Blog da Liz de Sá Cavalcante

Sou o que eu quiser

Sou o que eu quiser no amor, se eu acreditar ter sido um dia. Só, o medo da morte cessa, no meu morrer. O cheiro da alma no corpo podia ser de qualquer um, mas é meu: perfumando a eternidade, que se revela como se não fosse nada. O cheiro e a voz se perdem no existir. O abismo é a alma do amanhecer. Aquela eternidade não é uma eternidade qualquer, nela há amor. Me apeguei à eternidade de ser só, como ela sendo o último sol. Será que a eternidade pode ser minha? A eternidade, quando eu a amo, dá vontade de tê-la no meu olhar, como se nunca mais a visse assim, feita de mim! É fascinante, morrer na eternidade do meu amor. A plenitude não gosta da eternidade. Por que a eternidade não pode ser plena? Posso ser eu, se a eternidade estiver plena! A eternidade não diminui a vida. Apenas no nada, o sol sorri, como se a vida nascesse agora, longe do tempo. O sol volta antes do anoitecer, como se o tempo fosse o tempo de cada um. O riso, a fala, o amor, a aparência, não pertence à vida. O adeus me faz companhia, sem o nada, que é vida. É uma companhia que se iguala no pensamento. Mas o pensar não quer ser o nada em minha vida. Se eu pudesse viver apenas no pensamento, o que eu seria? Nada, pois tudo amo.

O final da morte é feliz?

As pessoas não se observam como se veem, por isso afastam o amor da alma! As pessoas que não vivenciam o que sentem são as que mais sentem a vida! Sentir, amar, não é viver. Uma lágrima caída dentro do desespero, sem se derramar em mim, cessa a dor. Percorri a vida, continuo só, sem vida, mundo. Então, o que percorri? O desespero se sente por outro alguém, como se, assim, algo fosse feliz neste alguém. Se esse alguém sou eu? Como posso ser o outro em mim? Como posso viver no silêncio do diálogo? O amor que busco se perde sem ausência. Nada do amor existe em mim? Como o amor se tornou amor na destruição? A vida se destruiu sem amor. O final da morte é feliz, morrendo no corpo que vivi. Assim, não me disperso de ser. Torno o corpo o meu ser.

O outro lado do ser

O outro lado do ser é como se duas metades unidas que não coincidem com o ser vida, foi percebendo o meu desaparecer, que estamos longe, nunca separadas. A distância não nos separou, mas o teu amor sim. Me amou tanto, vida, que não sei como viver. Viver não deixa marcas em mim, mas deixa a vida marcada com meu ser. Feliz com o sol, as estrelas, mesmo de longe, fazem parte de mim. O céu pode desaparecer, mas sempre será o mesmo céu, onde as nuvens se encontram, mistura do claro com escuridão, alegria tem fim, a noite é infinita. Os sonhos descobertos na noite me consomem. Vou continuar pelo céu sem céu onde a escuridão se destaca no amor. Amor não precisa da luz para amar. A escuridão saiu de mim, assim cessou de amanhecer. A noite se fez dia, assim como a vida se fez morte, para não ser só.

O passado da memória

A morte não está dentro de mim, apenas me faz morrer, pior seria a morte dentro de mim. O passado sem memória é ter um olhar. Renasci como cinzas, percebi como é bom desistir de mim, apenas para me sentir leve. O resplandecer do nada é por onde sinto vazio, onde a leveza de ser é pesada. Apenas a memória do passado pode tornar a leveza leve. O passado da memória não é a memória, é o que faço sem memória. Deixa minha memória continuar sem vida, se for para ela ser feliz, para ela ter um passado. Chamo isso de amor!

A razão de um sentimento

Alma e corpo juntos se destroem, para que eu permaneça, o sentimento permaneça, como se fosse nós. Viver é deixar de pensar, para tentar pensar como Deus. A tristeza é um ser vivo que anula meu ser. É um ser por outro ser, onde não resta lembrança da dor. Os momentos são sombras da luz, de onde nasce o sol. A realidade é sem ideias. A realidade teve apenas uma ideia: sentir por nós, em nós. Desde que a realidade se tornou nós, não precisa ser real. A razão de um sentimento se perde na realidade do ser. Vejo meu corpo na alma, onde meu corpo não é apenas meu corpo, sou eu. Eu para meu corpo, que se divide entre a alma e o pensar. Nada no pensar faz falta à alma, faz falta a mim, que penso apenas por pensar, como se o meu pensar fosse a razão do meu sentir. A razão e o sentimento se perdem na alma, para que o único sentir seja essa vida, que cessa sem ti, no sempre de cada um, que é apenas amanhecer, é apenas paz. O ser morre pelo movimento da vida, que é a continuação do ser.

O que a realidade quer da vida?

A percepção percebe só, sem o ser. A percepção não é única no mundo, tem que se dividir com a realidade, que não é o ser, são sentimentos alheios a mim, que fazem da vida minha realidade. Ter o sol que nasce na minha falta de viver. Saber onde estou não é viver. Saber onde estou não é viver esse estar. Como estar estando em mim? Deixe-me só, sem a vida. É melhor morrer na luz do que nascer na escuridão.

As pessoas podem pensar em algo que não seja amor?

A paisagem acompanha a vida sem o suspirar eterno de viver, que sufoca o amor, fazendo sorrir. Sorrir para que o tempo permaneça sem me sorrir. O tempo que se foi não é a vida, é a procura do nada que me impede de viver. Tantas coisas encontrei no nada, menos o nada. O tempo existir como vida, é a mágoa do meu ser. A vida tem tempo apenas para o tempo. Lembranças de que a vida partiu sem o meu amor, mas a vida que tenho hoje é amor. Amar depende da vida que vivo. Há vidas sem amor, que continuam a sofrer por não amarem. É difícil amar, até mesmo quando se ama. A vida já não é amor, durando como se fosse amor. O tempo é o amor que não deveria existir, nem como ilusão. Somente a ilusão conhece o desconhecido. Ficar só é ficar no amor de Deus, onde nada ruim pode acontecer. A morte é sem tempo nenhum. Até o tempo morrer, é sem a morte. A vida não muda, o amor muda. Saber não é viver. Saber viver é morrer. A morte é infundada, indeterminada, para que eu possa senti-la sem morrer. A permanência da morte é o ser. O ser somente se torna o ser como o ser.

Sem rodeios

Quando amo, eu amo. Quando não amo, não amo. A vida não consegue ser vida de alguém. Não existe vida, viver é ausência de mim, mas viver não é ausente, então não aprendi a viver. Não ignoro o que sinto, não ignoro o que não sinto. Como pode haver dois amores num único amor? O tempo não passa, vive. A permanência não permanece no tempo. A permanência é superficial, é um mar que se afoga em si mesmo. Permanência não é amor, é dúvida. Faz tempo que vivo, mas nada sinto pela vida. Meu sentir é permanência, sem a vida. Permanência no que compreendo, mas não permanência no que não posso compreender. Permanência é compreender a vida como se ela fosse vida, mas é apenas permanência.

Eternidade

A eternidade se suaviza de forma leve, única, imperceptível, de uma forma tão rara, que não sinto a vida pela eternidade. Amor, não me deixe amar, por haver eternidade no amor. A eternidade é um olhar a mais, num ser sem alma, onde o olhar determina a falta de alma, por onde renasce a eternidade. Eu vejo eternidade no meu amor. A vida vem de uma necessidade sem amor, por isso criei o amor na vida, em poesias infinitas. A eternidade não existe sem a vida, eu não existo sem amor.

Deixar o não ver para a escuridão

Tiraste-me de mim. Tiraste a metade de mim. Estou inteira, assim como a escuridão se entrega ao mar, sem o vulto da morte. Metade da solidão foi embora, na metade de mim. Se a sombra da aparência me fez me ver, é como se me visse sem me ver. A escuridão abençoa a eternidade do mar, que me faz feliz. Para mim, a falta do mar é a minha morte. Minhas cinzas são teu olhar cada vez mais perto, mais íntimo, suave, como a solidão que consigo ter. Segura minhas cinzas no teu peito, para eu dormir com vida, para que o olhar seja o tempo perdido entre mim e minha morte. Mas, o tempo não pode estar perdido como alma. Deixo que minhas cinzas ocupem o lugar que esteve vazio em mim. Nem a escuridão penetra no vazio de ter alma. Não respire minha morte, sinta firmeza no respirar das minhas cinzas, descubro o ar em ti. Aproxima teu respirar no nada, terás minhas cinzas dentro de ti. Deixo o não ver para as cinzas, seja minha escuridão, onde não me faltam cinzas para morrer, mas falta você para mim. A dor do abandono existe: são a falta de cinzas espalhadas pelo mundo. Se o mundo fosse cinzas, seríamos o vento a carregar as cinzas, num mistério sem fim de vida, de amor, de algo mais, que desaparece apenas para que eu te veja, na certeza de que não existe pra mim. Tudo o que existe soprou minhas cinzas pra longe, onde te esqueci, para ser cinzas. Quem sabe, assim, exista pra você? Deixar as cinzas pelo não ver é como te ver pela última vez, apenas como cinzas da esperança sem amanhã. Amanhã, as cinzas removerão a terra, constroem a vida no novo mundo, nem que seja feito de cinzas, é melhor do que apenas as cinzas que deveriam ser o sofrer, assim existe amor.