Blog da Liz de Sá Cavalcante

Remendos da alma

Ficar é amolecer, sendo as entranhas da alma. Não ver é o infinito, tanto para ver, sem imagem, sem vida, sem amor. Ver faz bem à alma, preenche a alma. Ver sem o interior é ver com a alma.

Remendos da alma

Ficar é amolecer, sendo as entranhas da alma. Não ver é o infinito. Tanto para ver, sem imagem, sem vida, sem amor. Ver faz bem à alma, preenche a alma. Ver sem o interior é ver com a alma.

Realizações são alma

A fala é subjetiva na concretude da palavra. O descaso, o desprezo é a morte. Para a lembrança permanecer na escuridão, a lembrança tem que ser luz. Luz na escuridão é o amor infinito. A alma se realiza sem amor. O amor torna a voz canção. Uma canção não precisa de palavras: o desaparecer do som é uma canção. O tempo e o vento se escutam, se amam. Domino a realidade com amor: sinto a harmonia do tempo e o vento. Sinto o cheiro do vento no tempo, a perfumar o meu amor. Nem tudo é bom na alegria. O amor fica em mim, mesmo ao partir. Mas, se o amor for apenas Ausência, não pode ficar ou partir. Sofro pelo nada do amor. Não se pode querer a alma, ela é uma estrela do céu, distante de mim. O céu desmorona em meu olhar, me faz feliz.

A palavra no adeus

Adoro a solidão, a desaparecer nas minhas cinzas. Solidão é amor, palavra no adeus. Conheço a solidão sem adeus. A rejeição da fala comigo é a fala sem adeus. O adeus pertence ao nada do conhecimento. Fala no adeus, que não consigo ter, ser. O nada se fez fala em oração. Não sei a origem da palavra, o que a faz ser. Eu sei apenas clamar sem palavras. Nada existe sem palavras. A palavra, lembrança que cega o sentir, como uma alma que vê a si mesma, em mim. Por mim, a escuridão é a lembrança da alma, onde a alma se vê em todos. Morre, alma, para me ver como vida. Criar a vida, sem imaginar, é a alma agindo em mim. Não há mais dor, sofrimento: há vida na alma, onde preciso dar adeus à palavra, para viver. Dentro de mim, é vazio, é vida. A dor é uma vida sem sofrimento. Mãos de papel nunca serão palavras. Mãos que se desprendem do corpo para respirar a agonia do céu.

Aos poucos

A lentidão de viver é deixar a vida aos poucos. Aos poucos, minha alma penetra no fim do sonho para ser real como o sonho. A incerteza é um corpo dentro de outro corpo, onde não importa a realidade do corpo. O sol vai se acabando de luz, sem morrer. Quando o partir ficar, vai haver a vida. Uma vida sem partir me faz morrer. A vida está em decadência, sem partir. A presença da vida me deixa sem alma, na alma do outro. Desce, alma, do teu pedestal, tua glória é para que eu te sinta mais do que a mim. Deixa eu morrer no teu olhar, na tua alma, para não morrer em ti. Morrer em ti é amor. Tua sombra, minha sombra, neste eu sem você. Se unir nossas sombras, seremos separadas pela vida, pela morte, por ti aceito te perder, se assim ficar feliz não se perde a alegria: ou é ou não se é feliz. A alegria é impermanência da vida. O sonho é a permanência da alma.

Identidade

Minha identidade é escrever quando não há mais mundo, vida. Mas ainda há vida nas minhas mãos, elas não param nunca. O difícil é saber o que são minhas mãos, e o que sou eu. A sensibilidade são mãos que tocam o nada e se tocam no nada de si. Não há amor em ser: há destruição. O ser não tem identidade. Mesmo assim, a abandono para voar, livre, no abismo de mim. Vou deixa o mar do meu corpo na superfície do nada, onde o céu se prende à realidade no fim do fim. A realidade cessa o céu de esperança.

A falta de ser eu

Medindo minha morte, no meu nascer do morrer: é o meu respirar. O olhar é para toda vida, para toda morte. A solidão não faz parte da vida, faz parte da morte. O ser não pode ser só. Não existe solidão no ser: existe a falta sem o ser. A falta de ser eu é a eternidade. Um sopro de luz escurece a eternidade. E o silêncio se aproxima da realidade. A tristeza são palavras. A palavra distante e escutada como proximidade sem adeus. O adeus sobrevive ao tempo, a esse nós sem ninguém. A sombra da ausência é meu único sol. A escuridão é feliz na falta de ver a escuridão. Os passos da morte são meus olhos em busca de mim: busca inútil. Os olhos são a lembrança do nada a se tornar eternidade do fim. O que está derramado vive como passarinho, na falta de mim.

Congruência (harmonia)

O ter sido é a vida, é o céu, as estrelas, ser ouvida é como viver além das estrelas, além de mim. O vazio é a consciência da vida no mundo. O céu fala estrelas. A dor da estrela: o céu. Nenhum detalhe, apenas a vida. O amanhecer é lindo na falta de sentimento: é o espírito. A vida é consciência sem passado. A saudade é o fim do tempo, que envelhece comigo. Desligo-me da vida, ficando em mim. O tempo que fui é o tempo que sou, na morte. Sou sombra de mim. Um dia serei sol. A morte não espera que eu morra, mas transcenda nela pela sua escuridão. Não apareço nem em sonhos. A vida prejudica a alma, sem eternidade. A eternidade desaparece sem lembranças. Apenas a alma descansa sem ausência. Descansar na ausência é morrer sem sono eterno. O que falta em minha vida não falta a mim. Falta é o reconhecimento eterno: morri sem faltas.

Após a morte

Após a morte, um sol digno de ser só. Ser só é amanhecer. Vou realizar o nada com amor. Tudo passa, até a velhice, a morte: o amor fica. Após a morte, o silêncio não existe mais, se torna céu.

O nascer da morte

As palavras absorvem a alma e morrem. A morte é descartável no ser, não na morte do ser. A morte é a espera infinita de mim. O ser é essência da morte. Ser o infinito da morte para me esquecer. Nasci da morte e a morte nasce de mim. A lembrança é o tempo que se foi: sem morrer. A verdade é a alma. De mim, restou minha alma. Olhar, sorria em mim. Divida o momento com o amor. Mesmo em mim, fiz do meu olhar o mundo. O mundo que meu olhar nunca vai ser. Um dia o mundo terá um olhar. Não mais precisa ser meu olhar, mesmo não sendo. O olhar é realidade provisória. Tocando o meu olhar com o mundo, não vou desaparecer. O nascer da morte cessa com a morte.