Jogo as cinzas da solidão na minha morte. Corpos se fundem na solidão, perdem sua alma. A perda da alma se mistura com a perda da mistura dos corpos: os separou para sempre. Nessa mistura, simbiose de uma vida, nasce a saudade. A saudade trouxe minha alma de volta para mim. Perdi a vontade de ter alma. O agradar da alma me desagrada. Sem a alma, não pareço nem mesmo comigo. O vazio são cinzas da solidão. O vazio é o apoio do céu a se sentir como me sinto. O amor é o céu. Minhas mãos, cinzas da solidão, a moldar o céu. E as cinzas desaparecem no céu, na solidão do céu. E o céu se tornou mais céu, como se eu pudesse abraçar as minhas cinzas. Devolve-me minha alma em cinzas, como se fosse a presença de alguém em mim. Sem cinzas, sem presença, sem adeus. Cinzas, recomeço do nada, faz da vida saudade, onde recomeçar não é vazio. É vida nesse adeus-presença. Abro os olhos para a vida e cesso meu amor por mim, sem razão de ser, de existir. Enfim, eu nas minhas cinzas onde me entrego à falta de saudade, e assim não perco a fé em mim. O declínio da saudade é nunca mais de me fazer existir. Sou minha existência. A fé abala a vida. Ainda tenho minha existência, que, para mim, é a minha vida. Minha existência vai existir, mesmo depois de eu morrer. Assim, minha existência vai ser a vida de todos. Não morri, me multipliquei.