Não sou igual à morte, por isso não desisto das pessoas nem pela morte. Não preciso nascer, existir, mas é preciso ter identidade para morrer. Olhos nos olhos é morrer como alma.
Não desisto das pessoas, nem mesmo pela morte |
Não desisto das pessoas, nem mesmo pela morteNão sou igual à morte, por isso não desisto das pessoas nem pela morte. Não preciso nascer, existir, mas é preciso ter identidade para morrer. Olhos nos olhos é morrer como alma. |
Alma na almaA pureza do nada é tudo para mim. A alma não tem a pureza do nada, não é feliz como eu sou. Meu olhar sem o interior é alma na alma. |
Almejar (desejar com ânsia)O ser e o nada são uma maneira de esconder o amor na sua visibilidade. Amar é a eternidade da poesia, no ser e no nada. Desejo que o meu ser e o nada sejam poesia, mesmo sem eternidade. A eternidade não precisa de eternidade, e sim de solidão. Não há solidão na eternidade. A ansiedade da eternidade é a calma de Deus. Deus, em troca da minha eternidade de ser. |
O luto do nada pela morte da vidaA vida não morreu como tinha que morrer: como o fim de uma lembrança, que me traz de volta ao mundo. Há almas que não se procuram e se encontram. Outras se procuram tanto que não se encontram. Nada se entrega à alma. Deus é mais do que alma, é amor. O luto do nada na vida é o meu infinito particular. Sou invisível para minha alma, mas não sou invisível na alma. Tudo desaparece sem as minhas cinzas, como se elas fossem feitas de alma. Antes que eu me despeça da morte, prefiro morrer, não para mim, mas para a morte. Apenas a morte me faz ver a vida com amor. A alma queima por dentro de mim. Nada ficou no lugar da morte, que, impassível, quis mesmo ser esquecida. Eu sou tão esquecida o quanto amo. Amo para não ser esquecida? Não! Amo para superar minhas perdas, superar-me de mim, ser uma pessoa melhor. Onde há vida, há esperança. Não a deixo inexistente. Cultivo minha esperança, como se eu tivesse a eternidade para ser feliz. |
Debilitada de almaHá muitas coisas perdidas na saudade da alma, pior do que dormir. A alma é apenas saudade. O inseguro não me deixa triste. O seguro me faz ver você, onde não sei onde está você em ser você. Como pode ser você sem me amar? Respire, não há nada, por isso não se preocupe com o que devia existir, concentre-se no seu respirar. Minha alma me faz respirar sem a minha tristeza. O tempo é a tristeza do mar, que se perde em voltar. Nada pode existir antes de ser triste. A tristeza não se reconcilia com o nada. Respirar me faz sentir o nada sem sofrer. Nada me faltou em sofrer. Sofrer, única consciência possível. O mar, consciência do nada absoluto. Por que o mar não sonha? É pela vida do respirar que alcanço o céu. A vida do respirar se aproxima da minha vida. A vida é a consciência de mim como sou. Vou levar de você o seu desaparecer. Vida, seu desaparecer é a minha vida. Não esqueço o desaparecer, assim como não me esqueço de mim. Volto a desaparecer como quem nasce. Nasci do desaparecer, sem uma única lágrima. O destino queria desaparecer comigo, não conseguiu. Meu destino é o meu olhar perdido. |
Inverno da primaveraA dor da influência do nada é o inverno da primavera. É melhor dar o pouco de vida que tenho do que não ser vida de ninguém! O abraço foge da alma, pois está vivo na alma da vida. Alma, não tens saudade de mim, amor por mim? Eu vou aceitar tua vida como minha vida, até que tu, alma, separes-nos. Estou na alma, mas não tenho alma. O sofrer da alma cessará com minha morte. Morte, fizeste-me morrer sem alma, sem esquecimento, ficando apenas a lembrança do vazio, num abismo sem fim, onde consigo te esquecer. |
PreocupaçãoAconteça o que acontecer com a morte, não sairei de perto dela, não sei o seu destino, mas é o mesmo meu. A linguagem é sem limite na morte. Ela transforma a morte, onde devia esquecê-la, ao fazer da morte uma mudança positiva da alma. A alma precisa morrer como eu morri. O resto é vazio, esquecimento. Durmo no meu vazio, no meu esquecimento, onde tudo é eterno e nada é você, vida. Enfim, a liberdade de ficar onde estou. |
Rosto de luzProcuro meu rosto num rosto de luz. Um rosto de luz é o rosto do nada. Se ao menos fosse o rosto da morte, sua luz seria paz, mas é desespero. Com rosto ou sem rosto, as pessoas se veem como um rosto de luz. Apenas a luz do rosto ilumina a escuridão de viver. Para ti, meu rosto é apenas uma luz. A luz no rosto é a falta de imagem, mas ainda é um rosto. O olhar não tem rosto, mas é o infinito do rosto. Por ter um rosto, não sou só. |
FragmentosFragmentos do nada são mais do que nada. O som do silêncio não tem a glória da morte. Morrer no som da minha voz. Esqueceram minha morte pela voz da voz do viver. Voz do viver, imagem do silêncio, fragmento do nada. Desperdicei minha insensibilidade com a vida. Tudo tem um porém. Fragmentos se esperam, sem esperar viver. Minha vida com a tua jamais existiu. Tua inexistência compreende o mundo, mas não me compreende. A vida é a compreensão do mundo em mim. Fragmentos nunca deixam a vida triste. Tudo vai acabar, com ou sem fragmento. A morte é sempre mais, algo a mais na minha vida. A lembrança dura na morte. A lembrança pode ser vida, morte, mas não é a lembrança que devia ser. |
Definir o nada pela morteVida, não permaneceu no ficar da morte; melhor, tornou-se o permanecer da morte, onde ficar é sangrar sem sangue. Partir é não dizer adeus. Quero que o sol entre em mim pelo calor do meu corpo. Definir o nada como uma morte sem corpo, pura alma, puro nada. Não sabia que existia vida; pelo sol, a vida é infinita. O infinito sem alma descansa no céu. Receba minha alma como certeza de que a vida existe por um corpo que era para ser meu. |