Blog da Liz de Sá Cavalcante

O sonho existiu como uma lágrima

A lágrima dispersando-se nos próprios sonhos como se o sonho fosse mais essencial que uma lágrima que pousa nos meus sonhos, para eles serem eternos. A parede falsa entre mim e o mundo é o meu vazio, onde há apenas uma porta aberta. Por essa porta, o sol não entra, penetra na alma, chamas acesas de viver. Será sentir a ausência da alma? Como sufocar uma ausência feliz? Nada mudou pela ausência, assim a vida se ergue do nada, como se o nada fosse o meu corpo. Meu corpo é uma lágrima não sentida. Por causa do corpo, perdi a alma te vendo sorrir. No teu sorrir, não existe meu corpo, minha alma, não existe eu. O céu é a minha inexistência, que não chora, não lamenta morrer. A alma colada na morte, mas o corpo quer viver de corpo e alma. Deixe que minha alma seja minha morte, para que ela seja meu fim. Borboletas voando na minha morte, como se elas fossem o céu. Assim, descobri o infinito de morrer por mim.

Inesgotabilidade é transcender

Não há presença, há dois amores: o da lembrança e o do esquecimento. Se completam, formam a vida, dividida entre o ar e o respirar. A respiração afunda no ar, apertada, como se também fosse amar. O sentimento consola a vida de sua inessência. A inessência do sentir é inconsolável. Essa inessência é alma da vida, do sentimento, que separa o sentir da vida. Deixa minha alma arder, para que ela se sinta viva em mim. O transcender trouxe a inessência para o amor. Não há nada para fazer na vida. Amar a vida com desespero não é amor. O amor é confiar na vida. Mesmo que a vida não confie na minha dor, ela respeita. Nada pode desaparecer sem a vida, nada pode aparecer pela vida. Mas, a vida aparece sem poder aparecer, se torna um nada. O ar sepulta, mata a vida, mas o que falta no respirar se tinha em vida. O ar fala pela eternidade do olhar, que respira mais do que eu. O ar derrama gotas do nada sobre o meu vazio. Nada no seco do respirar. Essa falta de mim que já me destruiu não pode mais me destruir. Espero que o ar volte, se aconchegue em mim e me devolva a paz de sorrir no nada dos meus olhos, que encontrou minha paz distante de mim, como um sonho. Não amei mais na forma que sonhei, por isso tomei uma atitude, que vai me fazer viver: ser feliz. Ser feliz como o ar que escapa do vento, para retornar a mim, numa alegria infinita, de tantas perdas, tanto amor, que não podem desaparecer pelo meu respirar, que já é tristeza, já é alegria.

Com o tempo, meu ser existirá

Vou me acostumar com o tempo de existir, mesmo que ele seja distante da minha realidade, de mim. Apenas o silêncio. Me escuto nesse silêncio. Se ninguém sonhar, o sonho se completa só, preenchido como uma vertigem, exposta ao ventre do nada. Nasci sem o teu ventre, sem o teu amor, sem o teu nascer. A vida ilumina todas as vidas, deixando a escuridão ser a morte dos caminhos, que não tiveram sorte de ficar em minha vida. Eu somente pude escolher um caminho: a solidão. Não há solidão maior do que uma escolha: escolhi ser só. A alma não me mantém viva, nem minha alma é minha solidão, nem o vazio é minha solidão. A solidão é o nada. O nada é único sopro de vida, a acalentar minha morte. A vida não corresponde ao meu amor, como um princípio sem fim.

O dom e a força de morrer

O silêncio do mar em sintonia com o sol se faz morrer, como sendo o ser que nunca existe. Querem morrer como ser, nunca como brisa. O meu ser não é o melhor de mim. O melhor de mim é morrer como se sonha. Morrer sendo a sombra da minha sombra. Nem a morte se afasta do sol, ela é a eternidade do amanhecer junto com o sol. Quando anoitece, o sol se põe no vazio, sem vazio. Não importa ser a morte se você é a vida. Na falta de amor, a brisa me enterra. Vejo o sol pela escuridão, pela solidão de morrer, onde sei que o sol sorri para me fazer feliz. Mesmo sem ver o sol escondendo o amanhecer, apenas em saber que ele sorri para mim, sou feliz. Pois a certeza do sol para mim é mais essencial do que viver. O que morrer são pedaços que deixaram de ser eu há muito tempo. Perceberam que morri depois de anos, quando compreenderam minha dor, lendo minhas poesias. Não aprendi a ser só, nunca aprenderei. Por isso, morrer enquanto tudo é luz, amor. Deixem-me morrer enquanto a morte está compreendendo a minha dor, que não é de morrer, essa dor sou eu.

A inconstância da alma

A inconstância da alma são as mãos de Deus em mim, curando-me do meu amor. A morte não é o fim da existência, a existência vive seu existir na morte. A existência existe apenas na morte. A inconstância da alma é a existência, que vive sem a vida, sem a morte. Não quero que a dor sofra com o que não é essencial em mim: a vida! Vivo bem sem a vida. Não sinto falta de viver a vida, mesmo ela tendo arrancado um pedaço de mim. Não viver é o infinito de amar. Pedaços de mim me afastam da vida, eu inteira me faço morrer!

Latejar (pulsar, palpitar)

A morte pulsa mais do que o meu amor. Mas pulsa em silêncio, para não incomodar a vida! O amor não é uma lembrança, é a realidade da vida, é vida que não necessita existir. A vontade não é o amor sentido, é o amor que permanece como vontade. Essa vontade já é um sentimento, mesmo em nada sentir. Estou apaixonada pela morte, somente assim não me sinto ausente das minhas poesias. A alma não inventou a emoção ausente, mas se fez de céu numa ausência do bem, é mais que emoção, é amor. A ausência me fez feliz, nos momentos de maior agonia, dor. Ela foi uma companhia, que morreu da minha dor. Não aceitei o fim da minha ausência. Tirar o sangue do meu corpo não mata minha alma. A ausência do corpo é o sangue que a alma quer eliminar. Sorrir e ter alma são a mesma coisa. Remendei a vida, com meu corpo, minhas lágrimas, minha dor. A dor não são apenas retalhos da vida, é o meu interior. A dor da alma descobre o mundo sem ela, se torna feliz, como se estivesse viva em mim. Minha única lembrança da alma é o amor. Se a alma pudesse ser o mundo, o mundo não duraria pela perfeição da alma, que é uma eternidade ainda com vida, ainda sem mim.

Não existe esforço para sonhar

A expectativa é diferente de viver. Viver é falta de expectativa. Deixaram-me sem a sombra da morte. Perdi meu rosto, não como quem perde a imagem, mas como quem perde o céu. Meus olhos de sol e meu amor de tempestade cativaram a vida, o mundo, menos o meu ser, que continua só, fazendo a vida e o mundo felizes, como sendo o renascer de um sonho, que não será lembrado apenas como sonho, mas como ser. Será lembrado eternamente, como o renascer solitário da ausência.

Não existo nas coisas, existo em mim

Não consigo chorar por mim, então choro pela vida. Sinto que preciso chorar, mesmo sem nada ter que chorar. Pior que chorar é perder minhas lágrimas para o vazio. Mas a alma não existe, sem o vazio que seca a dor com lágrimas inexistentes, mortes imaginárias. Ressecada sem sofrer, a dor se imagina morrer em mortes imaginárias. Tudo se foi, sem meu olhar em mim. Não tenho mais meu olhar, tenho vida. Somente tenho a vida, para mostrar a mim o que é o mundo!

Pelas lágrimas amo

Amo o amor. Amo o que não se pode viver, num abraço que prolonga a vida, mais do que a eternidade da vida. A alma é um adeus, que protege a vida, que quer saber do mundo, nesse adeus, sem nenhuma despedida, sem fazer-me de adeus. Deixei a alma se emendar na vida, para ela se sentir forte. Há mais alma na perda da alma do que na alma. Não há nada que eu possa demonstrar por uma vida morta, e, assim, há tudo a se demonstrar por mim. Fazer da vida fora de mim a mesma vida de dentro de mim. Mas a vida ausente não é a vida que é presença em mim. Se oculta a vida sem morrer. Morrendo, a vida se descobre nela mesma. Pelas minhas lágrimas, ela esquece que morreu, se sentindo morrer.

No tempo nada existe

Se conformar com o nada, deixar o tempo partir sem o tempo que construí, é morrer eternamente. Mas, nada morre para sempre, se torna o fim do tempo. Viver sem o tempo é a pior morte. É preciso perceber que não dá tempo para viver, ou não existe tempo para viver, apenas para morrer. Morri, pois, ao menos, o instante vive, lembrando a vida que eu devia ter.