Blog da Liz de Sá Cavalcante

Seguir é vida sem morte

A morte é uma lição de vida. A inspiração é a alma ao morrer. Não espero a alma, ela é existência eterna do meu ser, do meu amor! Tudo que me desperta morre no despertar. Tudo que a alma revela não existe, nem nela sonhos são revelações da alma. A alma nada precisa revelar para mim, em mim, quero apenas o seu amor.

Ficar

Sair do mundo, apenas para olhar o sol, não é ficar. A vida é mais que amanhecer. A fraqueza da vida me faz ser forte pela vida. Tenho mais medo de viver do que de morrer. Mas, olhando o sol, vejo a vida, perco o medo. Esqueço o tempo de tanto amanhecer. É como se eu amanhecer fosse o único tempo em mim. Ficar na falta de pertencimento da vida me faz do não pertencer pertencimento eterno. Não posso impedir o ficar de ser o sol do amanhecer. Sair do mundo para o mundo é amor. Ficar, onde nada permanece, é o significado de ficar. Pode tudo cessar, vou ficar nesse cessar, como se ele pudesse ser eu. Poderia cessar meu ser, mas a vida acabou, apenas porque preciso ser eu, para que cessar não seja o fim, cessa pelo fim, sem ser o fim. Eu sou o cessar definitivo da vida, dei para a vida o seu fim, ela queria apenas morrer onde chove, abandonando o sol. O amanhecer viveria, se conseguisse ficar sem permanecer. A permanência do amanhecer está na despedida. Não quero amanhecer, quero apenas ser eu, isso, para mim, é ficar!

Criatividade de ser feliz

Vou criar um céu, que seja apenas a alegria de morrer, para não pensar em morrer. Morri, como se fosse a primeira vez. Já morri tantas vezes, que não adianta mais morrer. Morrer é não dizer adeus. Deixei o adeus sem destino, sem ser. O adeus nasce como o amor que tive um dia. Esse adeus envolve-se sem nascer. O tempo é sem adeus. Minha maior alegria é não conseguir ser feliz. Para ser feliz, tenho que esquecer minha aparência, que é a alegria que possuo, ser apenas eu nesta alegria. A alegria de antes não tem a alegria de agora, que é antes do depois, no depois, que acaba no que houve antes.

A existência do outro não é o fim da minha existência

A morte é apenas a luz, pela qual eu vejo a vida. Pensar é vida, é morte, nunca é adeus. O pensar não tem motivos para ficar em mim. Eu não sou motivo para nada. Pensar é partir, ainda sem pensar. Para que pensar, se posso sair de mim, para ficar com outro alguém? Quem me faria pensar? A vida pensa naquilo que me falta para pensar. A alma vive dentro de mim, eu vivo dentro da alma, onde a presença do outro é um sopro que se faz vida. Como o ar pode ser um sopro de luz? O fim da solidão não é companhia, o fim da solidão é morrer.

A escrita ou a vida

A escrita é visível sem o ser, como se roubasse minha aparência na aparência da vida! A aparência da vida não merece ser escrita, nem descrita! A vida é a ausência da escrita, da poesia! A poesia é escrita na alma! Nem a escrita nem a alma estão só na minha ausência de ser. Para isto existe poesia: para salvar e ser salva! O olhar escreve melhor sendo a poesia que falta na poesia! Carrego o amor da minha poesia em ti, que é a afeição do meu ser! Nada mais ousou estar em mim, sem a minha aflição para me aceitar. É preciso aceitar minha dor! Eu jamais recuperei minha emoção de escrever. Me emociono de escrever sem estar escrevendo. Escrevo mesmo sem escrever: está tudo em mim! Posso parar de lembrar, mas de sentir, de escrever, jamais! O fim da poesia é a palavra ou é o meu ser?! Escondo as palavras do meu sentir, para que elas sejam apenas poesia, sem a interferência do sentir ou do meu ser! Não importa que palavra fez a vida, mas, no fundo, a única palavra que falta na humanidade é amor. Amar é poder se declarar sempre, quanto mais amo, mais digo “te amo”! Mas o que perdi podia ter sido amor! Mas amor não se perde em amar a quem me ama! Mas, se não ama, paciência. Paciência com os que amam e são felizes! Não pergunto sobre a escrita ou a vida, me pergunto como me recuperar de um amor somente meu! Se o outro não me ama, não posso amá-lo, desejo que seja feliz sem o meu amor! O amor tem a vida que merece! A dor une e separa, mas quem ama se une eternamente, num amor, não acaba com a morte! Só o amor vence tudo, junto a alguém o amor é mais prazeroso, fiel! A linguagem da morte é irreal, mas é a verdade, a essência de todo falar, de todo silêncio! A morte interage com a realidade, me tornando realidade eterna. Eu sacrifiquei a realidade por mim! Falar não é viver! Sinto ao falar, que expuseram meu vazio, única voz real por dentro de mim. Não importa se não há nenhum detalhe na voz, sinto minha voz no silêncio do meu vazio, por onde converso com a vida sem a voz de antes: cheias de mim! Mas a voz desapareceu, antes de se tornar minha voz, mesmo assim tenho esse murmurar, como resposta do silêncio à minha própria voz, que lhe responde sem o silêncio! Talvez, a voz se impôs no que sou, ela determina quem sou. Não sei se é a vida ou a escrita que amo, mas algo tenho a que me apegar. O vazio é uma estrela que brilha no infinito do meu ser, apenas para mim ele brilha mais do que o sol, cria o amor! A ignorância do amor é perder o vazio de si mesmo! O amor é o vazio, mas não se sente vazio! Sem o vazio, não há amor! Não há destruição sem o amor! Esqueço a vida num amor solitário. Encontrei amor no irreal! Escondo o preenchimento da vida, do amor, mas o amor vazio é tão feliz, nada lhe falta, pois, no fundo, a alegria é vazia! O vazio é permanência! Me preenchi de amor na ausência de respirar, é como se respirar me deixasse vazia! Existir me deixa sem respirar, ou será que sinto a solidão de respirar, de estar viva?! A alma está no tempo que partiu! Não sinto falta do passado, e sim da alma! Por que o agora não acolhe a alma?! Para o agora, não existe passado, nem alma, existe apenas esse agora, sem passado, futuro, apenas a alma! Até o passado se foi na alma, para onde não sei, tudo vive sem o passado, é como se a vida começasse agora, que o instante se foi pela permanência do passado, que é a perda do passado! Não perco mais o passado, mas já o perdi pra vida! A dureza da vida é alegria, a leveza da vida é triste, como se não houvesse vida para o meu amor! A vida é feita de outra vida. A vida é o amor que sinto. Tudo é impossível para a vida, somente é possível à morte! O que é que eu não faço por amor? As coisas não existem na vida, eu fazia tudo pelas coisas, mas nada fiz pela vida! Minha energia está em morrer, não há energia sem morrer! Não dá tempo em viver, já realizo tudo em morrer!

A inteligência é essencial para eu viver

A falta de refletir é a presença da alma. O refletir da alma é o sol, o céu, a vida, a minha essência. Nada é bonito ao se ver, mas é lindo ao sentir, onde não preciso olhar pra mim. Pensar é a presença do nada, na minha vida, que não é mais minha vida, é vida da minha presença.

A consciência é incapaz de me fazer existir

O despertar da consciência dorme no amor que tive um dia. Descansa tanto, é como se ainda estivesse amando, por tudo que fui um dia. Morri, mas a consciência não deixou de ser minha. Quando nada se é, se é feliz. A alegria da alegria é sem sol. A ausência do sol é feliz. O despertar sem despertar não esquece de me fazer viver. O sol vive longe de si mesmo. Quando o sol se aproxima, sua distância é mais real que o sol. O sol é que preciso amar me amando. A realidade é apenas uma gota no oceano do ser. O céu vai se partindo em ausências de nuvens. O sol não é o céu. Céu é mais do que o amanhecer, é a esperança de depois. Se faz alma sem o céu. O céu reveste a alma de um nascer novo. O tempo, vivido em ausências, que não consigo carregar em mim, então me carrego na minha ausência. Ausência é a pele do meu corpo, quem perde a ausência escapa de ser. O silêncio é sem ausência, por isso é uma dor ausente, que posso viver sem ela. As palavras perturbam a ausência interna, que não faz parte da ausência externa do mundo. Viver sem esquecer é não ter vivido. Queria viver sem a lembrança da ausência. O amor não se lembra, se ama. Tudo que satisfaz não acontece, não é bom para o amor, satisfaz, como um sol que incendeia sem chamas. Quero ver a vida como me vejo.

O nada é um abismo sem fim

Começar a viver, pois o nada é um abismo sem fim. O nada é renúncia eterna da falta de vida. A vida são renúncias, disfarçadas de mim. O céu é a renúncia de Deus. Continuar sem renúncias, esperando o céu como se espera por Deus. O nada dessa espera é o sofrer, sem renunciar ao ser ou à dor. O tempo se comunica em renúncias. O tempo existe, renunciando a si mesmo. O nada é um abismo sem fim, consolo para o tempo não se sentir só. Nada é só, se há o tempo. Mas, o tempo é só, estou me guardando para quando o tempo puder me amar. Quando no tempo houver amor, ninguém vai querer o tempo, por ele ser necessário para amar.

O desaparecer do desaparecer

O desaparecer aparece como morte, única aparência que consigo olhar por mim. Não consigo olhar a morte como morte, a vejo como sendo eu. Neste ver a morte, nunca desapareço. A morte me vê desaparecer, pois a razão de ver deixa a morte vazia. A morte conhece sua razão de ser, por isso perde-se em suas razões, o desaparecer do desaparecer é uma maneira de te ter. Ter você não é saber que você existe. Fiz da morte o teu olhar em mim. Teu olhar em mim faz comemorar a morte, o amor, a minha alma, que conduziu o meu destino, me fez morrer quando devia morrer. Agora, não sei se quero morrer ou que olhe para mim. E se eu nada precisar do teu olhar no meu morrer? Quero nada pensar, para não esquecer que pensar é bom. Não posso nem ao menos esquecer, pois o esquecer é o pensamento ainda vivo. O bom do desaparecer é que é pra sempre uma lembrança que não desaparece, apenas é esquecida como desaparecer. Um instante sem desaparecer é um instante perdido, uma vida sem desaparecer é uma vida perdida. Apenas a morte não desaparece e é lembrada como se desaparecesse. O aparecer quer apenas desaparecer, para conservar a lembrança do nada.

Conheço a vida pela alma

A alegria é a ausência de algo, que se perdeu na ausência de mim. O nada é a origem da alma, que desce pelas lágrimas como nada. Assim, o nada deixou de ser a origem da alma, calou o tempo com a vida. A vida foi eu, por um momento de poesia, onde transborda amor, até cessar o nada de ser.