Blog da Liz de Sá Cavalcante

O extremo da solidão

O entrelaçamento com a morte é meu último olhar para a vida. Vida é vista sem o olhar. O olhar me deve o ver exterior. Nada se vê na alma: ver apenas a vida. A solidão me recupera. Tudo na solidão se renova como véu. Durante o céu, a solidão é sagrada. Um retorno ao nada, do qual não poderia ter saído.

O negativo do nada

O espírito interior é a vida. Foi tão bom viver, não senti o seu fim, nem mesmo pelo negativo do nada, sem significado algum. Meu corpo, significação eterna da minha poesia da vida escolhida por mim.

Maravilhoso

É maravilhoso me sentir sem mim, assim sinto melhor os outros. O nada, leve, ao chorar o nada. No amor é preciso amar o nada de ser. Para o ser, o nada é a essência do céu. O céu é a única razão de Deus. O ser é a desrazão de Deus. Nem apenas de razões a vida necessita. A vida nunca está só. O ser é só pela lembrança de ser. Ser são flutuações do infinito.

O mortal e o imortal no ser

O melhor amor do mundo é ser mortal ou imortal no ser. Mortal ou imortal estão longe da realidade. A realidade é minha alegria, não faz nada, não vive sem mim. A tristeza é um vulto da presença da alegria na imagem da alegria. A alegria não é ver a vida como sendo eu. Alegria é ver vida em todos: até nos que não tem alma, ou não sabem amar. O fim e o começo de tudo é a vida. A vida é um fim no começo de ser. Ser é mais do que vida, ser é ser. Até em Deus, o ser não deixa de ser. As alcovas do céu são flores no mundo. A vida é o intermediário entre o ser e o mundo. Entre o céu e o mundo a existência do ser: sem o ser. Não posso isolar a existência do mundo, que é o meu não ser. Amar aos pedaços é ver o céu em mim. Paro tudo para viver, pois a vida nunca é sem amor. A vida é uma mãe: sempre me ama, até no meu desamor. Cinzas de sol, lua, estrelas acalentam o amor do céu.

O que vai ser da vida?

O mundo não percebe: sobrecarrega a vida com ilusões que não são da vida. A vida apenas quer morrer. Ficar nesse instante sem paz para não desmoronar.

O que fiz de mim?

Não mais importa o que fiz de mim, tudo será eu um dia, quando eu morrer. Minhas poesias serão o coração de alguém a viver. Vida, foste e é meu universo: universo de poesias. Escrevo a mim, não escrevo palavras. Tudo em mim é poesia. Desisto de mim, não da poesia. Poesia é nunca viver. É sonho transcendência, é amor. Com o tempo, vou esquecer a vida que não vivi.

O silêncio do silêncio

O silêncio do silêncio é a imagem de Deus. A margem do silêncio são as palavras. Não sei mais as palavras: me sinto em palavras. Mas não sinto o seu fim: a poesia. Como traduzir a alma como palavra? Seria o fim da alma e o nascer da poesia, onde a ausência inexistente pousa na minha alma, sendo alma da alma. A alma só não se revela só. Espera tanto de mim a alma. Não espero nada de mim. Espero da alma, do sorrir da vida. Vida, nunca será alma. Eu fui tua alma, solidão, me encontrei em ser tua alma, não posso ser sua poesia. Poesia é minha única essência, meu calvário. Olhos são o nada que vê a vida: torna a vida meus olhos. Meus olhos silenciam a alma e expandem meu interior. Meus olhos são meus sonhos: me inspira a ver o que não vejo, que era para eu ver. Depende da minha vida vê-la mesmo sem vê-la inteiramente, um pouco de vida me faria ver quem sou, viver. Apenas a imaginação me faz ver, apenas a imaginação respira por mim. Me vê como sou. O silêncio é o respirar ausente de mim. Não preciso viver, se posso me imaginar na despedida do fim, que é o fim.

O amor é uma canção surda de amor

Nascer o perdido em mim, como o amor numa canção surda de amor. Paro tudo para viver, pois a vida nunca é sem amor. A vida é uma mãe: sempre me ama, até no meu desamor. Cinzas de sol, lua, estrelas acalentam o amor do céu.

Ressuscita-me

Olhar o sol, as estrelas, me ressuscita, me fortalece: é como ler minhas poesias, como se tivesse a emoção de escrevê-la, eternamente, eu e só. Não dá para misturar a alma no ser. O ser é estagnação. A alma é sentir ao viver, ao morrer. O resto são cinzas do tempo, jogadas fora no esquecimento: única realidade em mim. Preservo a realidade da falta do tempo, como se fossem minhas mãos ao escrever, o ser que preciso ser.

Luz observadora

Eu não vejo a luz, a luz me vê pelo nada das estrelas, fere mais que o sol, que o céu em mim. Nada é pior que a falta do céu. O céu dá vida a vida. O céu são o sorrir no que fui, no que sou, no que serei. E assim a vida se torna mais feliz. O instante é uma luz confusa, que não me deixa raciocinar em viver. O que seria da vida sem os instantes? A única coisa que não perdi da vida foram os instantes. Mais instantes, menos vida e a alegria seria perfeita, sublime até na solidão.