Blog da Liz de Sá Cavalcante

Pelo relógio do amor

Pelo relógio do amor, sempre é hora de amar! Deixo tudo para amar! As horas perdem o sentido perto do amor! Tudo que é leve é pesado na alma, como se o tempo tivesse partido, na leveza de um único instante perdido, que suaviza a vida! Enfim, posso morrer! Morrer como um instante perdido de amor!

Saindo de mim (Para Pai)

Saindo ao voltar, saindo de dentro de mim para a vida. Saindo de mim, faço parte do outro, não agora, não depois, mas sempre! É nesse sempre mais o ser. O que podia ser excesso pode ser amor! Meu ser é possível sem sair de mim, mesmo assim, o sinto sair de mim, como se fosse a vida que eu expulsei de mim, como sendo o único sol escondido na multidão do céu! Há como deixar o sol pelo céu.

Deixar o sol no céu é esquecer o sol em sua luz! A ausência do céu desperta o sol para a vida! A ausência é a falta do sol. O que posso fazer a estrela retorna, como sendo depois do meu sonho, o sonhar! Estou me dividindo em estrelas do céu. Não tenho luz, mas posso oferecer minha poesia na luz do teu amor, a iluminá-la! Ninguém nunca amou o permanecer do teu amor, tanto quanto eu! Céu, me faça de mim mesma, me reconstrua, como se o céu faltasse em minha alma. Meu amor, estrela sem céu, onde danço com a vida, o que não vivi e não viverei jamais! As estrelas acendem a dança da vida, me deixam paralisada, numa escuridão profunda, onde sei que tenho um corpo: não o sinto: como uma estrela a desabar no nada do mundo, até que o mundo seja uma estrela!

O amor seja uma estrela a brilhar no céu, onde as melhores coisas acontecem, por eu me tornar uma estrela tão pequena, que me deixo ser essa estrela, explorar céus desconhecidos, esquecer o que vivi de mim. Minha única lembrança, minha única alegria, é ser apenas luz, sem essências, verdades, mentiras, dor. O céu não me abandona como estrela, me abandona como ser! O meu ser salvou a estrela, ela não me salvou, me incorporou, até ser eu! Eu, por mim, sem me ter! Onde o tempo é uma escolha, um momento, em que a vida é esquecida, em vez de nós! Enfim, lembro de mim sem a vida, sem o vazio de existir! Somente queria que me visse ainda como uma estrela, mesmo não sendo mais essa estrela, para ser o universo do amor, que enfrenta a claridade com a luz! Luz que afaga a escuridão, a abraça, a envolve, para que eu morra em paz, nos braços do amor! Por ti, amor, eu morro.

Lágrimas ao vento

O tempo não destrói vidas, ele constrói o mundo, o universo, que é vida da vida do ser! Não há o que chorar com a morte, a morte é o fim da dor! Surgir é perecimento, como uma rosa que se entrega ao jardim! Minhas lágrimas ao vento se perdem num jardim sem flor! Meu olhar é a flor, que preencheria o jardim! As lágrimas não sopram o vento. Apenas o sopro de vida pode assoprar o vento, num único fôlego, que, por respirar, perde o infinito! O amor solitário dura mais que o amor no outro! Foi sozinha que conheci o amor. Nada perco em me sentir, mesmo assim não sei qual é a lembrança, a vida do meu sentimento, mas sei que sinto. O vento assopra o amor das tempestades de ser amor!

A alma do sonho é a morte

Minha alma vive no que não existe em mim: meu interior: é a morte! A proximidade do céu é a vida, onde a morte não alcança! A morte é o espelho da alma, que define a imagem como reflexo do nada, que transparece na morte, onde não é possível morrer o olhar. Suspirar não afasta a alma, não afasta a morte de mim! Crescer é fazer da renúncia vida! Renúncia é inspiração para viver, e para morrer. A vida e o sonho vão além da vida, do amor! Alegria, quando puder, viva por mim, em mim! A decisão de morrer são portas imaginárias ao ar livre, fechadas para não perceberem o quanto amo, embora sejam apenas imaginação do amor, de amar! Meu amor foi exposto ao mundo, à vida, para poder demonstrar sua tristeza sem dor! As portas se abrem e fecham, para a lembrança não fugir de mim! Quando a porta se abre, é a lembrança retomando meu ser, retomando como amor! Vou encontrar as lembranças no segredo da vida.

A alma é o sol do céu

As lágrimas são vontade de chorar. Não choro lágrimas, choro vida, onde a alma é o sol do céu! Minha segurança é sofrer! Não existe distância para sofrer! O que pode estar na alma, o que ela é? A alma é distante, como se o sol rezasse pela ausência da vida! O que desencanta minha alma encanta o meu ser. Se eu pudesse alternar entre a vida e a morte, seria ausente! A tranquilidade é o sol, um punhal de sol no meu peito, a florir o infinito! Ninguém me contou que o infinito são flores, mas o infinito são flores! A palavra não existe, existe o ser na palavra. A palavra cessa a vida, a consciência, mas não cessa o ser! A mudança não está no ser, no amor, no indefinido!

O que muda não sou eu, é o tempo! Apenas o fim se transforma, como se fosse mudar pela humanidade. O que mudou no fim foi a ausência, agora eterna! A eternidade da ausência faz do tempo ilusão! Não dá para separar o tempo da realidade, mesmo com o tempo sendo ilusão. A alma é o sol do céu, que dá vida ao tempo, à morte, de se refazerem, como se o céu os esperasse, ansioso. Não há mais o sol, mas há o amanhecer, há vida, que não acontecia pela presença do sol! Nada vejo na luz, nem mesmo a presença do sol! Vejo pela ilusão das coisas, de viver! Nada falta para quem tem ilusões!

O abismo de luz

Há algo pior que morrer, arrancar um pedaço da minha alma, num abismo de luz, é pior do que morrer! Amo ainda mais sem a vida, as pessoas, é como se fosse um sonho eterno, presença eterna de amar! A alma é amaldiçoada ao existir, a alma não deveria existir em mim, nada precisa existir, tudo é apenas um abismo de luz. Tudo se abandona, mesmo sem abandono! O abandono é apenas luz, em busca de um abismo! A alma, devoção de um silêncio, rompe barreiras com as palavras, o nascer do sol é olhar que mais se aproxima de viver, viver por um olhar, que perceba minha solidão. A minha pele renasce na chuva como se fosse o sol.

Nem o sol nem a chuva poderão viver um grande amor por mim, nada, nem ninguém, pode ser esse amor, ele existe apenas em mim! Por mim o amor viverá, como se suportasse a dor, se o tempo partir com o amor que lhe resta vou acreditar, e conseguir, enfim, sonhar no tempo perdido. Nada perdi sem o tempo, a alma é o que existe dentro de mim que vence o tempo com o amor. O amor é alma toda minha que torna o abismo de luz um céu profundo, se as coisas, o nada, fossem a vida que são, tudo seria melhor! Deixo a luz entrar na luz do meu ser, mas nada tem mais luz que a luz, nada mais pode deixar meu olhar vazio, nem mesmo o vazio, que pode ser qualquer coisa que amenize meu ser de existir, tudo morreu inexistente de mim, há tudo a chorar pela morte, mesmo que ela não seja dentro de mim, me dilacera, até mesmo sem dor!

Meu olhar entra pra dentro de mim como sendo o que ficou perdido pela interiorização que cessou meu ser por um olhar alheio a mim não pode ser meu, meu olhar deveria me fazer sentir a mim, a vida! As palavras são um respirar profundo, onde durmo mágoas acordo morta, liberto meu ser de ser sem morrer a existir sem ser, é fácil salvar a vida, difícil é salvar a salvação. A morte supera a vida, afasta o sol da minha luz, até que, ao surgir a escuridão, a claridade seja o vazio expandir a tristeza na claridade de onde nasce a alegria e a alegria é luz, é sabedoria! Essa sabedoria faz morrer a solidão! Ninguém é só ao se conhecer, nada posso fazer pela sabedoria, nem ela por mim, ela não pode transformar morte em vida, ver o olhar no olhar é deixar o real num olhar, o inseparável se dá na separação, não há separação no abandono, o abandono é o absoluto, é morrer!

Tudo que é ruim tem um motivo, esquecer o mundo, a vida, deixar o céu se fazer em mim como o fim das poesias e o começo da fala, falar é uma poesia que nasce da poesia, do ser! A vivência é o outro lado do ser, mas somente reconquista a vida ao vivê-la. Vivência é uma maneira de falar ao me sentir, mas sentir também é o que falta por vivenciar nada, resta ao sentir. O que se perde em vivência se ganha em saudade, falta, que é mais que vivência, é o que a vivência não vive, a vivência não precisa viver.

Como se sabe da vivência?! Pelas perdas, faltas, que é por onde a vivência existe, sem perder, nada se tem ou existe! Tudo para ser a perda de mim, já que nada consegui na vida além das minhas palavras, que não sei se se tornam mesmo poesia, meu sentir são perdas, que não podem ser tiradas de mim! A perda quer mais que o meu sentir, quer eu inteira, de corpo e alma nesta perda, até que a perda se torne solidão. A solidão é o fim do sentir, a vida acabou, mas a poesia persiste, ainda existe.

A poesia me fez esquecer a mim por causa do fim, o fim é a única lembrança da vida, o fim pode ter a alma que eu quiser, não posso escolher minha alma, posso lhe dar um fim! O fim é o passado inexistente, que existe como fim! A vida passa despercebida, sem o sol tudo é conectado pela esperança da falta de vida, de sol! A alma não se realiza como alma, sua chance de viver é deixar o sol se pôr como se ele já fosse sua existência, ele é mais do que a existência da alma, é a existência do sol, onde a alma ama ardentemente. O dia é do sol, nunca da alma! A alma usa o meu próprio sentir, como se fosse o fim de tudo, tudo vale o fim, tudo fica no fim, mas não permanece como fim. O fim de um olhar, um ser, um amor, não é o fim de tudo.

O fim é a única maneira de lutar por mim, eu sou luta, a vida é desistência, juntas não se pode desistir, nem lutar pelo nada! As vivências nunca serão vividas pelo ser, o ser é apenas ser, vivências do nada fazem eu retomar a vida sem vivências. Não sinto falta do que não vivi, nada preciso viver em ser. O tempo faz falta às vivências para se manter no real, se acobertar no nada do que me proteger? Será o nada uma defesa de se viver? Não posso me proteger do nada, do tudo posso me proteger, da proteção. A vida cindida, cortada sem partes, separou o nada do nada, para o nada ver a vida, servir a vida.

A vida não se importa com sua inutilidade, faz de conta que o nada a faz viver, o nada se expressa dentro dele, começa a viver pela vida. Nada existe em mim, tudo existe no nada, o nada manda na vida. No meu sentir, o nada é o mundo, nada posso querer ou lembrar para permanecer na lembrança, essa mesma lembrança me tira de mim, sem essa lembrança, não há mais nenhuma lembrança. Tudo acontece no acontecer de mim mesma, o acontecer é a lembrança que falta na minha vida. A vida é estática, imóvel, não contempla a lembrança, ela é ausência de lembranças que ficam marcadas na alma do amor. A alma pode ser justa com a morte, deixando a morte sofrer por ela, nem a morte merece sofrer, arrancar a morte da dor da alma, basta de ter alma pela dor.

A morte é uma alma descontrolada, infiel, perversa, na tristeza que já era esperada com alma, que a luz ilumine a dor, não a mim! Que o sol preserve sua luz da minha escuridão, que não é obscuridade, é clareza de existir numa só dança, num único compasso, numa única canção, num único coração, coração de todos os corações, por isso posso sofrer, amaldiçoar a solidão e me vendo partir num coração que soube amar. Isso é suficiente para eu ter clareza, como se a clareza de existir escurecesse a falta de sol de céu.

A única claridade é o nada que não pode morrer, nem partir, mas pode deixar que exista vida para os que podem nascer, vivi no tempo de amar, esse tempo será o começo de muitas vidas. Não sei se terei tempo para acompanhar a vida de quem começa a viver e demonstrar meu amor. Se você não puder conhecer meu amor, minha alma viva e será como se sentisse meu amor para sempre, como vida, como a vinda da esperança que demora, aparece quando mais preciso: na hora de amar!

A morte sem o ser

A morte sem o ser é como o amor, aparecendo e desaparecendo, para o sol nascer, como o amor que nunca vem, perdido na luz do amanhecer, que supõe que há sol, amor! Não nasce nem mesmo do nada, apenas o nada pode unir a sombra da vida com o sol! Para o amor, o ser é apenas uma palavra nunca dita! A alma se contorce sem dor, e sonha com a dor, onde o acordar é o infinito, tudo é feliz sem o infinito, as coisas, pessoas precisam de um fim que seja infinito, sem durar um segundo, mas que me tira o fôlego, paro para contemplar o infinito do fim, como se, pelo meu amor, eu visse o meu fim se prender em cada alegria, cada vida compartilhada comigo!

A alegria tem que vir aos poucos, somente aos poucos sinto alegria. A morte sem o ser é a vivência infeliz de nada pertencer! A essência é uma morte que compreende o ser. Ela é tão boa para o meu ser, que o meu ser idolatra a morte! É como se somente existíssemos eu e a morte. O que mais importa na vida do que morrer?! A morte não pode ser minha, ela não é de ninguém. Não há devaneios em forma de poesias, por isso tudo está ausente num vazio sem fim de realidade! Faço da minha alegria Deus, da alegria o nada, pois não se precisa ser feliz perto de Deus, estou plena. Não existe alegria na plenitude, mas a plenitude não é triste, é o ser inteiro em si mesmo!

Não compreender é compreender mais ainda o que não se pode dizer nem com dor: que vou morrer! Pois morrer não se fala, nem se sente. A morte nunca será para o ser o que é em si mesma! O sol ilumina a morte, ela é a luz das almas! A luz sem luz, é imensidão! A luz caminha sem sua imensidão! O tempo é a luz que falta para florescer o amor! A falta do saber fez eu compreender a vida com poesias. O amor não me mantém lúcida, não pode saber por dentro de mim, pois, dentro de mim, apenas o amor que não me faz ser! A vida, o amor, necessita de mim! Eu não sei ainda o que é morte sem o ser, nem pensei que as reflexões dariam a minha morte, o meu ser!

Ao tocar outro ser, sentirei o deserto da sua alma, e amarei ainda mais, pois sua vida foi devastada pelo sofrer da solidão, me faz compreender por que não ama: é porque sempre existe amor em mim! A morte no meu ser é a conquista das crises, como se a morte fosse cessar com o tempo! Como devo agir? O que devo falar à morte, lhe explicar por que não posso ser eu? É mais fácil explicar a morte do que a minha inexistência. Talvez, eu sucumba na existência de um adeus, para recuperar quem sou. A vida é carnal, a morte é o transcender da alma! A única coisa de que a vida precisa é ser esquecida, como sendo o amor um sopro de luz, a escurecer a eternidade: única coisa que sobrou de mim!

Interminável

O ser pode ter fim, a morte, jamais! Ela é o que ficou inacabado no ser, para ele não ter fim! A morte nasceu do amor, tem mais privilégio do que o amor! É interminável, o que se termina por amar os elementos, para se construir o amor, ter um amor intenso, pelos elementos da morte! A morte é o amor consumado!

Nada da alma se guarda no amor! Não posso fazer a vida feliz, mas posso me fazer feliz entre lágrimas e sorrisos, com toda a vida, toda a morte que existe em mim! Tudo me inspira longe do que pode ser, que são apenas incertezas, a esconder minhas lágrimas. Se não há mais amor, tenho que ser feliz por ainda existir sem amor! Mas nada será concluído sem amor! Pelo amor, não posso deixar minha felicidade, não existe amor infeliz, existe a ausência do amor. Amo, mesmo que o amor não exista, que eu o imaginei!

Se ele for apenas o imaginar, eu o amo assim mesmo, pois o amor imaginário não é menos amor que o amor real, que transcende, me faz viver! É pelo pensamento que se sente o vazio, o vazio sem pensamento é nocivo, é plenitude. O vazio faz do amor amor. A esperança não morre, o que morre é ter esperança, como se ela fosse uma coisa, um objeto do qual vou me apossar! Às vezes a esperança é a última e a única lembrança, que serve por todas, por isso, vou agarrar esta lembrança, com toda a força do meu amor!

Quando o amor já não tem forças para amar, deixa de ser amor! Mas o amor nunca deixa de ser alma, é mais forte do que ele, é mais forte do que o meu arrependimento de amar! Talvez, esse arrependimento tenha o mesmo fim que a morte. O amor, mesmo assim, é tão feliz, me comove tão profundamente, que consigo respirar!

Quando a vida encontra o mar

Quando a vida encontra o mar, ela é apenas a margem do mar. A vida é o único momento vazio, que foi deixado sem viver, os outros momentos vazios foram vividos com devoção, deixados no mar por esquecimento da alma. Daí, veio a desilusão dos momentos feitos com alma, erros nunca deviam ter existido! Não vivi nem mesmo o momento vivido por si só! Momentos de alma me fazem morrer de êxtase, numa aflição, de alegria, onde sei que vivi todos os momentos, apenas para não ser só!

Daí, a alegria invadiu meu ser, e o mar cedeu à vida, deu a ela o infinito de si mesmo. Quando a vida encontra o mar, é porque há esperança, que ela se renove, pelo infinito do mar! As esperanças do mar são as mesmas da terra: que a vida não continue só! Para que a vida não seja só, preciso deixar algo de meu na vida: um sentimento, uma palavra. Quem sabe, amá-la como amo o que sinto? Tudo que sinto pela vida termina em mortes. Nada se encaixa na vida. Quando não posso amar a mim, amo a morte. Por que é tão difícil amar a vida? É difícil, porque a vida não existe, nem mesmo pela infinitude do mar, do meu amor!

A vida não me deixa amá-la, então amo a morte, para que algo tenha um significado, alma, coração. A morte pode ser a razão de tudo. Mesmo assim, desconheço a razão que a razão conhece. Preciso viver, deve haver vida em algum lugar, amor… Mas, dentro de mim, há apenas eu! Não foi possível conhecer a vida como vida, mesmo assim, me perco ao olhar o mar, como se o fim do mar fosse a vida, noutro mar, noutro ser, a se derramar de amor por mim! Faz tanto tempo que sou amada, que estou anestesiada, já senti demais o amor, quero viver, como se cada onda do mar fosse o amor a me buscar, me amar! O amor pode ser encontrado no inencontrável do amor, de mim, do que vivenciei por amor! O amor retornou como mar, como uma esperança vazia, de me afogar em mim, para perder a infinitude de amar!

Para que o amor me ame também! Desde que deixou de me amar, o mar perdeu seu encanto de vida, secou em sua morte. Mar, para que viveste um dia, se eu não o verei novamente?! Agora, morri junto contigo, esta era a poesia que faltava eu escrever: a minha morte! Depois disso, nem o silêncio nem o vento se moveram. Boiavam no vazio do ar, da solidão! Mesmo assim, não há tristeza, nem lamentação: tudo foi como tinha que ser! Essa é a perfeição da vida, essa é a sua sina: a vida sabe o momento certo de se retirar, não é mais necessária sem o mar, o sol, sem a alegria e a vida humana. Às vezes, pareço-me dentro de um mar profundo, mas, em vez de vida, vi apenas o nada, o vazio! Agradece, pois o ser faria a vida sofrer, e a vida faria o ser sofrer, nunca se uniriam, por mais amor que tivessem um pelo outro! Nada restou, nem pelo ser, nem pela vida, nada restou, além de um leve soluço resignado, da presença de Deus!

Minhas mãos, minha vida

Não quero machucar o amor no meu amor, quero mãos livres para criar a poesia em mim. Minhas mãos curam a vida da poesia, curam a poesia da vida. A vida não existe sem poesia. Minhas mãos, é um momento impossível de me dar sem poesia! A alma une o que foi separado, para a poesia destruir dentro de mim a pessoa que não sou. Meu corpo me fez ver minhas mãos mais do que o meu olhar! O olhar são mãos desapegadas da vida, sei que te farei de minhas mãos, de minha vida! Escrevo para essa dor! Minha alma jamais amará a vida como eu amo. Deixo minhas mãos existirem, tocarem a incompletude do amor, onde minhas mãos são livres pra criar!

A incompletude é uma criação plena de mim! A vida não sabe como nasci. Quero deixar um poema para o poema, esquecer que tenho mãos, ser livre para dizer: não consigo amar a vida, quanto mais eu tento, mais a ignoro! Não quero que a vida faça parte dos meus sonhos. Nem sei se quero viver, mas sei que quero que fique comigo um instante, onde seja inteira para me amar! Errei em te amar?! O que é este esquecer, que lembro mais do que qualquer esquecimento?! O que tem por dentro que não pode me amar?! Eu já não sei quem é você em mim, faz tanto tempo, que perdi até o tempo que fez! Pude te amar, minhas mãos são para toda vida.

O meu amor, que não é apenas vida, é morte, perda! Minhas mãos existem apenas para que eu escreva, tentando compreender o amor que me falta, nas mãos, na alma, no silêncio, no grito, no orgulho, na decepção! Eu vivi o que pude amar, mesmo assim, não te esqueci. Grito pra mim mesma, que existo sem você. Que, junto das minhas mãos, conquistarei o infinito sem você! Mas, se eu procurar o meu fim em ti, me aceita, nem que seja para me ver morrer! A aceitação é uma liberdade infinita! Quero-a livre, para quem sabe, um dia, possa me amar. Enquanto te espero, tenho as minhas mãos, meu corpo nessa espera, que é a coisa boa em ti: te esperar, mesmo que nunca venha, eu sei que ainda preciso te amar, assim como preciso ter mãos para sonhar!