Blog da Liz de Sá Cavalcante

Imaginando o abstrato sem a dor

Imaginando o abstrato sem dor, consigo sonhar, pareço livre para sonhar. A solução é o imaginário, onde eu não necessito de mim! Quero apenas imaginar, como se fosse um sonho! Vivo duas vezes: uma ficando e outra partindo! Mas não consigo viver da minha imaginação inexplorada! A alma volta para si mesma, eu não voltarei a mim, se eu não puder me imaginar! Deixo o sonho me imaginar, como se eu fizesse parte dos meus sonhos. Falta a vida chorar pela vida que se foi, para ser vida! Tem vidas que não são vidas de ninguém, são enfeites, acessórios que se usam para não pensar na inexistência da vida! Sem a inexistência, com o que se enfeitar? O que usar para ser feliz?! O espelho é uma vida aprisionada, sem imagem, a única imagem é a do nada. O que vejo no meu ser não é o meu ser, é apenas uma possível aparência a se desfigurar no nada que sou, para poder ter uma aparência defeituosa, não é de vida, nem de morte, é apenas uma aparência vazia ou, então, é o nada da aparência, que aparece mais do que a aparência. Como me preocupar com aparência, se ela é morte, é dor? Mesmo assim, prefiro ter uma aparência a viver?! Mas viver é apenas viver a aparência? A saída para morrer é viver! Para morrer, basta viver! A dor nada é sem o ser, apenas assim a aparência é possível: na dependência da dor, as palavras surgem em mim, como o sol no amanhecer improvável da existência! Tudo amanhece onde nada existe! A alma amanhece sem o amanhecer! Na dor não há ser, há apenas dor! A escuridão não é dor, o ser é dor, mesmo sendo inexistente. Há um fim no infinito do amor, que é mais infinito que o infinito!

Superioridade

A alma se esgota no inesgotável do ser. O ser é superior à alma, pode amar, abraçar, pensar, viver, sofrer, morrer! É pela alma que encontro o fim! Tudo que faço é morrer, antes de o sol partir, como despedida da vida! Alegria, venha com amor, meus olhos saltam sem o vazio da compaixão, por uma alegria que não é minha, nem de ninguém! É preciso continuar a morrer, como se eu pudesse pensar, que nada me falta a morrer! Não estou só, tenho alma, a invadir minha morte, minha vida, como se fosse o resgate do nada. Nada vivi de sua alma, por isso não foste o meu fim! Me deixa só, mas sem morrer! Tudo no amor é inacabado, infeliz, como se o amor pudesse viver apenas de dor! Aqui se faz, aqui se é, pela dor do amanhã. Como confiar na dor? Os mistérios da dor são o vazio do nada, sem dor, por isso prefiro sofrer, sem saber por que sofro. O vazio é o meu olhar perto de mim! A proximidade não é morrer, é como fazer dos meus abraços uma alegria para o nada! Nada viverá de novo a alegria. A alegria é a travessia do nada para o nada. Sou livre apenas nesse nada! Mas o nada constrói o vazio! Não encaro a realidade, nem pelo nada, nem pelo vazio, nem pelo amor, nem pela vida, nem pela morte! A vida ficou eternamente em meus braços, como um sufocar de tanta saudade, num vazio de ser maior do que a vida, onde nada é confuso, tudo se esclarece, quando olho o mar, quando percebo meu olhar afogado de amor. A vida é o amor que jamais terei. Meu olhar inunda meu ser de amor. Apenas meu olhar não é só no que vê! Eu abraço o nada, como se fosse a vida. Este é o sentido, do significado da alma: ver a vida na descontinuidade da vida, do amor, da tristeza, da alegria, do vazio. O vazio é a única maneira de tudo continuar a permanecer, nem que seja pelo silêncio absoluto do vazio! O vazio é sem mim, não sou sem o vazio! O vazio é a razão de viver! Pensar no vazio é o pensar absoluto. O vazio é tão inexistente como a alma, onde a alma aparece inexistente, como um raio de sol de solidão, a aquecer a vida no meio do nada, onde fui feliz!

Nada parece possível no amor pela vida 

A dor é falta de aflição. A aflição é um olhar que testemunha o mundo. A dor é a falta de olhar o mundo para a vida. A dor é a vida absoluta, inteira. Ninguém suporta a vida inteira, queremos ela aos pedaços. O amor é como essências abertas que fogem da alma sem alma, a única alma é o amor. O amor retorna à vida do meu olhar. Como suspeitar do amor? O que significa amar a vida? É substituir o amor pelo amor, almas fechadas, encerradas em essências abertas. Amo cada amor em mim! Tudo pode faltar ao amor, mas continua sendo amor, como se meu corpo estivesse exposto, sem sombra, rastro de vida, a única vida é amor! Não quero viver por nascer, quero viver por amar! A vida vai para tão longe, mas sempre volta pela força do meu amor, é apenas uma vida, com vários fins. Fins que são a imensidão do amor a desaguar num oceano de incertezas! A vida não pode fazer de mim o que eu sou, apenas eu posso me fazer ser eu. O canto dos pássaros protege meu silêncio de mim! A alma é um silêncio sem fim, onde não escuto mais o canto dos pássaros, nem o meu ser! A minha dor é sem mim! Se todo real é amor, o que é esse silêncio, essa quietude sem mim? É o tempo que passa, num amor sem fim! Vou desaparecer no silêncio sem fim, onde consigo compreender a vida! Meus olhos encerram a noite de sonhos. Tudo que vivi foi o que se perdeu em mim, e nunca mais será encontrado, da maneira que reencontrei você. Alegria, estamos juntas. Alegria, o que mais importa? A alegria não faz esquecer o que sofri. Sofro para não perder a alegria. Meu pensar não vai me devorar inteira. Sou apenas pedaço de mim, que se enrosca de dor no medo de amar. Deixo a morte seguir seu rumo, que eu sigo o meu! Seguir nem sempre é permanecer, por isso fico com o silêncio da vida por dentro de mim!

O nada não é nada

Sorrir o despedaçar de um sorriso, que é mais do que o infinito, é o que consigo sentir por a vida desaparecer como um abraço, sombra desse desaparecer, que não desaparece sem desaparecer a lembrança! É um desaparecer dentro da aparência, onde o possível alcança a realidade! Morrer no único momento de vida é unir a vida à vida, em separar a vida da vida! Não sei mais o que é união ou o que é separação na vida, sei que estou em mim, como se houvesse vida! O nada não é nada, é o que a vida necessita para viver! O nada é a aparência da vida! O nada não mantém o amor no amor. O que torna o amor eterno é o nada do eterno em mim. A aparência pode ser a eternidade do amor! Será que sou apenas o que vejo? E se o que vejo não sou eu?! Ser só é sonhar comigo mesma. Deveríamos lutar pelo nada em nós mesmos! Não querer o nada do outro, nunca será o meu nada, é apenas a permanência do céu, quando o vejo! Até conseguir olhar o céu pelo céu, o nada nunca é o nada com que se olha! O que determina o ser é o nada! O ser jamais pode se esconder no nada de si mesmo. Basta haver o nada, para não haver o conflito! O que vejo, esqueço fácil, o que não vejo é inesquecível, transparente, comum aos olhos! O olhar também sonha, vê seus sonhos como um pedaço de mim! Nem eu conheço meus sonhos, como o olhar os conhece! Talvez, o olhar seja um sonho, no meio do nada! O nada intervém no sonho, quantas vezes preciso sonhar, para que o nada apareça sem minha ausência. O que falta na ausência para ela ser feliz?! Por que ninguém acredita que a ausência é a razão de tudo? O tempo diminuiu a ausência em palavras. Cada vez que olho para a vida, vejo que nada preciso dizer: minha fala é este contemplar. Ninguém devolve o nada a ele mesmo! É fácil morrer, o difícil é aceitar ser nada! O nada substituiu a vida: é o mesmo respirar! Esperança sem vida!

Quem sou eu ao existir?!

Tudo é vida, real. A vida substitui o viver, a morte me dá autoestima, que dias piores virão, para que eu suporte a dor! Não sei como é o meu amor, meu abraço, mas o outro a me abraçar faz eu perder a vontade de me abraçar. É da lembrança do amor que surgem outras lembranças, que fazem esquecer o amor, como se pudesse lembrá-lo. O que mantém a lembrança é o esquecimento de ser, que pertence às coisas, jamais ao ser! A única lembrança eterna é o meu ser! Falta na lembrança o meu ser! O ser se inspira na vida, a vida no ser, e a inspiração não se inspira em nada! A inspiração deixa-me sem meu ser, de volta a mim! A lembrança é a falta de significado de ser, por isto o ser se inspira: por buscar seu significado! Para existir, não basta ser! A leveza do ser é sua falta de significar algo nele mesmo! A liberdade é o único significado de ser, mesmo assim, ele não é livre! A subjetividade do ser é a concretude da alma! Na alma, tudo falta no ser! A alma é o ser, embora ele saiba disso, se entrega à sua alma como se fosse outra alma, noutro ser! O ser não vive na alma, mas foi a alma que conseguiu ser. As almas foram tão bem escondidas dentro do ser, que o ser pensa não ter alma, mas não a procurei em mim! Mas, não me sinto alma, me sinto sua moldura, seu descaminho, onde, para caminhar, é preciso ter alma, é preciso viver!

Como o ser se torna minha essência?!

Nada há de destruir o espírito, como foi destruído o ser pela alma, sem nenhum pensar em mim, nem mesmo que destrua o indestrutível de mim, nada pode faltar na destruição, nada ama o que foi destruído. Para uns, a vida é insólita, e o saudável é morrer sem a descarga emotiva da vida. Talvez, a alma saiba mais da vida que o meu ser! Eu dei meu amor à alma morta, mas, antes de a alma morrer, já não existia alma no meu ser, mesmo ela viva, latente em mim. A morte é mais vida do que a vida. O que passou passou, jamais será um sentir de vida, mesmo que aconteça agora, está desconectado com a vida. A vida parece ser o que não é. A alma sem a alma vive menos do que o ser. A essência é um pretexto para não viver, a vida torna o aspecto de ser banal e a essência inexistente, como se a vida pudesse ser essa existência. Sempre resta algo da vida para o ser não ser mais. Qual mundo é o que vivemos? Vivemos ou acabamos com a vida? A alma pode fazer de mim o que não sou?! Ou serei sempre apenas um ser sem alma? A distância de mim não me faz alma, onde preciso ser alma. Mas por que necessito ser alma? Necessito ser alma apenas para não ser eu?! O que é ser alma? É conduzir a realidade à falta de ser? Deixar a falta de ser cuidar de mim? Quem cuida da alma?! Renascer é alma que me modifica por dentro de mim, que também é dentro da alma. É melhor que seja o que a alma quiser, não o que a vida quiser. Que Deus somente queira me ver feliz, mesmo sem ser do lado dele. Não existe a morte para mim, se Deus é vida, amor! Que a chama do olhar não diminua a vida. A alma não deixa seu estado de espírito, que é sonhar, apenas para servir ao ser. Sendo a alma morta ou viva, ela me faz viver e me distanciar da poesia que era apenas um instante, a alma é eternidade. Para deixar a alma, não preciso deixar de ser. O ser não depende da alma, a poesia da alma é eterna no amor do ser!

A exclusão da alma é a falta de um adeus

O despertar da alma é solitário! Meu corpo não vive como vive o meu ser! Meu ser vive mais do que o corpo, do que a alma, do que a vida! Alma não é vitória, não é derrota, alma é viver! A alma não escolhe viver ou morrer, o tempo da alma é simbólico, a alma não ajuda a viver, alma é vida! Apenas a vida não me ajuda a viver, a alma se exclui sozinha de si mesma. A alma não entra dentro de mim, eu sou a alma que viveste sem mim! Vida, queria que me abraçasses tão forte, que eu não sentisse minha inconsciência em ti!

A morte é um milagre de Deus

A morte é o milagre de Deus, inacessível, como a sombra da minha ausência! Não presencio o milagre de morrer, nem pela ausência, nem pela presença. A morte não pertence ao ser, pertence a Deus. Apenas Deus morre concretamente no que é, sem sentir saudades da vida: é um milagre imperceptível, como respirar, mas não é o respirar vital, é o respirar da alma em mim, como sendo o começo de tudo, e a concretização do amor, seja ele divino ou humano, é a mesma alma que eles possuem, como um resto de sol, que ficou guardado no amor! Se Deus me desse a morte como ela veio ao mundo, como alma, eu seria feliz!

A ocultação do não ser

Já é tempo de diferenciar entre a obscuridade da vida e a minha alma! Não dá pra me esconder de mim, então eu fingindo que apareço, ao menos para me esconder! É mais fácil esconder o ser de si mesmo do que esconder o não ser do não ser! Se o tempo disse algo de meu, não foi amor, escutei pelas sombras do meu pensamento! Nem a minha sombra está inteira, deixou enfraquecido o sol das circunstâncias, fez-me luz da minha sombra! Sei o que não escutei, não escutei pois já existe em mim! Não existe como existência, mas existe como fim! Fim do que não aconteceu, e jamais acontecerá, nem mesmo pelo fim. A falta do único começo é o fim. O fim é o único começo, a única essência do ser! Os beijos sufocam a alma, renúncia do prazer! Meus beijos dou a mim mesma, como se escutasse minha voz na poesia! Poesia não é voz, é sentimento! A saudade desse sentir sou eu! Apenas em pensar nesse sentir, me sinto mulher, como o amanhecer da poesia! Apenas o abraço da poesia me tira da solidão! Poesia é a certeza de retornar! Deixa o vento me levar como poeira do teu amor, onde floresce a vida: de poeira! Poeira, que me faz respirar por ti, como se não pudesse respirar sem ti, vida!

O que se perde ao amar

O nada na solidão do tudo em mim me faz amar sem amar. A solidão é se contentar com qualquer amor, até mesmo imperceptível! Será que o que não se percebe existe? Existir é apenas perceber? O que não existe vive! Nada vai mudar o imperceptível, ele é como a chuva que cai sem pensar nas gotas de água, que precisa ter para haver chuva. A chuva é imperceptibilidade da vida, é a falta de acesso ao viver!

É pela falta de realidade que sei o que é viver! Deus, tenha misericórdia da minha alma, que não consegue ser alma, mas consegue amar, ser feliz, como se meu corpo não tivesse sombra. A sombra é onde meu corpo se esconde. Se a sombra fosse meu corpo, seria mais corpo do que o meu corpo?! Formar a vida não é criar a vida. Para criar a vida, tenho que renunciar meu sentimento de viver, que não é o mesmo que viver! A solidão aconchega a alma, num amor infinito, por causa do seu fim! O fim é infinito, está nos meus sonhos, na vida, em mim, no meu amor! Se a ausência é a única realidade, amo a ausência, me preencho com ela. O que se perde em amar é cheio de ausências, respiro e engulo a seco minha ausência, que é o silenciar depois de amar!

Mas o depois de amar também é ausência! Nascer é uma ausência que se perde, como se fosse infinito! Por isso, deixo o nascer morrer em mim, antes mesmo de eu nascer! Nada precisa nascer nem morrer, preciso apenas ficar só, no que sou, ao tomar conta dos meus pensamentos, como, se um dia, eu fosse nascer, pelo amor do meu pensamento. Sem o amor do meu pensamento, não sei amar, estou incompleta, mesmo plena de amor. Meu amor não me trará minha poesia para mim, ela pertence à minha ausência!

Talvez, não tenha ausência na ausência. Talvez, não estou ausente, e, sim, feliz por ser eu, que criei a poesia em mim. Nem mesmo a ausência me impediu de criar. Poesia, não existo, sou a vida da poesia, ela me sente nascer o tempo todo, de dor, de alegrias! Mesmo que eu nunca nasça, exista, sou a presença eterna da poesia! Não precisamos nascer, existir, temos uma à outra, onde, agora, existe amor!