Blog da Liz de Sá Cavalcante

Memória visual

A morte é a memória visual de tudo que vejo. Sem a morte, a memória é apenas visual! Sem a morte, o que vejo se torna o que vivo! Minha força é o amor. Esquecer piora a dor! É mais fácil conviver com uma dor viva do que com uma dor morta! Não há distância nessa falta de ser! Apenas a ausência não é falta de ser! Dor, devolva sua ausência ao mundo, faça a vida feliz! A alma do tempo partiu da vida do ser! Nunca o meu ser se sentiu abandonado pela alma do tempo, foi ela que me fez viver longe do tempo, das lembranças que, traindo o tempo, conseguem se manter vivas sem mim. É mais fácil pensar nas minhas ausências do que no meu pensamento! A ausência se perde no meu amor! O que eu vejo não são lembranças, é a realidade de uma vida, perdida nas lembranças! Lembrar é uma maneira de não amar a vida! Tudo que sinto não é o meu olhar, sou eu! Nada fará eu viver eternamente o que cessou em mim, nem mesmo a ausência fará eu voltar a mim! Tudo se esclareceu na escuridão, no vazio, pedaço de mim que não foi arrancado de mim! Mas, também, esse pedaço de mim não sou eu, não é ausência, é o renascer de uma alegria, que é mais do que viver! É a solidão de uma alegria que encontrou seu destino!

O desespero como conquista

Meu interior é construído por faltas! O que deixa de viver por viver é este momento, que acabou no inacabado. A única maneira de ser é aceitar o negativo do amor. O ser, com toda sua negatividade, não é um ser negativo, meu ser é negativo apenas ao amar! Ver, amar, não quer dizer que eu exista. É por amar que não existo. O sentimento existe sem o ser. O sentimento é a vida, por isso nunca sentirei a morte, sentir a morte é ilusão! O infinito é a luz da vida! Não ter amor é ter a alma livre, para sonhar, viver, ser. O desespero da liberdade é o sonho! O sonho é o fim da liberdade de dizer adeus à vida!

O que nego e o que é negado 

Tudo desaba, o que nego não é negado. Por isso, cessa o desaparecer: é a afirmação da vida! Nego a vida, como se ela pudesse ficar triste. O que nego existe, o que é negado faz com que o que existe não exista mais, pela própria negação do que é negado. O silêncio é uma negação. A alma é a negação do ser! Tudo que vivo positivamente posso viver negativamente! Mas é a mesma essência. A alma vive para não viver, lembrar. O ser vive para viver no que esquece. Perdas só são perdas se eu sentir como perdas! O que há para perder na vida? Já que não posso viver, sendo a vida perda, transcendo no nada. A ausência de vida nasce, sem morte, sem solidão. O que a vida leva e traz de amor é a ausência do ser! Nada pode ser negado pela ausência, é como se a ausência tivesse que aceitar tudo, pelo ser, que ela não é. A ausência é dormência na alma! Se tudo fosse alma, ela não seria essencial! A essência da alma é não ser tudo, a essência do ser é ser tudo. Por isso, a essência é tudo, o ser é nada! A falta de alma é alma. A continuidade do pensamento é seu significar. Mas, a continuidade da vida nada significa para o meu amor. A vida nada significa, mas, quando estou a viver, a vida ganha significado, perde o meu ser! A falta de significado tem mais valor que o significado. A alma tira a leveza do corpo, o corpo é leve, nele mesmo. Às vezes, o corpo afunda na alma, e consigo enxergar minha fragilidade com alegria. Vejo que não preciso de nada para ser feliz! Até o nada é feliz, flui como alma! Se tivesse que viver, morreria como ser! A ausência é além da ilusão. Construída sem ausência, a ilusão não me ama, eu amo por uma ilusão! A morte manda na consciência, onde a ilusão é o meu olhar! A união do ser e o nada é a ilusão! Quando metade da vida se vai, a outra metade não permanece, nem como ilusão!

O tempo do tempo

O tempo do tempo não é o tempo, é a morte! Eu sou a distância do tempo, da morte, do amor que torna o tempo o que ele é! Amar também é perder o tempo para o amor. O tempo existe sem amor. Acordar é um instante perdido em sonho, se dividindo em saudade. Mas, saudade de quê? Me senti ausente de mim, da saudade que sinto, que sempre será presença em minha vida. A alma resplandece sem a alma, onde a dor é luz, que ilumina o resplandecer, como se resplandecer fosse alma. A paixão pela alma é escuridão, onde não se pode amar o céu, sem ir ao céu! O tempo do tempo é um céu que não se perdeu dentro de mim. O tempo não pode cessar, meu ser cessa, como o tempo que foi perdido em ser! O tempo não é mais tempo, é lembrança eterna de que nada existiu em mim pelo tempo! Existi sem o tempo exterior e interior, sou apenas eu em mim, sem tempo algum! A existência é a ausência do tempo, no tempo que ficou, a durar como sombra da ausência. A ausência é uma separação com a alma, no amor que ficou, sem ausências ou presenças, apenas eu, apenas nada!

A paz da vida não é a mesma paz da morte

A alma, partindo por sorrir, como se a paz da vida fosse a paz da morte. Percebi que não é a mesma paz, pelo desaparecer do meu pensamento, por dentro do meu amor! A saudade é um rio que corre sem água, na alma do nada, que não é vazia, como o rio que se perde num deserto de água, para satisfazer sua saudade, que não é saudade de mim, é saudade do tempo que se foi, no amor que sinto por ti!

Desamparo da eternidade

A eternidade do meu fim é a eternidade do meu ser, mas, sem alma, a eternidade é vazia, como sendo o valor, o significado de haver vida. Vida, foste a eternidade de um instante, onde a poesia me escapa, como uma falta! Não é fácil ser feliz pela eternidade, é uma ausência que me falta, como luz que não se apaga! Eu vivi a eternidade em plena luz, como se o meu olhar fosse o significado da eternidade, que esclarece a luz, na inconsciência da escuridão. A luz não foi sempre luz, antes era a imagem de Deus, sem eternidade, numa igualdade de amor, de fé! A alma do invisível é o eterno da eternidade, que não é apenas eternidade de olhar, é também eternidade sem o olhar, que torna a eternidade previsível! Nada pela alma é eterno. O ser é a eternidade da alma! A eternidade é a chance de lutar pelo meu ser! O ser é eterno no que faz, no que ama! O ser é o conhecer da eternidade como eternidade. Há sol, há vida na eternidade? A eternidade é o que já surgiu pelas minhas perdas. Agora, perdi a eternidade, até como perda, mas não ficou vazio sem a eternidade, a falta da eternidade deu vida à vida. Na presença da vida, a eternidade se recolhe, até ser o suspirar do brilho de uma estrela do céu! A eternidade não é o céu, é a vida, que recebeu, desde o começo, a minha eternidade de ser, que ilumina mais que o sol, mas não me fez viver!

O nada da esperança

Não vê, é o infinito, que se perde no olhar. A morte não me deixa só, no nada da esperança! É preciso sorrir para esquecer a solidão da esperança, para um mundo melhor, sem vida, sem paz! Apenas a morte do meu silêncio, a embalar a esperança de um mundo sem mundo! Por que não me vê sem esperança?! Eu nada posso oferecer de mim, sei apenas sofrer, numa esperança determinada por mim!

A força de um adeus

Morte é o imaginário possível, a vida é o imaginário impossível, sem a força de um adeus! Para viver, é preciso deixar o outro viver! É como o sorrir do sol, molhado de luz, luz que invade o viver, onde a força do olhar é a força de um adeus! O sorrir é o olhar desperto de emoção! A vida é a força do adeus! A imaginação é desgraça ou salvação! O que eu imagino se torna pensamento, como um mundo novo, numa vida antiga! O adeus torna-se o meu ser em mim! Quando a alma fecha meus olhos, sei que irei dormir, sei que amo, durmo, num adeus infinito! Ao menos, o adeus é sem fim, como se a vida nascesse da morte! A morte é o fim de um adeus!

A saudade da imagem não é falta da imagem

Gosto de transformar a aproximação no meu imaginar. No meu inessencial, é difícil aceitar ser amada. É um resto de luz, que não me deixa só na escuridão pela voz de alguém, me sinto só, pois percebo que a saudade não é real, pois é o retorno do nada, a desaparecer na escuridão, como sendo a profundidade da minha poesia. Enfim, eu! A presença do possível é que torna tudo tão impossível, que sou capaz de amar, me entregar de corpo e alma ao impossível!

A verdadeira existência da consciência é o amor

A alma vive sem o ser, o ser vive sem a alma, mas ambos não vivem sem o amor! O nada nasceu do amor, onde tudo se perde, nada permanece como sendo o que restou do amor! O nada é o que restou do amor, do próprio amor. O nada modifica a vida pra melhor, no nada a vida é livre para pertencer a alguém! Estimule a vida sorrindo, que faça a vida sonhar, estremecer de dor, agonia. O corpo se mostra morrendo, mas se vê vivendo! A verdade da existência da consciência é o amor. Mas o amor não satisfaz a alma, o corpo! A alma do corpo é a morte!