A solidão é a continuação da vida, inexistente em mim. A inexistência não é só: tem o amor de Deus. A inexistência é um abraço emendado no corpo: assim, o amor pode vir e partir, se precisar.
A determinação em mim |
A determinação em mimA solidão é a continuação da vida, inexistente em mim. A inexistência não é só: tem o amor de Deus. A inexistência é um abraço emendado no corpo: assim, o amor pode vir e partir, se precisar. |
A alma do pensamentoA alma do pensamento fez-me ser na alma existente em mim. A alma do ser é o luto de um adeus. No adeus vou recuperando a minha vida, numa vida sem adeus. A alma do pensamento cabe no sorrir. A montanha fala no meu silenciar, assim há sol, há vida. A distância faz da montanha a proximidade de ser só. |
A contemplação da alma é o serO nada sufoca-se e o tempo para, com a alma. A alma se torna o tempo. O mundo é a alma. A presença deixa o espírito em mim. A solidão é o único espírito que cura: não existe Deus sem a minha solidão. O espírito morre e o espírito da solidão permanece. A alma é o fim do espírito. O trabalho de deixar a alma é o mesmo de a ter. Deixo a escuridão na alma para ter o não viver na luz da consciência. Consciência é solidão na plenitude de ser. O ser não é consciência: é o fim da consciência da saudade. Minha consciência é quando a vida me sorri. O movimento do meu corpo é a alma: como sendo a inconsciência de um adeus. O adeus é sem alma. A vida está em mim, sem ausência: no morrer da alma. Fragmentos me tornam um nada sem fragmentos: é apenas o infinito em mim. O fim é inteiro. Fico para não olhar a realidade: ela significa tanto para mim, que não necessito olhá-la: sei que está em mim, mais do que na vida. Penetrar na alma é um vazio esquecido há tanto tempo, que se torna saudade. |
PessimismoA morte é nada para mim, no negativo da vida. Viver é tortura: se ao menos sofrer fosse real, para eu confrontar o sofrer: Deixar de amar o sofrer. O não é essência sem dor, sem sofrer. O ser não precisa de mim: sofro por ele, não sofro por ele não me amar: valorizo sua ausência: ela é o seu depois: seu depois sem mim: restou apenas o ouvir sem ninguém na eternidade da fala, tão só, tão plena. Nenhum ser tem a plenitude da fala. A fala é plena sem o ser: o ser nada acrescenta a fala. O universo é uma fala desencontrada. A alma é mais pura dentro de mim. Alma é poesia, desalento. A alma nasce do nascer eterno. A falta da alma é onde nasce o ser na alma. Que alma renasce em ser? Como posso chamar a alma de alma? Tudo pode ter o nome que for, mas nome não é identidade quando me aproprio da alma, podem me chamar do que quiser: agora sei que eu sou eu na alma. Talvez eu seja realista demais no amor: isso me faz ser real no amor. Não é pessimismo necessitar da alma: é amor. |
A palavra pode morrer, o meu ser não podeExistem palavras invisíveis no meu ser, que existem apenas em mim. Sem palavras, minha fala é sonhar. Interagir com a vida é dar vida ao nada. O desaparecer é o sol, na ausência de Deus, é a vida, a aparecer para si mesma. Voltar a mim no desaparecer. Desaparecer é o amor do céu entre estrelas. O céu se fez em estrelas. A estrela, a espremer o vento, descobre a vida sem o céu. |
A gravidade da morteA certeza de ser me mata. O dia é mais do que a vida. Nós nos abraçamos, mas não tocamos o abraço. A percepção do amor é o nada como minha presença, não é para ser tua alma. A alma nada é na minha presença. Deixo a alma me invadir, esquecendo a minha presença de mim. Em mim. Alma, teu partir sou eu. A presença é o pior esquecimento. O céu sem presença é lembrança eterna. |
O revigorar da faltaO tempo de sonhar é o meu corpo, no revigorar da falta ao menos meu corpo é eterno em mim, na falta de mim. A falta é um corpo sem o ser. O ser se impõe ao morrer. A voz beira a consciência. Manter a vida na consciência é difícil. O silêncio sorvendo as palavras envolve a vida, protege a paz. Prefiro a paz de morrer. Morrer é falar infinitamente. Sou igual a mim, quando falo, amo. O ser não tem natureza do ser. A mim, posso esquecer: o esquecer é apenas a minha sombra: não sou eu. Poderia entrar dentro da minha sombra, no meu não eu. Mas teria que sonhar comigo. Sonhar é fácil, parar de sonhar é difícil, raro. Tudo é sonho. O sonho beija a poesia, e a poesia deixa-se levar pelo sonho. A tristeza é um sonho. Tudo começa no fim. O olhar começa a ter um mundo próprio: longe da minha solidão, do meu olhar, que não consegue ser só. Enfrentei a realidade sem me ver. Ver é tudo que sou. Ver é saudade que passa: no abandono. Abandonar-me: me dando ao céu. Se o céu adivinha meu sofrer: em amar. Sofro sem o céu, as estrelas, vivendo em poesia. O céu, as estrelas, não podem viver. As palavras ressoam a morte em estrelas, que escapam do tempo, na luz do amanhecer. Foi assim que o silêncio se tornou paz. A paz que morreu abraçada comigo na minha paz. |
O sentimento da falaDeixo o se na consciência da fala, para o sentimento se sentir só, sem mim, para sentir falta de mim. Eu sinto falta de sentir, sentindo. O tempo é o amor que sinto. Sentir é um amor que lembra a vida. O sopro das mãos é a poesia, sem o sentimento da fala. O sopro das mãos morre na fala. O sopro das mãos são mãos que vivem. Vivem para escapar do corpo. Um corpo sem mãos gesticula a fala no ser. Eu não falo pelas minhas mãos, mas falo no meu ser. As mãos são o mistério da fala. Todos são meu corpo, minha vida. A vida se perde dentro do corpo. O corpo se faz ser pela dúvida do ser. A falta de ser é o corpo. Há corpo no pensamento: o corpo da vida. Nada parece ser nada sem aparência. A vida é a aparência da morte. Posso deixar a aparência vazia: ela continua aparência. As aparências não enganam. O inesquecível da aparência é sem aparência. Viver a vida como a vida de mim mesma. Escrever é sorrir na alma. A alma ajuda Deus a compreender o ser, nas faltas de Deus. A falta é um Deus tão profundo, tão intenso, que harmoniza minha morte, para ela não me faltar. Falo com as mãos. |
Para o não verdadeiro, nada souO nada não precisa de acontecimentos incertos, alma incerta para ser vida. O amor é mais que incerto: é incerteza a alma vem do exterior para o interior. Conheçam-me no oculto de mim, que não se perde em alma. Ser só é abstrair as nuvens em algodão de alma. |
Sem alternativaQue opção tenho, além de viver? O que falta à saudade para ela existir? Posso existir na saudade? Qual saudade permanece em saudade? O que a saudade fez pela vida? Torna-a humana. Que lembrança a saudade me traz? Não sei, mas a saudade é como o mar: sem destino: olhos abertos, como sombra sem vida. A vida é o que partiu sem nunca ser. Ser destrói o amor. Amando, a vida se refaz. Nada oculta o raciocínio: ele é sem ser. Partir do céu é não existir, nem como estrela. A estrela não existe para o céu, vive no céu, na distância dos abraços transcendentais. Deus abraça a si mesmo, na falta de vida, do conforto de ser amado. Sem Deus, estamos em nós, nascemos mortos. Esse nós é Deus. Tudo desperta a ausência. Se a vida é minha ausência, não sou ausente: sou a espuma do vento. Sou a tua liberdade de nada ser. Onde está Deus na minha liberdade? Na falta de Deus? A falta de Deus é Deus. Se não há falta de Deus, como Deus criou a si mesmo? Criar é falta de algo no que se criou. A criatividade é amor. A lembrança é o fim do amor, com ele morto antes do fim? O que posso esperar do amor? Que a poesia se encante com meus dedos? Que o sorrir, sendo eterno, escape dos meus dedos, me torne um ser. A poesia sorri sem sorrir. A alma se foi sorrindo para as poesias. As poesias aprendem a sorrir. Sonho sorrir poesia. O sorrir devolve as lágrimas, sua vida. Preciso das lágrimas em mim, mesmo a sorrir. A paz é apenas um instante perdido sem amor. A fala ama no que o ser não lhe sente. O ser vive sem a fala: no amor. A fala sem amor ama. Não há passagem para um espírito dentro de mim. Ou sou um ser ou não sou nada. |