Blog da Liz de Sá Cavalcante

Minhas mãos, minha vida

Não quero machucar o amor no meu amor, quero mãos livres para criar a poesia em mim. Minhas mãos curam a vida da poesia, curam a poesia da vida. A vida não existe sem poesia. Minhas mãos, é um momento impossível de me dar sem poesia! A alma une o que foi separado, para a poesia destruir dentro de mim a pessoa que não sou. Meu corpo me fez ver minhas mãos mais do que o meu olhar! O olhar são mãos desapegadas da vida, sei que te farei de minhas mãos, de minha vida! Escrevo para essa dor! Minha alma jamais amará a vida como eu amo. Deixo minhas mãos existirem, tocarem a incompletude do amor, onde minhas mãos são livres pra criar!

A incompletude é uma criação plena de mim! A vida não sabe como nasci. Quero deixar um poema para o poema, esquecer que tenho mãos, ser livre para dizer: não consigo amar a vida, quanto mais eu tento, mais a ignoro! Não quero que a vida faça parte dos meus sonhos. Nem sei se quero viver, mas sei que quero que fique comigo um instante, onde seja inteira para me amar! Errei em te amar?! O que é este esquecer, que lembro mais do que qualquer esquecimento?! O que tem por dentro que não pode me amar?! Eu já não sei quem é você em mim, faz tanto tempo, que perdi até o tempo que fez! Pude te amar, minhas mãos são para toda vida.

O meu amor, que não é apenas vida, é morte, perda! Minhas mãos existem apenas para que eu escreva, tentando compreender o amor que me falta, nas mãos, na alma, no silêncio, no grito, no orgulho, na decepção! Eu vivi o que pude amar, mesmo assim, não te esqueci. Grito pra mim mesma, que existo sem você. Que, junto das minhas mãos, conquistarei o infinito sem você! Mas, se eu procurar o meu fim em ti, me aceita, nem que seja para me ver morrer! A aceitação é uma liberdade infinita! Quero-a livre, para quem sabe, um dia, possa me amar. Enquanto te espero, tenho as minhas mãos, meu corpo nessa espera, que é a coisa boa em ti: te esperar, mesmo que nunca venha, eu sei que ainda preciso te amar, assim como preciso ter mãos para sonhar!

Procurando meu corpo em mim

Meu corpo não está dentro, nem fora de mim. Meu corpo é algo a esmo. Não posso negar o não ser em mim, que dá vida ao meu corpo. O ser habita um corpo morto, ressuscitado como o não ser, onde cessa o ser, e o não ser do corpo não sente falta da ausência do corpo! O corpo é um abraço, um princípio de que o não ser não é tudo na vida, é tudo no corpo. Não procuro meu corpo em mim, o procuro exterior a mim! O olhar, lembrança da alma, que deságua no existir, onde ter incertezas é mais fácil que existir! Sem incertezas, não há vida! A alma traz incertezas para a vida, não para o ser! A certeza, incerteza da alma, faz eu duvidar dentro do real.

Não se pode sonhar o sonho que já foi despertado na alma. Mesmo desperto, eu posso realizá-lo ainda como sonho, ainda em mim! Procurei meu amor, e vida se fez em mim! Eu não aceito ser o meu fim! O fim não faz falta à alma, nem ao ser, faz falta ao seu fim! A luz habita a sombra da presença. A sombra é essencial à luz! Fiz da sombra corpo do corpo, sombra onde não há sombra da morte. Apenas a sombra chora visivelmente o que choro na invisibilidade do meu ser! O infinito e o finito juntos tornam tudo vazio. Se o fim e o infinito são assim tão desnecessários, como tudo se define no finito ou infinito de mim! Nada se uniu à força de uma união, é preciso mais do que um corpo para manter a vida, é preciso ter alma! Sem o universo ao meu redor, a alma é meu universo, mas é sem mundo! Há mais alma na vida do que no ser! A separação da alma é a própria alma.

A alma sem alma tem mais esperança que a inteireza, que o ser! Tudo aos pedaços, pedaços sem alma, onde o que está inteiro se despedaça. Os pedaços ficam inteiros, os mesmos destinos em vidas diferentes, tão diferente viver da própria vida! O céu é um abismo feliz! Para conquistar o céu, apenas sendo uma estrela! Por que é difícil pensar na alma?! Por que ela faz eu me emocionar com ela? O amor da alma era para ser eu, e toda emoção seria inútil! Necessito ter alma, para a dar a alguém, que necessite mais da alma do que eu. Não sei o que fazer com minha alma. O tempo sem o ser é vazio, mas é feliz, com uma alegria que o ser não lhe dá, mas um dia vai dar, quando o meu ser aderir ao tempo. Mas o tempo acontece normalmente, como se o ser estivesse nele.

Como pensar o pensamento se ele é o tempo inacessível em mim?! O tempo nunca é visto como um pensamento. Minha vida se foi no pensar do tempo. Antes que o tempo aconteça, vou viver! O tempo me impede de viver! Nunca penso no meu ser, penso no meu pensamento, por onde todos me conhecem, mas não conhecem a mim, e sim o meu pensamento. É a fragilidade do pensamento que faz pensar. Te esqueci sem o pensamento, apenas com a vida. A morte do pensamento é a vida do pensar! Pensamento é quando pensar perturba tanto, que me concentro no silêncio do pensar, que não é o pensamento, é a alma existindo, sem nunca pensar!

Mas o pensar tem a alma, quando ela já não existe. Escrever tira o pensamento do pensamento, sem nunca ter tido ideia do que é pensar. Antes de eu me encontrar, já havia encontrado meu pensamento sem mim! Sei que, pelo pensar, jamais me encontrarei, talvez me encontre não como eu, mas como meu pensamento! Pensar é esquecer! Tudo lembro sem pensar! O que significa pensar para mim? Significa que não estou só! Talvez, só, eu seja essa busca, esse pensar sem fim, onde deixo de ser nesse pensar, por isso apenas transcendo no nada, como se fosse o meu pensar!