Blog da Liz de Sá Cavalcante

São apenas sombras

Alegria, eu durmo sua ausência, desperto na sua morte. Sentir como esquecimento, são apenas sombras. Esquecer é a pior dor, que dispersa a sombra no nada. A sombra é a falta da imagem, para poder ser aparência. Percebo nas estrelas, não o seu brilho, mas sua ausência de nada. Sua vontade de não ter brilho, de apenas estar no céu, onde a sombra do espaço vazio é a luz que a estrela busca.

A brevidade da vida

O ser é apenas aparência de ser. A brevidade da vida é o ser. O ser no ser é morrer. A ausência de vida cessa a morte. Fechar os olhos pra quê? Meu olhar é a distância do mundo. O que restou da distância do mundo foi o meu ser. O mundo existe apenas na distância do meu ser, que é a mesma distância do mundo, mas não é a distância de Deus. A distância de Deus é o amor de Deus. Do mundo, restou o coração de Deus, sem Deus. Deus é a vida, que une o coração de Deus a Deus. Mas o amor de Deus se tornou o meu amor. As coisas me reconhecem, no infinito do amor. Instruir a vida com o nada não é saber da vida. A eternidade é um minuto, é o ser, que não se perde em viver. Viver é perder esse único minuto de eternidade.

Trazendo a luz da vida pelo nada

Luz, forte luz do nada, a desaparecer no desaparecer da vida, sem o nada. O nada é melhor do que viver, no nada há luz. A essência não é livre, como a luz que a ilumina, que pode se transformar em nada. A essência é apenas ela mesma. Na falta de essência, existe a luz. A morte não precisa morrer, precisa de um adeus que seja sua luz, nos momentos de escuridão. Tudo sobrevive como sendo o nada do nada. Pelo nada, vejo a vida sem solidão. A solidão é a falta do nada. O corpo é real, não tem realidade nenhuma, por isso é real. Real pelas carícias da alma. Por ser real e irreal, ficou-se apenas a luz, abafada pelo amor da claridade, que não é luz, é o nada banhado de luz. Uma luz, que esclarece o nada no ser, é tanta luz, e nenhum mistério, nenhum saber. Tudo que sei é essa luz perdida, na sombra de existir. Luz, foste a luz de um instante. Nada é luz, nada é escuridão. Tudo é apenas esse para sempre, onde jamais exigi luz, quis somente que essa vida fosse eterna, não de instantes, mas eterna de mim, por mim. Trazendo a luz da vida, para o nada do meu amor. A luz da vida se faz sem sol, sem a vida. A luz da vida é o dia a dia, que é mais essencial do que viver. Muitos vivem como se os dias fossem iguais e pudessem se tornar o nada da vida. O interior da vida não aceita o nada, que é a vida no seu interior. Tudo de interior é exterior à morte, à dor. Apenas o exterior está dentro da morte, por sair de mim.

Superfície

Fundo, tão fundo, mergulho nas lágrimas, para descobrir sua superfície. Há como a superfície ter profundidade? A poesia é sem superfície, ela encanta sua profundidade. A essência da poesia é o nada da profundidade, que sustenta a vida, o ser, em amor infinito. Continuar no infinito, o que não posso viver no finito, nem o finito é o fim da poesia, quando a poesia morre. A morte da poesia é mais importante que a poesia, é o que existe na poesia: sua existência na minha, onde existir faz parte da poesia. Fico feliz do existir, existir, existir somente na poesia. Assim, o existir é perfeito, sagrado, como uma oração. A vida é apenas a superfície da poesia. A poesia quer mais do que viver, do que sentir. A poesia é a esperança da minha vida, de que a vida pode ser sonhada, de que posso transformar o sonho de viver em realidade de viver. A superfície é o sonho da profundidade, de ser tão só como a superfície. Apenas a realidade tem fôlego de vida, para compartilhar alegrias, nunca elas serão sozinhas, como a sua profundidade é só. O que existe na profundidade é a procura de um vazio, que existe apenas na superfície. Quando a superfície e o vazio se unem, é quando há amor. Amor que não é profundo, não é superficial, é apenas eu em mim, onde o amor supera toda superfície, toda profundidade, num amor tão especial quanto viver: o amor por mim, onde tudo me invade pelo amor.

Otimismo

Vivo em sonhos, não sonho o sonhar, vivo, sonho com o sonho, que desaparece no sonho de amor. O amor é um sonho, quando deixo de sonhar, sonho, amo, mais ainda. Nada é mais seguro do que eu sonhar, não tropeço em meus sonhos. Eu estou sonhando em meus sonhos, dispensando o céu de ser triste, de ser a morte de alguém. O céu é a vida de alguém. Nada se morre no céu, somente o amor nasce no céu. O céu é a ausência de alma, onde o ser pode ser ele mesmo. O sonho desperta a realidade de seu sonho. Não há sonhos sem o real. A realidade torna o sonho um sonho. No sonhar ou na realidade, não perco o otimismo. Não esqueço o sonho numa realidade qualquer. Otimismo é um sonho, sonhado internamente, nesse adeus a mim, onde o amor é o retorno de mim.

A consciência do esquecer

A consciência do esquecer é a consciência absoluta de você, alegria. Só, sinto alegria esquecendo! Uma vida sem poesia é morte! A dor se dilui em poesias fáceis de se amar tudo, somente lembro como poesia. A poesia é a voz interior do ser. Vou esquecendo que esqueci para que minha única lembrança seja a poesia. Poesia, onde estavas quando te amei? Agora, eu amo apenas esse sonhar da poesia, e é suficiente para que eu escreva por um sonho, não por amor! Mas o sonho também é uma forma de amar, eu vivi demais por amor, mais do que o amor é capaz de amar, de viver! Somente vivo a vida da poesia! Amo a poesia mais do que a mim! Deixo também o vazio ser poesia! Pelo vazio, nenhum amor, nenhuma vida está perdida, mesmo assim foi encontrada na poesia. A alma é a conformidade de a poesia de ser tão só, que em tudo a poesia se reconhece. Esse reconhecimento é a vida do meu ser, no interior do interior. Quem tem a vida dentro de si reconhece ser feliz, pois, mesmo que a vida seja apenas um segundo, vale a pena viver! Vou escrever mais do que existir, e, assim, a vida sempre acontecerá para mim!

O que é a vida na vida?

Convivo melhor com o nada do que com o amor. Mas o nada não me distancia da realidade da vida. O amor fica, permanece no nada do amor. Há tantas vidas perdidas na permanência, longe do nada, de nós. Sinto nada por mim, por isso me amo, como se meu amor me pertencesse ao nada, ao invés de viver. A alma do sentimento inexistente é morrer. O sentir, mesmo inexistente, tem alma, que dura mais do que a vida. A vida não era para ser eterna, sendo eterna, não tem essência. A essência é o fim, esperança eterna sem permanência. A esperança é a impermanência da vida no ser. A alma sufoca a esperança na essência de ser. A vida tem uma esperança que não desce pela alma, desliza só, sem alma. Quando o amor resseca a natureza da vida, não há mais amor. O que é a vida na vida, senão a perda do instante do amor? A permanência é a demonstração do nada, sem a vida demonstrar o nada, é a mesma coisa que ser o nada. A permanência é um nada mais forte, decidido a enfrentar a vida. Por que a permanência não pode ser amor? Não pode ser amor, pois a permanência é onde o amor permanece. A permanência é permanência, até onde eu possa sentir a permanência. Permanência, um dia, foi amor, agora é solidão. Dou permanência à vida, onde agora tudo é amor.

O eterno retorno do mesmo

É um começo, é o mesmo fim, o eterno retorno do mesmo, que é o mesmo retornar, mas não é a mesma vida. Ter um pouco de vida, para me esquecer. O eterno retorno do mesmo é minha morte, são fragmentos da minha força, que é maior ao morrer. Retornar não pode ser melhor do que viver. Vivo sem retornar a mim, num fôlego de vida, que não é o meu. Continuar é nunca retornar!

Percebendo o meu amor

Viver não é sentir, viver não é perceber que amo, é o amor. Me perceber, como lembrança da vida, onde eu o percebo. O olhar sem a vida é o infinito no meu amor! Meu olhar, meu ser, meu amor, minha alma, tem mais vida que a vida. Nada no infinito vejo como vejo a mim: me vejo nessa plenitude de ser! Falta na plenitude realidade para abandonar a morte. O ser vai além do que pensa, é, ama, por isso pode morrer eternizado no amor. O tempo enfraquecido pelas lembranças não é mais o tempo, passou a existir como dúvida, como ser! O ser sonha com o tempo inexistente! O ser é apenas o tempo deixado por alguém em alguém, que fez de si o tempo que se foi, a liberdade de Deus! A liberdade de Deus é a nossa liberdade! Não espero da liberdade ser livre, espero ser livre para amar a Deus! O querer está acima da vontade de existir! Tudo existe pelo desejo de existir, por isso o desejo de existir não é o ser! O ser é que faz com que o desejo de existir continue vivo! O ser não precisa do desejo de existir, para existir o ser não é desejado pelo desejo! A vida da eternidade é o seu fim! Por isso, quando eu morrer, pensarei no fim da eternidade, me sentirei morrendo junto dela, como se Deus pudesse viver de novo, pelo meu amor! Deus é um pouco de tudo, um pouco de mundo, um pouco de céu, um pouco de dúvida, de certeza, de dor, de alegria, de amor, de ausências! Mas me sentir em Deus é o mais puro, verdadeiro, intenso amor que posso amar mais do que a eternidade, mais do que o amor. Deus me escolheu para amá-lo, e eu o escolhi como sendo o significado da vida, do amor que sempre há no olhar eterno de Deus!

Transcendência do nada

Minha inteligência não é a vida, vai além da vida, é a morte! Nada me faz morrer, a morte não está em mim, é só um pensamento. Um abraço clareia o sol para toda a vida, onde deixo a imensidão do infinito na luz do sol. O fim é mais infinito que o sol! Pensar é o fim do fim. Tenho que me defender de mim, do meu amor? A alma, para amar, tem que abandonar seu amor, sua verdade, sua essência. Tudo que sei do amor é o que esqueci para amar. O amor, quando desaparece, é para não haver nem sombra da minha ausência. O amor é a desigualdade entre as pessoas. Ama-se por não querer amar. Deixo-me incorporar o amor, sinto apenas o vazio. Se importar em amar seria me abandonar num amor sem fim. Amar é descobrir as coisas apenas pelo amor. Quero mais que amar, quero que minha alma seja eu, e toda descoberta, mesmo que eu não descubra, está em mim. A transcendência do nada é deixar o sol se ver no céu. A vida não tem imagem, o mundo não é mundo, é vazio. Meu olhar é o mundo cada vez mais distante. A consciência me faz não ser, para que o amor esteja livre para amar, viver, vendo na minha fragilidade sua força. Mas a força do amor é o impedir de viver a vida. A vida quer sentir o amor humano, frágil, para ser sempre amor! O amor não sabe que é amor, pensa ser um ser perdido, no meio do nada, onde a vida prevalece, e é feliz, mas toda essa alegria de viver me isenta de mim. Vejo que não sou útil à vida. Ela tornou o nada vida, mas ainda sinto como se a vida fosse nada, fosse o vazio, por isso tenho que esquecê-la como nada, como vazio. Não há transcendência do nada, nem posso morrer no nada. O vazio não deixa tudo, é uma inexatidão, cheia do céu, onde derramo minha morte sobre o meu corpo. Nada esquece por morrer, mas não me lembro das lembranças, me lembro mim!