas a mim. A saudade do mar é saudade de mim. O morrer sofre a minha morte. O corpo dormente é a presença da alma em mim. A alma torna o corpo eterno. A eternidade ama o nada até morrer desse amor. Até sem forças não poder amar mais o nada. Morreu por não poder mais amá-lo. A eternidade é o amor ao nada.

A luz da transparência

É incrível nadar na luz da transparência me afogar e desafogar em verdades íntimas. Verdades jorram amor. O fim não fracassa, somente pode ser o fim. As palavras são tantas e a transparência tão inexpressivas que a palavra é mais que transparência: é amor, poesia, é a vida sonhada na vida existida. A escassez do tempo é a transcendência da transparência das palavras. A escassez dá vida às palavras, sem a transcendência, sem a escassez do tempo, é amor. A luz da transparência transcende em mim, com a verdade, intocada dos abraços. O sonhar verdade não é a verdade. A arte cessa com a morte. Eu não cesso com a morte. Mas a morte tem a minha poesia, minhas palavras, minha essência para ela. Não preciso me preocupar em ter essência: sou livre sem a morte! Para que ser livre? O que significa liberdade? Liberdade é ser só? Por detrás da liberdade, a vida me espera. O que é melhor: a vida ou ser livre? Não sei. Sei que nada é livre se é sentido por um ser. O ser é livre para não ser eu. A vida não é livre para não ser vida. Emprestei ao céu minhas certezas. O céu não precisa de certezas e sim de amor. O que poderia escrever sem o céu? Nada. Eu brinco de sede com a minha ansiedade, reinvento vidas, saudades perdidas. Mas não posso inventar a presença, se ela não existe na alma, não existe no amor. A luz da transparência é o não existir da presença: continua a partir eternamente em mim.

Surda inquietação

O não escutar é o mais íntimo da alma: é como não escutar o nada no infinito. É a eternidade com sangue frio. O não escutar é a vida. O ser do ser se escuta no nada do querer. É inesquecível nada escutar para não sentir o silêncio da alma. Essa inquietação é a alma da surdez do silêncio. Apenas a alma sonha em silêncio. O silêncio caminha luz, respira luz, ama luz, nasce luz.

A divindade de ser só

Não se desaprende a morrer. Aprendi com a divindade de ser só, que é impossível morrer. Morri junto do meu sofrer. O que não dói dói dentro de mim, como a morte a dançar. A dança da falta de alma tem apenas pensamentos bons. Esses pensamentos separam a alma da morte, do teu adeus. Por que a morte tem que aparecer na minha solidão? Eu, a distância, é a falta do pensamento. Não há distância no pensamento. O ser distante de si é alma. O ser em si é o apagamento da alma. O tempo é o que resta do meu ser.

Nascer pela metade

Metade de mim não nasceu, é saudade das coisas que estão sendo vividas. Sempre, sempre, apenas para amar essa saudade. Saudade é fazer da falta de mim, amor. Eu amo pela falta de mim, como uma estrela sem céu. O nascer é metade alma, metade devaneio. O nascer é o não ver do outro. Nascer pela metade me faz morrer, deixo metade minha, minha única metade para a consciência. A consciência do amor é sem saída. O nascer ajuda a morrer. O nascer é a falta de mim. Tudo que morre nasce eternamente, como a voz que gira para falar, para não esquecer o que sente. A falta de nascer ecoa dentro da fala. A superfície da fala é o amor que se torna profunda não sendo escutada. Eu escuto sem mim, me derreto no ar que respiro: penso ser isso profundo. Nascer pela metade é todo ar que consigo respirar. Nascer e morrer são a mesma metade que se une, a mesma alma, o mesmo ser, o mesmo fim, sem o adeus, que viveu sem nada de si: não é nem metade dele mesmo. O que faz morrer não nasce, fica nos escombros de mim. O amanhecer não precisa lutar por mais um dia, precisa penetrar, amar os que realidade não tem. O olhar do outro me faz não cair no abismo da minha subjetividade. A subjetividade é a morte aparentemente possível em mim. A morte, se melhorar, se estraga. O abismo da minha subjetividade me ensina a morrer, sem sorrir. O nada do olhar é o que nunca sou ao morrer.

Pai

A vida existe apenas no teu silêncio: presença eterna de depois. As palavras surgem para te amar, mas ainda é impossível te amar ainda mais: mesmo em palavras!

Pai

Sinto tua presença. Te amo na maior das ausências. Gosto quando me toca com a alma, apenas ali quieto, esperando terminar o trabalho para me dar atenção: ela é você. Com você perto, tenho o mundo, o universo inteiro de amor. Preciso sempre te amar além da vida. Quero que o infinito seja pouco nesse amor. Quero sentir minha alma na tua. Nasço de ti sempre.

Com amor, Liz,
sua eterna filha.

O nascer do nascer

O ser sem amor é o nascer do nascer. O outro é sem palavras, no amor que necessito: ainda não é meu. Tudo é real nas palavras. O silêncio surdo de silêncio e resignação. A folha é o silêncio escrito. Dominado e amado. O nascer do nascer teve que existir, antes da existência. A vida sem silêncio não existiria. A linguagem da vida somos nós. A lembrança é a falta de linguagem é sair de mim para o mundo. O mundo fala só com seus medos. O desespero é a certeza da alma voltar para mim. Nascer é o negativo do ser. Sou um ser, mas nunca nasci. A incompreensão da realidade é a realidade. O tempo é a realidade, não a vida. A infertilidade da alma é a vida. Escutar o além da vida em mim, me faz viver: não me deixa morrer. A alma serve de vida para quem não tem vida. Vida, necessito de ti, mesmo com alma. O sol sente vida em mim, mas não sinto. Ser não invade a alma. O ser não busca a alma. O ser é alma de si mesmo. Faça-se luz sem entranhas. A ternura do nada faz minha alma amanhecer, não de alma, mas de sol.

Abstinência da realidade

O corpo da alma é o nada. Viver sem a realidade é meu despertar, sendo eu, a consciência do mundo, da vida. Me fiz nascer em palavras admiráveis, parece até que nasci escrevendo. Apenas para não ter a realidade, ela vem a mim até em poesias. Desapareci na realidade para ter a mim. Mesmo sem realidade. Realidade é ser só. Estou só, por isso sou plena. Plena de tristeza. Mesmo assim, a tristeza me esvazia, me faz pensar no nada, que é a falta de sofrer. A depressão é a ausência de mim. A luz lateja em meus olhos, suplicando um pouco de escuridão. O céu é a escuridão do destino. Penso no que vai ser dor na dor. A dor de ver é como gerar um bebê morto. Ver a imagem morta é ver o puro, o simples, o natural. A imagem morta é mais sensível do que a imagem viva. Não há imagem em ser vista, vejo na imagem a esperança de ver. Não vou desistir de ver as coisas como me vejo. A esperança vê com a alma. Tudo desaparece sem ser visto na eternidade, por isso o desaparecer é eterno, como o sol. Inovar a eternidade, a inspirando com poesias. Eternidade: a nossa imagem dá vida ao que ela vê. A imagem vê o que não posso ver. Apenas a imagem sorri, encantada, com um mundo sem imagem. Imagem é o fascínio que existe entre o visível e o invisível, é o nada. O nada não é visível, nem é invisível, é uma simples imagem. Eu não vou mudar por ver. Ver não sou eu. O silêncio não vê a alma. Escuto a alma dentro de mim. Não sei qual o infinito do céu e o do mundo. Para mim, tudo é apenas infinito: feliz. Escuto as lágrimas do vento a despertar o amor pela vida, adormecido em mim. É impossível clarear o sol com a imagem do céu, o olhar clareia o céu. Sangrando por dentro de mim, estou livre para viver a minha solidão. Adeus. O adeus sem sonhos não é um adeus. Meu corpo é meu mundo. O adeus é o fim da plenitude, não o meu fim. Foi dando adeus a mim, perdendo a alma, que me tornei minha vida. Mas, mesmo assim, não me sinto eu. A alma aperfeiçoa o meu não eu. Sinto falta do nada. O não eu é a minha reflexão, como o mar descendo suave na rocha. A alma do mar são as pedras se unindo pelo mar, pela natureza, a enfeitar o céu, as estrelas, para esquecer seu amor, sua imensidão: tudo pelo infinito. O tempo do infinito sou eu a viver. A vida sofre ao amanhecer. O adeus ao corpo deixa o céu subtendido. Estou cheia de intenções: estrelas devem amanhecer. O corpo do outro é o meu corpo, e meu corpo é a subjetividade do outro. Não é somente subjetividade, é vida, o amor na solidez do nada. Meu corpo não pode provar ser um corpo. Sente-se um corpo, não sendo. A abstinência do corpo é a realidade da abstinência. O corpo é a diferença entre o ser e o nada. A vida não lembra de mim, não preciso que lembre. Nada necessito da vida, além de escrever. Escrever substitui a vida. Sinto falta de escrever escrevendo. A morte me mata para ficar com meu amor, minha vida para ela. Abri meu corpo para morrer sem sentir. Amo como se fosse a vida a amar. Amar como o mar e as estrelas. Amar sem o infinito, no infinito. A distância da vida é o sol apaziguador. Costurei-me sem dias vazios, me sinto remendada em vazios extremos. Mãos de sol, na chuva do tocar. Abandono a alegria para ser feliz. Afundo em mim para vir a superfície de mim. Sou apenas uma imagem.