Não há o que fazer com a morte: nem inexistência é. Inexistência é quando tento amar, ser, diante da vida, não diante de mim. A inexistência é a única coisa que escuto: não me deixa só. A inexistência é o sol que surge do nada e torna tudo feliz. A alegria é vazia, perdida em si mesma. Apenas a inexistência preenche a alegria: torna as coisas inexistentes, ser a vida que necessito. A inexistência é impossível sentir, por isso a vivo: pelo mundo, pelas pessoas, vivê-la até pela vida. A vida se foi: foi mais inexistente do que a inexistência. A vida é a inexistência de cada um. Tudo é individual na vida: menos sua inexistência: ela é igual a minha. Mesmo assim, não sei o que é a vida: às vezes penso que ela não existe, nem mesmo pela inexistência ela existe. Existir sem a vida é um pedaço do céu em mim. As mãos, inexistência do corpo, são mais do que corpo: são alma. Vi a inexistência se fundir na minha alma: apenas assim senti que não morri: sou vida do sol, do tempo, do amor. Não consegui ser minha vida: queria partir com o amanhecer, sonhando com a vida: sendo mais do que devo ser.
O que é a vida? |