Blog da Liz de Sá Cavalcante

Desmoronar

A coragem de viver ou morrer é apenas o fio da morte a se romper sem meu respirar, sem que eu me apague totalmente. O amor não pode morrer mais do que a morte! Quero descobrir a vida sem a vida. Vida é saudade de pensar como me sinto. A dor é um vício. Nada é tão só como a morte. Se você vivesse a minha vida, seria como o sol, nascendo pra mim. Viva comigo a minha vida, o meu sentir, pra que eu não sinta falta de mim. Caminho sem caminhar, para a vida me seguir. O caminho não é o mesmo, deixado pelo amor. Não há alma mais bela do que a morte, que empresta sua beleza para a vida. A vida não é bela como a morte. Quando o afastamento da vida é real, posso morrer. Vou morrer como se cantasse minha alma. Desmoronar, presença da vida que vai além da dor. A vontade é como o sol nascendo. Quando o sol não nasce, a vida me sorri. Encanta-se o sol por iluminar a vida, como se a vida fosse o sol.

Discordância da vida

A alma é o desânimo do meu ser. Há momentos que são mais de salvação do que de vida. A alma está no que bebo, no que respiro, por um instante perdido, sem perdas. A única perda é sem a salvação de viver, mas cheia de esperança. No lugar do amor, um abismo sem fim. Preciso escutar o outro ser pela esperança do amor. Escuto o coração, o amor, não o ser. O nada da ilusão é o mesmo nada da realidade, onde tudo se desfaz, no nada das lágrimas. Para me libertar de criar, tenho que não chorar o nada da alma. O chorar é a inexistência da inexistência, onde o sorrir é apenas o ar, a brisa, o adeus do que não é possível. A alma não chora, declama palavras, como se fossem poesia. É difícil dar um fim à inexistência. Deixo a existência não ser eu. Morri porque esperava algo da morte, até perceber que ela é apenas sombra do meu passado. Não se pode morrer duas vezes, meu corpo não está preso na sombra, ele é essa sombra que encanta a imagem carente de sombra. A vida é a sombra da alma. Algo da morte está em mim, está em toda imagem. Tudo, em toda imagem, é morte. Socorrer a morte é me salvar de mim. Morrer faz parte da imagem, como o mar que transborda seco. A alegria de voltar ao mar, renovação da vida, que também é morte. É morrer no desapego eterno de morrer. Morri, quando não quis mais morrer. Talvez, seja a maneira que a vida conseguiu me amar.

Seja eu em mim

Seja eu em mim, esta seria minha última eterna poesia. Se eu morrer, não sou eu que estou morrendo, mas, sim, a distância de nós, que morre por nós, esquecendo de nós duas. Pela proximidade do amor, seja eu em mim, mesmo sem amor. O amor não é tudo, não faz viver, alimenta apenas a alma. Se a alma nascesse de mim, saberia quem sou, mesmo sem você ser eu em mim? A alma necessita que você seja eu em mim. Mesmo na alma, nunca será apenas eu em mim. Será possível construir a vida no amor, nesse muito, que muito nos falta? Quem sabe assim nos amaríamos enfim, mais sozinhas do que sempre? Pela solidão, perdi a vida, foi como perder alguém, para alguém, mas não pude perder minha vida em ninguém. Se a vida fosse minha única perda, morreria feliz. Perdi mais do que a vida nessa alegria de ser, existir. Qualidades se podem demonstrar. Mesmo ocultas e mortas, ainda são qualidades que determinam a vida pelo amor que sinto, que não devia sentir o amor como algo morto, uma qualidade sem valor. Amor é viver para morrer, o resto é ilusão. Fantasia de quem não quer aceitar o amor. Mas não é melhor viver em devaneio poético, que o amor existe, que morrer acreditando nisso? Ao menos, morreria feliz, sonhando, estar amando eternamente, como uma poesia, que não viveu o amor, viveu sua eternidade.

A objetividade não é realidade

O ser existe, pensa ter vida nele. A existência é o fim da vida, do amor, que pensei ser vida. Nada faz falta à existência, nem mesmo o amor pode surgir como existência. O amor nasce do amor. A dor, a tristeza, o passado, a alegria não substitui o nascer do amor, onde o hoje não necessita existir para amar o amor. A luta é a quietude que se torna o ser. O ser sem calma não é ser, é alma. O ser é o sentir da alma, a alma é o sentir do ser. A alma brinca de ser, o ser brinca de alma. Essa brincadeira é o cessar da vida. Simular a alma é ser imortal. Nada existe sem a inexistência, mas existe o acreditar que algo existe. Nada precisa existir, nem mesmo a vida precisa existir no meio do nada. Falo no meio do nada, não há silêncio no nada. Falo, respiro, para o nada ser nada. Não sei mais onde está meu amor, e onde está o nada. O nada desfolhando-se até florescer como vida. O nada é a reconciliação do amor na vida. A imagem do nada é eterna. Os dias fazem com que a vida não aconteça. A plenitude não se preenche, se dá, plena como a luz dos dias, que afoga as mágoas sem continuar a existir. Existir é uma forma de não se dar. Existir é o céu que se dá onde se dá. O céu é a passagem que se falta na vida. A vida não alcança o céu. A margem do céu é a nuvem quem distingue a solidão da escuridão. A consciência é o silêncio, por isso quero sair da consciência ao falar. Mas, nada me faz sair da consciência. Mesmo sem consciência, o ser muda pela consciência, ela o faz ser real, é realidade, não sendo a consciência, mas é a intuição do nada, que torna a consciência nula, para ela existir como sendo a alma. Nada pela consciência, é como se ela fosse útil apenas para sentir. O sentir é pensar nas estrelas, no infinito, para não ficar alheia a mim. Tenho dúvida do que é sentir, como tenho dúvida de senti-lo. Objetividade é uma maneira de não perder o sentir para o sentir. Não há realidade na objetividade. Cresci para me sentir como sou. Vale a pena crescer e esconder o que sinto no que cresci? Crescer é não ter nenhuma realidade, para ser eu de verdade. Ser é estagnação, minha ausência não é real, é a realidade me abraçando. Vivi mais realidades na minha ausência do que em mim. O amanhecer é a ausência de tudo, que clareia as trevas da alma. A morte não faz enxergar a realidade, cessa numa ausência tão plena que trocaria minha ausência pela ausência da morte, que é a razão de ser.

Tédio

Sentir sempre é o mesmo sentir, como o sol cedendo ao céu. Nem o céu sabe que é feliz, mas ele é feliz sem saber. É fácil olhar o infinito, difícil é olhar para o real. De real, basta a morte em mim. A realidade me entedia, faz me esquecer a realidade, como se ela fosse meus sonhos. No mundo de Deus, deveria ter céu, ter o que esquecer. O mundo de Deus é Deus. Ficar não é permanecer. O sorrir é a eternidade que falta na alma. Mas, eternidade na alma?

O som de se viver

Por tudo, através do nada, o som de se viver destruiu as paredes do sentimento, que não deixava o som da vida entrar dentro de mim. A consciência de viver está exterior a mim. A consciência é onde o ser se desconhece, mas conhece o som de viver, como se fosse a vida. A vida não tem o som de viver. O som de viver desparece na voz da alma. A alma não se parece com a vida, faz do som de viver seu silêncio. A alma é o unir de duas pessoas que continuam só, sozinhas, mesmo percebendo o som de viver dentro da vida. A solidão é o som de viver. A vida é a ausência do som. Essa ausência se mistura com o mar, com o silêncio do silêncio. O silêncio é o universo sem a vida, a traduzir o mundo.

Vida de areia

A vida se desfaz como areia no meu amor. Talvez minha vida seja apenas areia. O que desaparece na areia não é a vida. Meu corpo se desmancha como areia, como vida. O céu vai morrer pela vida que não teve. Minha dor invade meu corpo. O pensamento existe sem a vida, sem o meu ser. Gostaria de ser apenas o meu pensamento a despontar como um céu interior, tão rico. Não necessito ser meu pensar, se torna o céu real vivido como um sonho. A vida não existe porque nasci. Esta realidade me queima onde estou fria.

O sonho existiu como uma lágrima

A lágrima dispersando-se nos próprios sonhos como se o sonho fosse mais essencial que uma lágrima que pousa nos meus sonhos, para eles serem eternos. A parede falsa entre mim e o mundo é o meu vazio, onde há apenas uma porta aberta. Por essa porta, o sol não entra, penetra na alma, chamas acesas de viver. Será sentir a ausência da alma? Como sufocar uma ausência feliz? Nada mudou pela ausência, assim a vida se ergue do nada, como se o nada fosse o meu corpo. Meu corpo é uma lágrima não sentida. Por causa do corpo, perdi a alma te vendo sorrir. No teu sorrir, não existe meu corpo, minha alma, não existe eu. O céu é a minha inexistência, que não chora, não lamenta morrer. A alma colada na morte, mas o corpo quer viver de corpo e alma. Deixe que minha alma seja minha morte, para que ela seja meu fim. Borboletas voando na minha morte, como se elas fossem o céu. Assim, descobri o infinito de morrer por mim.

Inesgotabilidade é transcender

Não há presença, há dois amores: o da lembrança e o do esquecimento. Se completam, formam a vida, dividida entre o ar e o respirar. A respiração afunda no ar, apertada, como se também fosse amar. O sentimento consola a vida de sua inessência. A inessência do sentir é inconsolável. Essa inessência é alma da vida, do sentimento, que separa o sentir da vida. Deixa minha alma arder, para que ela se sinta viva em mim. O transcender trouxe a inessência para o amor. Não há nada para fazer na vida. Amar a vida com desespero não é amor. O amor é confiar na vida. Mesmo que a vida não confie na minha dor, ela respeita. Nada pode desaparecer sem a vida, nada pode aparecer pela vida. Mas, a vida aparece sem poder aparecer, se torna um nada. O ar sepulta, mata a vida, mas o que falta no respirar se tinha em vida. O ar fala pela eternidade do olhar, que respira mais do que eu. O ar derrama gotas do nada sobre o meu vazio. Nada no seco do respirar. Essa falta de mim que já me destruiu não pode mais me destruir. Espero que o ar volte, se aconchegue em mim e me devolva a paz de sorrir no nada dos meus olhos, que encontrou minha paz distante de mim, como um sonho. Não amei mais na forma que sonhei, por isso tomei uma atitude, que vai me fazer viver: ser feliz. Ser feliz como o ar que escapa do vento, para retornar a mim, numa alegria infinita, de tantas perdas, tanto amor, que não podem desaparecer pelo meu respirar, que já é tristeza, já é alegria.

Com o tempo, meu ser existirá

Vou me acostumar com o tempo de existir, mesmo que ele seja distante da minha realidade, de mim. Apenas o silêncio. Me escuto nesse silêncio. Se ninguém sonhar, o sonho se completa só, preenchido como uma vertigem, exposta ao ventre do nada. Nasci sem o teu ventre, sem o teu amor, sem o teu nascer. A vida ilumina todas as vidas, deixando a escuridão ser a morte dos caminhos, que não tiveram sorte de ficar em minha vida. Eu somente pude escolher um caminho: a solidão. Não há solidão maior do que uma escolha: escolhi ser só. A alma não me mantém viva, nem minha alma é minha solidão, nem o vazio é minha solidão. A solidão é o nada. O nada é único sopro de vida, a acalentar minha morte. A vida não corresponde ao meu amor, como um princípio sem fim.