Blog da Liz de Sá Cavalcante

Inexpugnável (que não se apodera pela força)

Não à força da vida, o amor da vida vai me recuperar sem usar a força, a razão da vida é sua fragilidade. Possuo o tempo sem mim, não possuo o amor sem mim. Deixe-me aos poucos, e sentirei seu deixar no meu abandono. Se juntas tivéssemos o mesmo coração, seríamos divididas, fomos separadas com nosso amor. O vazio se esclareceu de amor. É encantador viver sem coração, sem alma, que não deixavam a vida despertar em mim, como um sol a sorrir. Um sol sorrindo, cantando as lágrimas da vida com uma alegria inexplicável, por ser fácil cantar em viver. Emociono-me cantando sem cantar, como um rompimento silencioso, com o silêncio, com o sentir, que era apenas silêncio, era apenas a falta de mim! No silêncio das palavras, fiz as pazes comigo na falta de mim. O silêncio é um ser dentro do meu ser. Faltou silêncio no não ser, que se diz palavras, consegue apenas me amar, para que a vida não termine em não ser, seja mais do que ser: seja pura solidão.

Por que ser eu é tão vazio?

Não é porque nada me acontece que o amor não acontece, que sou vazia, sou vazia: é minha essência. Não deixei espaço para mim no vazio, morrer, comigo sendo o infinito do vazio. A tristeza da ausência é o ser, mas o ser é feliz com a ausência. Tudo é permitido na ausência, para se ausentar é preciso existir presença. Como a presença se tornou ausência? Pela luz do meu interior. Quando a falta era ausência, tudo era acessível. Não sei mais definir minha ausência dentro de mim. A ausência é a realidade feliz, é como voltar a ver, com olhos inocentes de tanto ver, de tanta ausência. Por que ser eu é tão vazio? Eu sei responder a mim: é que estou vivendo!

Sou para o outro para ser quem eu sou?

Lágrimas perdidas, soltas, abandonadas, fazendo a vida existir na dor. Pelo menos, a vida existe para se amar. O amor não tem argumentos e nos convence com alegrias. Meu comportamento é de quem morreu, antes de conhecer as pessoas, conheço ao menos os sentimentos das pessoas, sei como se sentem, mas não sei quem são, a solidão não deixa. Sinto-me revigorada, como uma solidão infinita. O fim da solidão é o fim do amor. Mas amo para depois ser só. O sol e a vida me protegem com a solidão. Não importa se a solidão é inexistente, sou só até em não existir solidão. A solidão é o meu corpo vivo, unido a mim. Não importa o quanto amo, sempre serei só, por isso a vida morre sem ser só. O morrer da vida é o outro em mim!

O desespero é amor

Nem mesmo a liberação do retraimento de dor diminui o desespero. Desesperar-me é uma maneira de me manter viva. O desespero pode ser uma ausência, uma palavra, pode ser falta de poesia. O desespero tem a alma viva, o coração puro. Náusea, fim do desespero. A morte, devaneio da vida. A morte, perambulando na vida, perdeu sua razão de ser. Somente há um espaço para morrer: no sentir. A vida é o sol da minha consciência. O desespero é amor, onde até a consciência ama sem se sentir só.

O que de mim sou eu?

Eu sei quando sonho, quando o que é de mim sou eu, nada de ruim vai me acontecer, estou viva como um sonho. Se o amor não protege a vida, por defender seus sonhos. Quando voltar dos meus sonhos, eles se fizeram sem ti. Vida e ser pertencem ao sonho. Só na solidão do amanhecer, na luz, no sonho, a luz cobre o sonho com pensamento de amor, amor sem luz não é amor. Resiste sem luz, sem amor, coitada da essência, saber é luz eterna, que consome meus dias de sonhos, sem o resto de nós. A alma esquece de ser feita do resto de nós, como sendo a falta de saudade. É seguro sonhar, assim como as ondas arrebentam o mar. Se eu tivesse teus sonhos, não sentiria tua falta em te ter, vida. Quando deixarás minha vida, eternidade, para penetrares sem sonhos dentro de mim? A eternidade é o que de mim sou eu.

O futuro da permanência

O futuro da permanência é soluçar no silêncio. O futuro da permanência é o abraço sem permanência de ser, mesmo assim a permanência do abraço é a impermanência da vida. A falta de saber é a permanência. A impermanência é a alma. Não há nada na alma, nem a alma, por isso ela permanece em mim.

Sou minha própria possibilidade

O mar avança dentro de mim, como minhas lembranças de mar, espantei a ilusão. Das minhas ilusões que devaneiam mar onde não há mar. Tudo pode ser o mar, se for de verdade, pela emoção do mar, que me diz quando ser. Sou minha própria possibilidade, que cessa o mar de amor. Apenas o amor acalma o mar, onde o mar morre em paz. Queria que minha esperança fosse o mar, regando sonhos, moldando a vida nos sonhos. Criei o mar, como se cria uma filha, desfiz-me em mar. O mar desafogou minha morte, reviveu quem sou apenas para si, e isso me fez viver.

O vento sopra o amor no amor

A alma escuta o sopro da minha ausência, num amor ausente. A ausência sopra a distância, em todas as direções. Tudo se tornou distante, passageiro, como a luz da saudade pela janela do saber. Dormi, única presença, por isso a realidade não dorme, ausenta-se, como o embalar da saudade, em sintonia com o vento. Expectativas me separam de mim, da vida, fazendo-me compreender a mim, a vida. Essa compreensão é Deus. Apenas o que toca a alma pode ser o vento, no silêncio de viver. Deixa a alma escorrer como o sol, deixa o amor ser o que sou ao escrever. Resgatar o sol na escuridão é como nascerem as palavras. Palavras deixam o vento leve, ao alcance da vida.

O que se pode ser na permanência do outro?

O que a alma pode me dar, a vida não pode me dar, que é a permanência do outro em mim. Os sonhos não se dispersam da vida, atentos à vida, como uma folha em branco, nunca imaginada. Desfolho a folha pelo ar imaginário da alma.

Um salto para a vida

O que faz a diferença não é o ser, mas a poesia que existe dentro de mim faz toda a diferença entre ser e não ser. Não sei se quero mais ser, mas quero sentir a poesia, mesmo sem o amor insaciável de escrevê-la. Sem dar vida à poesia, ainda vivo? Sim, pois a poesia me ama, separada do que sou. A alma que chora não é alma, alma encontra força na dor. O ser se derrama em alma, mas não necessita da alma. Há alma na alma. A lembrança permanece como alma na lembrança da alma. Alma é a liberdade da vida. Ter alma para a liberdade sonhar na alma. A dor surge da permanência, mas a permanência não é um sofrer, é essa alegria eterna, onde chorar se diminui. Há alegrias que choram, por isso a alegria tornou-se insignificante. O prazer de ser meu próprio nada cessou o amor, como um sol que necessita das sombras. Vultos da sombra a expandir o céu, como canção da imagem. A imagem não é o ser, é o seu fim. Fim que não ofereci ao céu, quis criar meu próprio fim. Um salto para a vida é o tempo ao invés de mim, que envelhece. Não importa o que sou, e sim como sou. A imagem se transforma no meu olhar, são os destinos do mundo, que recolhem as imagens perdidas, como se elas lhe fossem o céu.