Blog da Liz de Sá Cavalcante

O que nego e o que é negado 

Tudo desaba, o que nego não é negado. Por isso, cessa o desaparecer: é a afirmação da vida! Nego a vida, como se ela pudesse ficar triste. O que nego existe, o que é negado faz com que o que existe não exista mais, pela própria negação do que é negado. O silêncio é uma negação. A alma é a negação do ser! Tudo que vivo positivamente posso viver negativamente! Mas é a mesma essência. A alma vive para não viver, lembrar. O ser vive para viver no que esquece. Perdas só são perdas se eu sentir como perdas! O que há para perder na vida? Já que não posso viver, sendo a vida perda, transcendo no nada. A ausência de vida nasce, sem morte, sem solidão. O que a vida leva e traz de amor é a ausência do ser! Nada pode ser negado pela ausência, é como se a ausência tivesse que aceitar tudo, pelo ser, que ela não é. A ausência é dormência na alma! Se tudo fosse alma, ela não seria essencial! A essência da alma é não ser tudo, a essência do ser é ser tudo. Por isso, a essência é tudo, o ser é nada! A falta de alma é alma. A continuidade do pensamento é seu significar. Mas, a continuidade da vida nada significa para o meu amor. A vida nada significa, mas, quando estou a viver, a vida ganha significado, perde o meu ser! A falta de significado tem mais valor que o significado. A alma tira a leveza do corpo, o corpo é leve, nele mesmo. Às vezes, o corpo afunda na alma, e consigo enxergar minha fragilidade com alegria. Vejo que não preciso de nada para ser feliz! Até o nada é feliz, flui como alma! Se tivesse que viver, morreria como ser! A ausência é além da ilusão. Construída sem ausência, a ilusão não me ama, eu amo por uma ilusão! A morte manda na consciência, onde a ilusão é o meu olhar! A união do ser e o nada é a ilusão! Quando metade da vida se vai, a outra metade não permanece, nem como ilusão!

O tempo do tempo

O tempo do tempo não é o tempo, é a morte! Eu sou a distância do tempo, da morte, do amor que torna o tempo o que ele é! Amar também é perder o tempo para o amor. O tempo existe sem amor. Acordar é um instante perdido em sonho, se dividindo em saudade. Mas, saudade de quê? Me senti ausente de mim, da saudade que sinto, que sempre será presença em minha vida. A alma resplandece sem a alma, onde a dor é luz, que ilumina o resplandecer, como se resplandecer fosse alma. A paixão pela alma é escuridão, onde não se pode amar o céu, sem ir ao céu! O tempo do tempo é um céu que não se perdeu dentro de mim. O tempo não pode cessar, meu ser cessa, como o tempo que foi perdido em ser! O tempo não é mais tempo, é lembrança eterna de que nada existiu em mim pelo tempo! Existi sem o tempo exterior e interior, sou apenas eu em mim, sem tempo algum! A existência é a ausência do tempo, no tempo que ficou, a durar como sombra da ausência. A ausência é uma separação com a alma, no amor que ficou, sem ausências ou presenças, apenas eu, apenas nada!

A paz da vida não é a mesma paz da morte

A alma, partindo por sorrir, como se a paz da vida fosse a paz da morte. Percebi que não é a mesma paz, pelo desaparecer do meu pensamento, por dentro do meu amor! A saudade é um rio que corre sem água, na alma do nada, que não é vazia, como o rio que se perde num deserto de água, para satisfazer sua saudade, que não é saudade de mim, é saudade do tempo que se foi, no amor que sinto por ti!

Desamparo da eternidade

A eternidade do meu fim é a eternidade do meu ser, mas, sem alma, a eternidade é vazia, como sendo o valor, o significado de haver vida. Vida, foste a eternidade de um instante, onde a poesia me escapa, como uma falta! Não é fácil ser feliz pela eternidade, é uma ausência que me falta, como luz que não se apaga! Eu vivi a eternidade em plena luz, como se o meu olhar fosse o significado da eternidade, que esclarece a luz, na inconsciência da escuridão. A luz não foi sempre luz, antes era a imagem de Deus, sem eternidade, numa igualdade de amor, de fé! A alma do invisível é o eterno da eternidade, que não é apenas eternidade de olhar, é também eternidade sem o olhar, que torna a eternidade previsível! Nada pela alma é eterno. O ser é a eternidade da alma! A eternidade é a chance de lutar pelo meu ser! O ser é eterno no que faz, no que ama! O ser é o conhecer da eternidade como eternidade. Há sol, há vida na eternidade? A eternidade é o que já surgiu pelas minhas perdas. Agora, perdi a eternidade, até como perda, mas não ficou vazio sem a eternidade, a falta da eternidade deu vida à vida. Na presença da vida, a eternidade se recolhe, até ser o suspirar do brilho de uma estrela do céu! A eternidade não é o céu, é a vida, que recebeu, desde o começo, a minha eternidade de ser, que ilumina mais que o sol, mas não me fez viver!

O nada da esperança

Não vê, é o infinito, que se perde no olhar. A morte não me deixa só, no nada da esperança! É preciso sorrir para esquecer a solidão da esperança, para um mundo melhor, sem vida, sem paz! Apenas a morte do meu silêncio, a embalar a esperança de um mundo sem mundo! Por que não me vê sem esperança?! Eu nada posso oferecer de mim, sei apenas sofrer, numa esperança determinada por mim!

A força de um adeus

Morte é o imaginário possível, a vida é o imaginário impossível, sem a força de um adeus! Para viver, é preciso deixar o outro viver! É como o sorrir do sol, molhado de luz, luz que invade o viver, onde a força do olhar é a força de um adeus! O sorrir é o olhar desperto de emoção! A vida é a força do adeus! A imaginação é desgraça ou salvação! O que eu imagino se torna pensamento, como um mundo novo, numa vida antiga! O adeus torna-se o meu ser em mim! Quando a alma fecha meus olhos, sei que irei dormir, sei que amo, durmo, num adeus infinito! Ao menos, o adeus é sem fim, como se a vida nascesse da morte! A morte é o fim de um adeus!

A saudade da imagem não é falta da imagem

Gosto de transformar a aproximação no meu imaginar. No meu inessencial, é difícil aceitar ser amada. É um resto de luz, que não me deixa só na escuridão pela voz de alguém, me sinto só, pois percebo que a saudade não é real, pois é o retorno do nada, a desaparecer na escuridão, como sendo a profundidade da minha poesia. Enfim, eu! A presença do possível é que torna tudo tão impossível, que sou capaz de amar, me entregar de corpo e alma ao impossível!

A verdadeira existência da consciência é o amor

A alma vive sem o ser, o ser vive sem a alma, mas ambos não vivem sem o amor! O nada nasceu do amor, onde tudo se perde, nada permanece como sendo o que restou do amor! O nada é o que restou do amor, do próprio amor. O nada modifica a vida pra melhor, no nada a vida é livre para pertencer a alguém! Estimule a vida sorrindo, que faça a vida sonhar, estremecer de dor, agonia. O corpo se mostra morrendo, mas se vê vivendo! A verdade da existência da consciência é o amor. Mas o amor não satisfaz a alma, o corpo! A alma do corpo é a morte!

Como resistir ao sofrer?

Resiste-se ao sofrer sofrendo, como uma esperança recém-descoberta de viver! Sofrer é descobrir a vida, como sendo a última esperança, descoberta da própria esperança, para que ela tenha fim. O fim necessita da esperança para acontecer. A morte é uma esperança eterna, firme, mais firme do que a fé de viver! A ausência é uma esperança que se concretizou, deu lugar ao céu, às estrelas, onde possuir o nada é esperança, é o céu, é o depois, que somente termina depois de amanhecer!

Imaginando o abstrato sem a dor

Imaginando o abstrato sem dor, consigo sonhar, pareço livre para sonhar. A solução é o imaginário, onde eu não necessito de mim! Quero apenas imaginar, como se fosse um sonho! Vivo duas vezes: uma ficando e outra partindo! Mas não consigo viver da minha imaginação inexplorada! A alma volta para si mesma, eu não voltarei a mim, se eu não puder me imaginar! Deixo o sonho me imaginar, como se eu fizesse parte dos meus sonhos. Falta a vida chorar pela vida que se foi, para ser vida! Tem vidas que não são vidas de ninguém, são enfeites, acessórios que se usam para não pensar na inexistência da vida! Sem a inexistência, com o que se enfeitar? O que usar para ser feliz?! O espelho é uma vida aprisionada, sem imagem, a única imagem é a do nada. O que vejo no meu ser não é o meu ser, é apenas uma possível aparência a se desfigurar no nada que sou, para poder ter uma aparência defeituosa, não é de vida, nem de morte, é apenas uma aparência vazia ou, então, é o nada da aparência, que aparece mais do que a aparência. Como me preocupar com aparência, se ela é morte, é dor? Mesmo assim, prefiro ter uma aparência a viver?! Mas viver é apenas viver a aparência? A saída para morrer é viver! Para morrer, basta viver! A dor nada é sem o ser, apenas assim a aparência é possível: na dependência da dor, as palavras surgem em mim, como o sol no amanhecer improvável da existência! Tudo amanhece onde nada existe! A alma amanhece sem o amanhecer! Na dor não há ser, há apenas dor! A escuridão não é dor, o ser é dor, mesmo sendo inexistente. Há um fim no infinito do amor, que é mais infinito que o infinito!