Confundo lembrar com morrer. Ninguém continua a lembrar para amar o esquecimento. Esquecer é uma atitude, uma escolha. O esquecer é um céu de luz. Confundo-me comigo mesma. A morte não lembra que morri. Eu lembro que morri; lembro sem mim. O nada é minha alma. A solidão é alma. Meu medo de morrer é que tudo tenha sido uma ausência, sem culpa, pois precisava existir, como a vida, o céu, as estrelas. O nada suspende a ausência no infinito de mim. Quem precisa do infinito na ausência? Ninguém. A ausência é meu infinito. Que adeus se pode dar ao infinito? O infinito dos olhos é mais do que infinito, é a morte que torna meus olhos eternos ao cessar a vida. O silêncio é a lembrança da vida. Confundo ser com estar sendo. É inconfundível a morte. O nada limpa a mente; os pensamentos a poluem. O nada não tem dificuldade para ser um ser: o ser tem. A escassez do tempo é a única eternidade. Meus olhos são eternidade que não pertence ao tempo, pertence apenas a mim. Entre tantos fins, mesmo assim, quis ter olhos, mesmo sendo para ver o fim que nunca existiu, nunca houve vida. Ver é falta de viver, de vida. O nada é a visão do mundo e torna a vida invisível. A vida existe em si mesma, no nada. O ser é a superfície da vida. Este desassossego da alma é minha paz. O nada é a paz de Deus: paz sem alma. Esquecer a alma é lembrar de mim. Meu coração é alma. O tempo é solidão da alma, do céu, de Deus. Minha solidão é a morte. Morrer é ter o céu em mim. Sonhar é apenas um arrepio na alma. Saindo de mim, sou eu no indizível de mim. O desconhecido de mim é o que se diz de mim. Rótulos do amor? No sonho, eu mesma falo. Nascer é estar isenta de mim, sem separação. Nascer é estagnar-me, é não ter sonhos, é perder a consciência de viver.
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