Blog da Liz de Sá Cavalcante

O amor é um fim eterno

Quem protegerá o desespero da alegria? O amor! Como é triste necessitar amor, único tempo de se viver. Amar a vida é fazer do amor um recomeço de amar. Sofrer é a continuação do amor. Morrer é continuar a amar. Mas não amo apenas ao morrer. Sorrir é a alma aprisionada nas dores. Deixo meu corpo ser o que eu necessito para morrer, amar esquecendo, onde minha única lembrança é meu corpo morto, largado como um céu que cai do céu. O silêncio do amanhã é o ser dentro do sol, que é por onde o céu desaparece: para o ser viver.

Aos olhos de Deus, existo para a eternidade

Ser um momento bom, para os momentos difíceis da vida, é ter alma. Nada existe na eternidade, pela eternidade, por isso não sou só. A alma se defende com a sua vida, contra a eternidade da morte. Eu sou a eternidade de Deus, quando amo. Não imagino Deus sem mim e eu sem Deus. O fim da eternidade é o eterno, é Deus. O que é o sofrer da eternidade? É o eu do eu, sombra do nada, onde não há sol, vida, sua única vida é o sofrer. A eternidade é o sofrer universal, mas não consegue captar o sofrer de quem é só. Ou aceita as outras pessoas, ou o ser não existe na sua dor, na sua eternidade. É o eterno sem a eternidade. A eternidade não é um sonho, é o caminho do ser, que a cada dia se aproxima mais da morte, que não é um caminho, é a minha escolha por Deus. O meu ser não necessita de eternidade, necessita apenas de Deus.

O espetáculo da vida

O sossego da alma é: nada me faltará se me faltar a alma, esse é o espetáculo vital da vida. O desânimo do espetáculo da vida, e o seu encanto, é que ele não pode parar, nem por eu morrer, nem por morrer o meu amor e a poesia desse amor. Somente assim, as lágrimas não são esquecidas pela alegria de amar. O amor é o momento difícil do espetáculo da vida, até se tornar resignação, onde o sol é apenas sol, a vida é apenas vida. Mas, o amor também é resignação, que não pertenço a mim, e sim ao espetáculo da vida, nele sou o ar, a vida, o sol que me falta, mas não me conformo de ser feliz, de o espetáculo da vida necessitar de mim para acontecer. Como esquecer que sou feliz? Tudo me emociona, como se fosse tristeza, mas é apenas a alegria a me fazer viver!

O tempo da alma

O tempo da alma clareia o sol, na minha luz. Eu sou o tempo da alma, quando a escuridão se afoga na luz da alma, para que escureça o pior da vida, para que o pior da vida seja sem luz. A escuridão mata sem morrer. A luz morre simbolicamente, sem lembrar a vida. A luz nada ilumina. A luz é o vazio, apenas a escuridão me fará me encontrar a mim, na presença da luz. Esqueço a escuridão, já morri como a falta de luz, que não é escuridão. O tempo não é luz, nem é escuridão. O tempo da alma esconde a luz, a escuridão, no ser. Por isso, não diferencio a luz da escuridão, o sentir de amar. O tempo da alma morreu, para não ser luz ou escuridão, mas sinto o tempo da alma no meu agir, no meu amor. O tempo da alma é a vida, que se dá sem nada ter a oferecer. Talvez, eu necessitasse ser luz ou a escuridão da vida, que agora é apenas morte. Mas, continuei a ser, sem luz ou escuridão, achando que algo melhor me esperava, longe da luz e da escuridão, mas consegui morrer estando viva, consciente de que a luz e a escuridão não vão acabar. A luz e a escuridão são tudo que tenho dentro de mim, para disfarçar a solidão. Nunca saberei o que é luz ou escuridão, pois as sinto profundamente, intensamente, que não me importaria de morrer por elas, para não desaparecer para elas no meu adeus.

Catarse da morte (alívio de traumas antes reprimidos)

Eu quero que a morte viva sem o trauma da minha morte, pois a morte nada levou de mim, minha consciência continua sendo minha. Minha alma não sabe que morri, mas sente a minha morte como sendo sua alma.

Queria que a vida me abraçasse, ao menos uma única vez, como abraça o nada

O amor, espere minha morte, como se a vida pudesse me abraçar, como abraça o nada. A plenitude busca uma plenitude exterior a ela. Amar sem o tempo é o mundo, a vida, o céu, as estrelas, que não percebem que brilham, realçam o nada, o tornam magnífico. O que pensar sobre o pensamento? Que ele é uma estrela distante do céu, me une a mim? Mas, como é essa união? De céu? De estrelas? Ou é apenas um precipício amigável? Agir no pensar me tira o chão, me conecta como se eu voasse no meu imaginar. Imaginar não é real nem para o que eu imagino. Para ser, não preciso me imaginar, mas esse imaginar é uma maneira de imaginar o meu sentir, sentindo-o. A alma não cria, ela é o limite de criar, que estabelece o real na realidade. É possível sonhar com o real? O real não é o fim do sonho, é outro sonho, que consigo sonhar só, pela alma, pelo amor que me faz sentir que tudo é perfeito, até o sol desaparecer nas nuvens e eu notar minha imperfeição. Minha imperfeição é perfeita.

A falta é a consciência

Liberta teu amor do nada, quem sabe, assim, há consciência de ti. A falta é a ausência do nada. Não sentir apenas o amor, me sentir quando amo. Sentir o amor por inteiro é aceitar o nada nessa plenitude de amar. A falta é o nada, mais inteiro em mim do que o amor. A ausência do nada é o nada invadindo meu corpo, minha alma, minha tristeza. Amei meu ser inteiro no nada. Nada seria sem o nada. O acalento do nada modificou a minha vida. O ser inteiro é menos da metade do ser. A ausência sem faltas é a consciência do ser. Nada falta na ausência, na presença tudo me falta. A respiração tem que vir da minha presença, mesmo sem ela ser a minha vida. Não há estrutura na morte para erguer o meu ser, há apenas o céu. O céu mantém meu ser, sem pensar na minha morte. O quando da minha morte não é o céu: é a certeza de me imaginar viva, quando já morri, sem o quando da morte. A morte não quer saber por que morri, quer que minha reação de morrer seja minha única morte. Tentei viver mais ainda, mas o impossível se fez em mim, como coragem pra morrer. A morte escorrega, desaba no meu amor. O olhar sem tristeza é minha maneira de morrer na minha dor. Sem me ver morrer, a morte está incompleta. Tenho medo da minha alegria em morrer. O céu é uma alegria que morre, o ser é uma alegria que morre. Apenas a morte é uma alegria viva. A falta é a consciência do amor, numa inconsciência que é mais amor do que amor: é a saudade de viver tanto quanto amo.

Começar sem nada

Começar sem nada. O nada é a única coisa que queria ocultar, é a única coisa que não está oculta em mim. O nada não me isola, me constitui, como se toda companhia fosse o tempo. O meu tempo de ser é sem tempo. O tempo se dedica ao nada, que é o tempo no depois. As idas e vindas da vida são o céu sem o vazio, nem por isso o céu é livre, nem mesmo pelo libertar da morte. Não há antes nem depois do nada. Tudo é o nada, naquilo que me fortalece. A única coisa a lembrar é o nada. Mas, o nada não é o mesmo nada solitário de antes. O começo do nada é o ser, mas o fim do nada não é o ser, é a esperança que renasce como morte. Não comecei sem o nada, comecei sem mim. Por isso, comecei sem a vida, sem a morte, sem o nada, talvez isso signifique não desistir do nada, desistir apenas de mim.

O amor não me torna um ser

Nada me faz ser, nem mesmo o amor. Tudo é reversível, menos o amor. Apenas o amor caminha na escuridão dos meus passos. O amor não me torna um ser, mas me faz viver! A palavra é um instante eterno, onde a vida é um detalhe. Tenho que fazer deste instante eterno a perda da vida, apenas para te ter. Não há vida nas perdas, ninguém vive as suas perdas, vive apenas uma dor sem perdas. O instante não se perdeu na eternidade, ele é a eternidade, que canta baixo pra eu dormir. Morri pelo infinito de mim. Morrer preenche o espaço vazio de viver. O espaço vazio de viver se preenche com as lágrimas da morte. As lágrimas da morte é o tempo de viver.

Tudo pelo nada

Nada perdi do que foi perda. O que é perdido, posso recuperar, o que tenho é a ilusão de ter. O nada não esvazia o amor, por mais perdido que o amor seja, ele pode ser apenas o que é. Tudo faltou ao amor para ser, mas ele é. Esse é é um vazio sem vazio. O infinito não é vazio, mas ele é infinito sem o vazio. No vazio, ele é o fim do vazio. A criatividade do infinito é o fim do infinito, que não é espontâneo, não sabe criar a vida do seu infinito. A vida é o infinito de mim, sem morte, sem o fim de ser só. Ser só é o infinito que o amor não tem. Ser só não é solidão, é viver.