Blog da Liz de Sá Cavalcante

O que sinto além de mim?

Que falta faz a ausência no amor. É uma falta tão grande que me dá paz. A ausência é absoluta com você. O que mais posso querer? Escrever é minha alma, onde ninguém a sente. Nem a minha solidão quer sentir minha alma. Minha vida é minha alma. Nada preenche a alma, além do vazio que ela finge não sentir quando me sente. Mas o que a alma poderia sentir por mim? Em mim, a alma se sentiria amada? Nada pode faltar. Nem a ausência do tempo, nem a vida, nem o amor, nem a falta que o tempo sente de si mesmo. Por isso não sinto falta do tempo, que podia ser encontrado no que vivi, sem perceber que vivia sem o tempo. Do tempo restou a mágoa de poder fazer do tempo o que eu quiser. Posso amá-lo. Ele ainda se sentirá desolado! Desisti do tempo antes de ele partir, como lembrança de depois! O brilho da ausência é sem sol. A ausência é a falta de eu amanhecer!

Meditações aflitas

Morrer me colocou no mundo. O mundo supera a vida! A vida é para mim sem eu ser nada para ela. A vida é pura, mais simples do que a simplicidade. Ninguém sabe mais como é a ilusão de vivê-la. Mas a ilusão sabe porque me ilude. Talvez a realidade não seja suficientemente boa para o meu sentimento, que é por onde não dói a ilusão. Descobri pela ilusão minha verdadeira aparência verdadeira. O ser não morre pela morte, morre de si mesmo. O fim da vida é o ser que torna a vida incapaz de morrer por mim, em mim! As faltas de erros não são perfeição, são o ser em busca de si! O amor não pode ser um erro, talvez a vida tenha errado com o amor. Pensando na inexistência de mim. A inexistência me percebe pelo que não sou, e assim sou para que a inexistência não me perceba sem mim. Apenas minha alma pode perceber que não existe, pois ela também não existe. A vida não é minha existência. A vida é como eu a sinto. A vida era irreal para mim, mas aí aceitei minha dor, e desde então sou feliz, como um pássaro que não tem o céu para voar! O mar que não leva a dor, onde ela tem que ficar. Nem a eternidade pode trazer a dor de volta para mim. A liberdade de ser a liberdade de ter a realidade, como se fosse alguém. Quando a vida vai de encontro ao mar, o mergulhar de incertezas é meu ser a se encontrar sem nenhuma realidade. A única realidade é o amor! As meditações continuam aflitas, tentando amar como se fosse impossível amar! Amo, pois nada me importa em amar. Mas necessito amar como se a esperança de amar fosse o céu. O céu deveria deixar umas estrelas nos meus sonhos. Não desaprendi a amar por sonhar. O sonho torna o amor mais lindo, mais real, como um desinteresse pela vida. Olhar as estrelas é minha vida, onde a presença do sol se faz de estrelas!

Tão livre quanto existir

Faz tempo que vejo a vida com olhos de vida. Não vejo a vida com meus olhos ausentes. A vida faz dos meus olhos o olhar que embeleza a vida de sonhos. Os olhos sonham de olhos abertos. Preciso trazer a vida para os meus sonhos pela força do olhar, que não tem a força da vida, mas também é infinita sua força. Quando as duas forças se unem, surge o céu, criado por Deus, pelo amor humano e pelas ausências, que nem sempre são o ser, nem sempre são Deus. A alma de Deus não tem ausências nem presença. Ela é o próprio Deus. Mas Deus sem alma, sem amor, é o mesmo Deus. Continuaria a amá-lo até pelo que ele não é!

Manifestações da alma

Nunca houve manifestação da alma. Tudo sofre e vive só, sem a alma. A claridade se perde no vazio do sol. Se eu não olhar o mundo com meus olhos, o mundo parece acabar pela vida que tem. A eternidade destrói o esquecimento destruindo o ser! Vida jogada fora no exterior do sentir. O vazio não esquece a companhia de si mesmo, como um renascer do sol emprestado de ternura. O que é o real, quando eu o vivo dentro de mim? Eu não sei o que fazer com a vida. Quando ela me abraça, parece que me compreende sem falar ou escutar. Como minha lembrança pode ser sua? O amor não decidiu ser amor. Distanciando a vida, como resto de esperança que não foi vista como esperança, foi sentida como vida. As tentativas de viver já são uma vida. Apreciar a escuridão é sair de dentro do abismo, que é como se fosse o sol a me devolver a mim pela escuridão do sol, onde a noite aparece sem me tirar essa sensação de vida, de paz. Um vazio infinito no meio do nada, a fazer do amanhecer o meu sorrir pelo sol. Sorrir para o sol é melhor do que ter o sol. Quando eu abro os braços para o céu, sinto a luz do sol a banhar meu corpo de luz. A alma é uma maneira de sentir o sol mais uma vez, como uma vida que se foi sem ter sido.

Pensamentos

Pensamentos, eu não penso por ti, penso pela alma: ela é o motivo de eu ainda pensar! Nada tem algo que se pareça um pouco com a alma para eu matar a saudade de ter alma. A alma tão pequena caiu. Tentei segurar, desabou das minhas mãos. Pensamentos de alma não se perdem. O ser existe apenas para que exista alma. Pensamentos existem mais do que a vida! A vida não é eterna. O pensamento é eterno. É o pensar que mantém a vida. Mas o pensar não pode ser minha vida! Há mais dor que vida. Há vidas que perdoam a alma pelas vidas que não tiveram. Por existir alma, nada acontece em viver, por isso, a vida não é monótona. Na alma sempre algo acontece. Por isso, ela é monótona. A existência de Deus é a vida. Isso o meu pensar não capta. A vida é mais importante para Deus do que ser Deus. Nunca mais a alma desabou ou esmoreceu. Ela já percebe que existo, pois existo pra Deus.

Saber olhar o que vejo

A ausência de sentido é a subjetividade que dá sentido à concretude. Meu olhar é o que vê na inexistência de um coração para amar! Vou começar meu ser pelo seu fim. Quem sabe assim o fim seja outro? O fim do meu olhar, distante do meu fim, vê a morte! A morte tem limite, é vulnerável. Não basta eu querer a vida. É preciso que ela me queira, onde o para sempre acaba! Não basta sofrer. É preciso ser esse sofrer alimentando a alma de morte. A morte não sabe a diferença da dor e da alegria. A morte não sabe que é feliz, que nada mudaria nela. Mas esse desejo de viver é incontrolável. Há sempre uma pedra no caminho de quem se ilude e tenta sorrir. A permanência é o fim do que ia surgir sem a permanência! Minha permanência é de alma! O que busco de inesquecível na permanência é o seu fim. Somente o fim da permanência permanece permanência! Capturando a morte, como sendo o que restou do meu ser! Salvar a morte de sua permanência é lhe dizer que foi um erro me matar, quando a minha poesia dá vida à vida! Não quero me parecer com a vida, quero me diferenciar também de mim. A humanidade não acredita em Deus: razão de existir vida. Sei que não serei feliz com a vida. O fim da vida é a minha história de vida. Subestimo a morte. Ela já provou do que é capaz. Quando eu era morte, me queriam agora. Sou vida e não me querem. Estou só, continuo sozinha na minha morte, percebo a vida. A vida começa na alegria. A alegria de ter a vida é a mesma alegria de perdê-la. A alma dorme eternamente como se tivesse o meu amor! Como viver da alma se ela levou o meu amor? Quanto mais vivo, mais me desconheço. Não sinto a vida passar no meu desconhecer. Talvez, se eu conhecesse a vida, ela seria toda minha? O que deseja a vida, vendo o tempo desaparecer? Ela não sabe o que fazer para o tempo ficar. A alma sabe quanto tempo existe em mim? O tempo é uma maneira de sentir, que não explica a vida e a torna mais confusa dentro de mim! Dentro de mim, a vida partiu para não abençoar minha morte! Mas abençoar já é morrer, sem abençoar a morte. A morte deixa a vida. A vida terá que viver sem morrer. Meu ser não precisa morrer para partir. A vida ensina a viver na alma, deixando o corpo morrer para viver! A vida é muito mais me encontrar do que viver! Mas quero ao menos que a vida saiba da minha existência, que, mesmo na dor, existe! Nada nasceu ou foi feito para existir. O existir existia antes de tudo! A única esperança do ser é a morte, e a de Deus é a vida!

A infância é a ausência do ser

Busco a infância da minha ausência. A vida, com todas as suas ausências, é presença eterna em mim! Se eu não tivesse tido uma infância, não teria ausências. A ausência da criança que fui é a forma como abraço a vida! A essência, fim do amor, é a ausência, é a única a agir sem ausências! Leio a alma da ausência, na minha presença. O amanhecer é a ausência de ser! A ausência inesperada do retorno da ausência. É como possuir o mundo, a vida, pelas ausências. Ausências de uma vida inteira, que foi lembrada sem a vida! Não amo o que a vida me dá, amo o que me dou, sem expectativa de vida. Um dar que termina em ausências. Ausência é penetrar no mundo, sem o mundo, onde o mundo é a vida, sem ausências, sem as tuas desculpas vazias, de onde nasce a minha ausência! Deus é a ausência da presença, como a falta de luz no olhar da presença aflita! Mas a aflição comanda a luz feito alma. Desata a vida num único suspirar! Busco significado para a ausência. Seu significado é o meu sorrir. Meu sorrir explica e justifica a ausência. A ausência é sem equívocos. Posso escolher o que quero viver de ausências. Ausência traz o ser para dentro do ser. O interior do ser é interior ao ser. O que nasce do ser é apenas a realidade sem o ser, que se acostumou a nascer de ausências! A ausência precisa de mais ausências, sem nunca chegar a presença. Para que quero a presença, se posso ser ausente? A ausência é reconciliação comigo! A ausência é sagrada. Nela Deus está! O valor se perde sem perdas, ausências. A ausência é irracional, por isso ela tem a inteligência da vida. Será que o amor da vida é mais essencial que a existência do meu ser? A ausência é o alimento da alma. Se a alma da minha ausência fosse minha alegria, não seria feliz por ter alma. Alegria é a presença da alma na minha ausência. Custou até a alma me aceitar. Essa aceitação é o nada da vida! A alma me torna concreta. De ausência em ausência, vou deixando-me viver. A alma é incomunicável. Apenas a essência se comunica com a alma, numa ausência absoluta de você! A ausência não acontece, se essencializa. Com minha essência ausência. Minha ausência é sua essência. Temos uma única essência, mas somos diferentes. Minha ausência é de mundo, companhia; a sua ausência não vem do mundo. É sagrada como a lembrança tão ausente de mim, que sou eu! A lembrança não consegue que a ausência permaneça em mim! Se não lembro de ser feliz, viverei como a minha ausência, mendigando solidão, revirando o céu para saber o que fiz da minha alegria! Ela se tornou o esquecer da ausência, mas isso não me tornou feliz. Quero sentir que a ausência é humana, que ela me deixe sofrer o que tanto desejo. Mas não sofro pela ausência. Ela é apena solidão. Solidão que me desperta ao mundo do desconhecido. Chamo-o de eu. Eu no desconhecido de mim, onde faço parte da descoberta de viver. Tudo começou como um amor que cresceu, se expandiu, tornou-se vida, que não existia como ausência. Ela ausente por mim, em mim. Amei para conquistar a ausência, como se houvesse motivos na ausência para deixar de amar! O amor aceita as ausências, como o que falta no amor para o amor surgir pela ausência de depois! Depois do amor, a ausência desaparece. Ela somente me queria livre para amar. Agora, toda essa liberdade de amar devo à ausência. A ausência me impediu de morrer. Não sou só, sou ausente de mim. Ninguém me fará aceitar voluntariamente minha ausência. Não preciso dos estímulos que me ausentam do corpo. Parece que morri! Mas é apenas ausência num fim que não pertence. Pertence a Deus a ausência, a vida. Mas o fim não se pertence. Eu torno o fim infinito em apenas dizer amor!

Impaciência da alma

Num simples encontro de olhar, encontro a vida. Quero encontrar mais do que a vida. Quero encontrar eu na vida! Seria como se a vida me olhasse por dentro dela. Nunca mais náusea, nem dor! A resolução está na impaciência da alma, que cessa a ansiedade de morrer por uma impaciência de viver. Debaixo do céu, a escuridão, fascínio da alma, onde o encantamento da escuridão se desfaz na alma, numa admiração de viver! Vivo mais ainda pelo que não se vive, que constitui a realidade sem vida, onde deixo meus mais lindos sonhos para uma vida que não é real, mas não sonha. Quem dera a vida sonhasse. Juntas, para sempre, eu e a vida, com o que não nos separa. Ao menos em sonhos estamos tão juntas. É como se fosse real eu a viver! Um sonho a menos meu entristece a vida. A vida quer que eu sonhe eternamente em mim, onde não tem como viver a realidade. Se incorpora a poesia que já existe em mim. Às vezes acho que nasci dos meus sonhos, como se eu tivesse entorpecida em sonhos que duram mais do que eu! Pelos sonhos, construí minha vida! Às vezes sinto falta do real, de conviver com meus sonhos e lhes dizer que os amo, como se já estivessem prontos para sonhar! Eu morreria para sonhar esse sonho, do mesmo jeito que sou esse sonho, que todos sonham no insonhável de ser!

Aprendendo com a vida pelo que sou

A ausência tem mais sentido do que ser. Ser é ausência de mim. A ausência sabe coisas que não sei de mim. O sentido é sem nenhum sentido. Eu vivo para ser ausente da vida, da morte, que nada significam para mim, em mim! Sou a ausência absoluta de tudo, a vida, a morte, cessam na minha ausência. Não tenho presença, pois ela seria a morte, única presença que eu posso ter. Se eu vivesse, a minha presença de morte não pensaria tanto na morte. Sou submissa. A ausência é tudo que sei, que amei, até eu descobrir que posso ser amada sem ausências, posso ser amada sem mim, mas sempre amarei quem vive em mim como se não houvesse ausências, mortes. No fundo, bem lá no fundo de mim, nunca quis ser eterna. Quis apenas que vivessem em mim. Alguns encontraram seus caminhos, porém continuam vivendo em mim. Outros preferiram ficar com a minha ausência, por ela não ser mais eu! Perdi tantas coisas, mesmo com elas ausentes, pela ausência de mim. Não desejo ausência, nem para quem me fez sofrer antes. A dor me fazia presença da ausência. Agora, sou presença de mim mesma, e junto da vida, verei que a ausência foi um erro, que ela não é amor. Aprendi com a vida a cuidar de mim, sem ausências, sem dor, sem interrupções. Espero que minha presença seja necessária à vida. Mais necessária que a minha ausência foi um dia. Agora, eu sei. A minha ausência nunca foi eu. Minha vida não estava ausente, estava me esperando, para eu perceber que minha presença é minha vida. Ela pode não ser perfeita, mas me faz tão feliz que é como se fosse perfeita. Eu deixei a dor na dor. Enfrentei os meus medos. Agora conquistei a vida com meu amor. Muitos vieram viver no meu amor, que é minha melhor poesia: vocês, que fazem parte de mim de forma única, rara, que fizeram até parte da minha ausência para não me perderem. Agora, vocês me têm como companhia eterna na vida, na morte, na liberdade, no aprisionamento, no silêncio e nas palavras. Não tenham medo de me perder, deixem seus medos nos meus medos, teremos juntos, inseparáveis, as maiores alegrias, apesar do medo de viver quando eu perceber que companhia é uma coisa espiritual, alma na alma, não terei medo. Mas, sou feliz, mesmo com medo de amar, eu amo tanto que meu medo se fez amor também, tudo sempre é amor. Vi que além de aprender a vida pelo que sou, aprendi a amar onde apenas o amor importa, o amor nunca me fez infeliz, eu me fazia infeliz. Aprendi a sorrir, até em meio as lágrimas. Não posso prometer que vou ser sempre feliz, mas posso prometer fazê-los felizes com o meu amor. Nem a minha esperança sabe porque sorri. Está feliz, na fé inabalável de viver, que trouxe vida, onde antes somente havia mortes. Mas as mortes precisam da vida para morrer. Tudo está feliz na morte, na vida, na minha presença que agora sabe que Deus existe tanto, que me amparou em cada luta, em cada ausência, em cada desprezo, Deus nunca me abandonou. Sou eternamente grata. A única coisa que posso oferecer a Deus é o meu amor. Minha alegria, que exala Deus, se expande em Deus, abrange Deus, onde Deus é só. Amo tanto Deus, que nunca mais Ele será só suas palavras, são minhas palavras. Seu amor, meu amor, nem a morte pode nos separar, agora sei o quanto sou feliz, o quanto nunca fui só.

Por suspirar por mim

A vida é apenas morte, que se perde num suspiro de adeus. Existe mais nada do que vida, a vida não é o nada. A lágrima rompe o silêncio no silêncio da dor. A alma é sem silêncio, sem palavras, é uma exclamação. O vazio de ser alma é o ser sem o vazio de ser! A vida não morreu, mas deixou de ser vida, onde somente a vida existia. Prenda o meu suspirar na sombra da minha ausência, para eu não ser capaz de sofrer. O que restou da dor não foi eu, a vida é inabalável! A alma desmaia em mim, para não me esquecer da minha morte. Não é apenas alma, a alma é a concretude das coisas. Falta alma na alma como se nunca mais fosse me perder, sinto a alma me perdendo em seu vazio tendo fé no seu fim. O fim pode acabar feito alma, mas não pode acabar nele mesmo. O fim é meu próprio fim. Não existe fim nessa esperança solitária de não morrer. Evacuar o vazio sem vazio faz com que eu me lembre de ser triste. O irreal existe sem a alegria da realidade. A realidade não vive sua realidade, vive a minha realidade que é apenas te olhar, vida, como se pudesse te ter em mim. A realidade de morrer é a única realidade que satisfaz a realidade. O suspirar não é real, é o princípio do que nunca acontece. Eu vivia uma esperança, não vivo a vida. Mas, a vida não era para ser uma esperança, sem o destino do ser que não é o vazio, é o esquecimento, que é pior do que o vazio! Por suspirar por mim, a morte encontrou seu suspirar, me deixou pensar em mim, não morrendo!