Blog da Liz de Sá Cavalcante

A voz da ausência

A voz da ausência não fica muda na presença. Mesmo sem vida, dei-te vida, alegria. Converso com a minha voz de ausência, não me deixa ausente de mim. Meu amor é a minha voz, sem necessitar do infinito. O sonho me abraça, perco a voz de emoção. A ausência é a lembrança mais perfeita, real, eterna em mim. A eternidade deixa de ser eterna pela eternidade da ausência, que trouxe a noite para os meus sonhos, pela insônia de viver, torna a noite mais linda, agradável, acolhedora. Não durmo pela noite, durmo por mim, para resgatar meus sonhos, sendo feliz. A alegria não é um sonho, a alegria não me faz sonhar, ser feliz. Sou feliz sem alegria, é como conhecer o céu viva. Eu invadi o céu com minhas poesias, nunca mais o céu deixou de amar, de falar. Nunca mais haverá silêncio no céu. Apenas o céu fará da poesia sua eternidade. A eternidade é pouco para a poesia, para escrever. Minhas mãos são a alma da vida a florescer no meu corpo. Sem poesia, refaço a vida, sem eternidade. A eternidade é a minha alma, solta no mar, desaguando o nada de si mesma. Há mais mar do que vida, por isso não demora.

Lembrar não me torna um ser

A paz, esquecimento da vida, que não me faz viver. Não consigo lembrar quem sou, nem mesmo pela paz que sinto. A saudade, essência do nada, não encontra sua solidão. Talvez, a solidão seja desocupar o sentir de mim. Entre no meu pensar, torne-o seu, você é o motivo de eu pensar, de eu ser triste. A saudade está viva pela minha morte.

A poeira da morte

A poeira da morte é uma vida. Vida que nasce da própria vida. Varrer a falta da morte, sem a poeira da morte, que impregna o nada. É como se o nada tivesse pele. O depois, sem mortes, não acontece. Vou desaparecer depressa, como se eu fosse o sol nascendo, de mim, do meu desaparecer. É preciso ter alma para desaparecer sem morrer. Morrer é aparecer para sempre. O sempre existe, por amor à eternidade, mesmo sem nunca se verem, eles se amam tanto, é como se se vissem eternamente, pelo amor que um tem pelo outro. Nunca se veem, mas se conhecem sempre, pode passar o tempo que for, haver a perda ou decepção que houver, são inseparáveis de alma, tão unidos, que parecem ter o mesmo significado. A eternidade existe no para sempre, o para sempre na eternidade, sem ser presença de nada. O que fez comigo? Tornou-me presença ausente. O jardim das ausências tem mais flores. É tão funda a ausência, que mergulho nela como se ela fosse o mar: é o mar da minha ausência.

Lágrimas de vento

A vida são lágrimas de vento, num coração de vidro. Escondi a escuridão da escuridão. O céu não tem escuridão, tem ausências. Se sorrir fosse ausência, iria sorrir facilmente. Lágrimas ao vento, suspira a consciência inexistente. A consciência é a falta do agora. O agora pode ser um sentimento, uma dúvida, um talvez. O amor pode ter dúvidas, mas tem certeza de alguma coisa? Ventos se espalham sem amor, arrumando vidas, destruindo sonhos, vitais para o amor. A eternidade é um sonho. Falar como vento, sem suspirar o silêncio, é impossível.

A mão que balança a morte

A mão que balança a morte a embala, deixa-a cair. Arrebentada, a morte dorme sonhos de vida. Estou velha de ausência e morte para acalentar a morte. A voz, que é o infinito, num corpo sem mãos. Mãos que tocam o fim do infinito, como se tivessem moldando vidas. As vidas escapam feito mãos.

Desinteresse

Há um desinteresse real pelas coisas da vida, como se elas nos fizessem morrer. Somos nossa própria morte. As coisas me fazem esquecer de mim, isso é bom, mas não pode se eternizar. Ter o infinito é não ter mais nada; minha alma não obedece nem ao finito, nem ao infinito. Se a alma fosse finita ou infinita, deixaria de ser alma para poder se sentir alma. A alma sente a si mesma, como se ela fosse a humanidade. A humanidade surge da alma, como o vento, que não consegue balançar a natureza de onde a levou. A alma é natureza do amor.

A tortura de existir

Rindo à toa, sem a tortura de existir. O silêncio canta o encanto de viver. Viver é esquecer de mim, da mesma forma que o sonhar amanhece de sol. O amor, seco por não sofrer, é sem ausências. A ausência no sofrer é a perfeição da vida. A linguagem da ausência é o ser; a linguagem da aproximação é o nada. A lembrança do meu corpo é o esquecimento do meu ser. Apenas me esquecendo de mim, lembro-me de ti. A vida espera que eu a esqueça, como te esqueci. Esqueci-te, sem sobreviver ao nada da tua ausência. Existir faz parte da ausência. A ausência é minha vida. Não posso sentir a ausência distante de mim. A falta é o fim da ausência. Sou ausente de tanta alegria. Meus pensamentos não vão partir pela ausência. Pensar é ausência. Olha para mim, que vai acabar ausente de mim, pelo vazio do meu olhar. O vazio é o meu coração a bater. O que a união ou separação é sem amor? Nada! Há mais pessoas do que vida, por isso as pessoas não sentem nem mesmo o vazio. Apenas o vazio não é vazio. Resseca-me de amor. Amar é ser vazia, mas não é o vazio. O vazio de ser não está nas coisas, no ser, na vida, está no significado do vazio, que dá vida ao amor. O vazio, sem um significado, não é vazio. As palavras tentam dar um significado ao vazio. Não há nenhum significado sem o vazio. A morte trava o sentir com amor. Amor, que devia existir na vida, ou, ao menos, no vazio da vida devia existir. Sinto a falta da existência, que existe sem a vida. Mesmo sem a existência, ela é presença especial em mim. Não há lembrança sem o vazio.

Levitar de emoção

Sinto falta do silêncio, inexistente como eu. Nossas inexistências se misturam. Posso viver a inexistência do silêncio, mas não posso viver minha própria inexistência, nem minha própria inexistência é minha. Mas esse levitar de emoção é o meu eu puro, sem influência da vida ou da morte. A morte, motivação de viver, descansa eternamente, no esquecimento de mim. Não preciso lembrar, o esquecer une, e reúne, o amor, a vida, a morte, o ser e o nada. Preciso apenas esquecer tudo para ser eu e não começar de novo a vida, o amor, a morte, o ser e o nada, que comecem sozinhos sem mim. É tão perfeito, reconfortante, o esquecer. Quero que o amor, a presença do esquecimento, dure para sempre, até que o levitar me faça voar, para um esquecimento maior do que o meu esquecimento, maior que tudo, mas não quero esquecer que morri.

A procura sem adeus

A solidão não pode ser a vida, o nada, apenas é só. Só, como se o mar fosse deixado por alguém para não ser só. Afaste de mim a estrela do céu, única vida, sustentada com amor. Afaste de mim essa estrela, pelo amor de Deus, não sei sonhar, faço súplicas de sonhos. Vim apenas olhar a vida, mas não é uma despedida. Sou eu, feita de vida, de amor, que não se encontra o nada. Por isto o nada existe, para me satisfazer. Ame-me, eu posso ser você amanhã, o hoje é outro dia. Viver são apenas palavras, carregadas como vento.

Fatalidade

Pobres versos, meus versos não transcendem, voam sem asas, sem ser livres. Restos de mim se tornaram solidão, sem poesia, por isso são poesia. Tudo se diz num adeus. O adeus me escuta sem solidão. Não dou esperança ao adeus de ser o seu adeus. A solidão da alma é a minha falta de adeus. O adeus de um sonho ainda me faz sonhar pelo seu adeus. Não há adeus sem sonho. Tudo floresce sem a esperança. A alma é tão pequena, frágil, que nunca se perderá. Dou conta da esperança de ter alma, mas não dou conta da alma. No sonho, a alma é o universo. Ouvir minha voz me ajuda a viver, é como um silêncio infinito de voz, que precisa nascer, como o mundo e a vida nasceram. Nasci da minha voz, emprestada da vida, da dor. A dor é inalcançável, não há sofrer em falar. Por isso, eu falo. Mesmo que ninguém escute, eu me escuto.