A morte não é realização, é alma. O céu se realiza numa morte isenta de alma, de ser. A morte se realiza na realização do ser, para não precisar matá-lo. Alegria é vida, continua depois da morte. Vida, serás apenas minha, por eu te perder. A sombra é vida infinita sem o sol. Falo apenas pelo infinito da minha voz macia a se arrastar sem fim, sem vida. Ouvir é o infinito da vida que compreende a vida sem fala. Eu tento fazer da compreensão das coisas a minha vida. A vida nas montanhas não é diferente da vida que vivo, é apenas mais alta, mas também nada vejo da vida no alto das montanhas, mas também não vejo a vida no que está perto. Se a vida não é a distância ou proximidade de mim, o que é a vida? Não espero pela vida, ela não me espera. A vida falta sem me faltar, mas é ela que me mata, mas não posso ter vida espiritual, não tenho espírito. O amor não é espiritual, é a convivência. A falta é a convivência do arrepio, onde a pele destaca o ser nos seus sonhos. A pele é o respirar eterno de Deus. Meu amor é sua luz, aprisionada em Deus. De todas as vidas, nada sei, mas, da vida da vida, tudo sei, conheço seu cheiro, sua cor, seu silêncio, sua respiração. É como se ela fosse a única vida, eternidade de ser só. A vida muda, e eu vou morrer, como se a vida ficasse de outra cor, outro cheiro, outras lembranças que fazem parte de eu morrer. Fico mais do que viva. A ausência não se realiza, não se é, a ausência se perde no silêncio, na dor, mas não se perde na presença. Escrever é o fim da ausência na ausência. Deixo meu ser em Deus o que não digo a mim, não amo em mim, não torno só. A ausência se realiza na presença que não tem, é sempre o outro alguém a ausência, mas sou eu minha ausência. A ausência faz tudo por amor. Ausência é vida do meu olhar. Deixo minha ausência fazer de mim o que quiser. A alma não é minha única ausência. A ausência de ter vida é a pior. Sinto falta da ausência como o ar que respiro, não me deixe sem respirar, essa ausência para mim é a presença de Deus, que sobrevive ao ser pela presença do ser. A ausência ficou distante, inacessível, como o sol que não amanhece e deixa a vida para me iluminar. Mas essa luz pode se tornar vida pela ausência, que são apenas palavras, sem afeição, talvez esse seja o fim da ausência, e o começo do nada, que esquece o tempo que fica no que nunca aconteceu. Não era ausência, era a ilusão do nada, que me abraçou pela última vez, sem vida, mas o nada sentiu minha alegria, tornou-se tudo pra mim. O respirar fez com que eu não me esqueça do quanto respirei só, precisava ser assim. Assim como necessitei do adeus para dizer adeus. Meu respirar respira por mim, comigo morta, talvez esta seja a sombra da vida, a se fazer sol. O respirar fez da minha morte um respirar do meu ser, para que minha morte possa respirar por mim, isto é o meu ser!