Não há presença, há dois amores: o da lembrança e o do esquecimento. Se completam, formam a vida, dividida entre o ar e o respirar. A respiração afunda no ar, apertada, como se também fosse amar. O sentimento consola a vida de sua inessência. A inessência do sentir é inconsolável. Essa inessência é alma da vida, do sentimento, que separa o sentir da vida. Deixa minha alma arder, para que ela se sinta viva em mim. O transcender trouxe a inessência para o amor. Não há nada para fazer na vida. Amar a vida com desespero não é amor. O amor é confiar na vida. Mesmo que a vida não confie na minha dor, ela respeita. Nada pode desaparecer sem a vida, nada pode aparecer pela vida. Mas, a vida aparece sem poder aparecer, se torna um nada. O ar sepulta, mata a vida, mas o que falta no respirar se tinha em vida. O ar fala pela eternidade do olhar, que respira mais do que eu. O ar derrama gotas do nada sobre o meu vazio. Nada no seco do respirar. Essa falta de mim que já me destruiu não pode mais me destruir. Espero que o ar volte, se aconchegue em mim e me devolva a paz de sorrir no nada dos meus olhos, que encontrou minha paz distante de mim, como um sonho. Não amei mais na forma que sonhei, por isso tomei uma atitude, que vai me fazer viver: ser feliz. Ser feliz como o ar que escapa do vento, para retornar a mim, numa alegria infinita, de tantas perdas, tanto amor, que não podem desaparecer pelo meu respirar, que já é tristeza, já é alegria.