Blog da Liz de Sá Cavalcante

Contorcendo-me em dor

Minha alma não está completa, mas não precisa de ajuda, eu posso ainda me contorcer de dor, sozinha, sem a falta do teu abraço, do teu amor! Eu amei sozinha. Tu, por que não me amas?! A aparência do mundo não é o mundo, mesmo assim me sinto acolhida pela aparência do mundo, como se fosse o mundo! A aparência do mundo se perde na imagem do mundo! A vida morre para salvar o mundo! O adeus não acaba, o para sempre sempre acaba. O para sempre acaba, como se o infinito fosse todo seu e de ninguém mais! O infinito não é o fim, é promessa de vida na minha alma, no meu ser! Quando o sol voltar por esquecer a vida, serei como o sol que desponta no amanhecer! Não dou a mesma liberdade à alma que dou à vida. Não há aparato externo para a vida, ela está completamente exposta a mim! Expôs-se tanto, que não sei mais o que é viver! A separação é a única realidade que tive em vida, por isso não consigo me separar da separação, eu a necessito, para que a pior dor, agonia, venha se abater em mim! A consciência é um esquecimento profundo, de onde nasce a alma, como incerteza absoluta de que eu existo! Mas quando o coração da alma bate, o meu bate também, somos nós dois corações aprisionados no sentir! Não sentir é sentir em demasia o que não sou! O que não sou me deixa livre para ser o que sou, que não é o que há em mim! A morte não sacia a vida, a alma sacia o meu ser, que cessa para sentir a morte. Se eu tivesse uma realidade, não ia querer que ela fosse alma. Alma sem perder o ser é morrer! Faz-me morrer sem mim numa única atitude de te ter, a continuidade da alma: é o ser! Não sei o que é falar, comunicar, amar, conviver. Vivo dentro da alma, não quero sair!

Pensamento no corpo

Meu ser não precisa de mim enquanto meu pensamento for o meu corpo. A única coisa, ser, que não é ausente é a ausência. Sofrer é viver sem ausência. A expectativa é uma ausência de amor. Por isso, a expectativa é alcançada, até mesmo sem o ser. O ser não é para si próprio, nem mesmo a sua própria ausência. O ser é a expectativa da expectativa infundada do ser. O ser perde a expectativa nas expectativas. Expectativas são os movimentos da alma que circulam sem vida. O pensamento pensa ser outro alguém. A falta de alguém é o meu pensamento. O pensamento não é ser, mas posso ser o corpo de alguém, na lembrança do nada, que não é corpo, não é ser, não é pensamento, é apenas fascinação. O corpo é a leveza da alma, por onde a alma se cura de sofrer. O pensamento vive no corpo, na sua distância do nada, que é o próprio nada na falta de um adeus.

Minha alma sendo a alma da vida

Minha alma, meu mundo, seja interior ou exterior, é o meu mundo. Não existe amor na existência, mesmo minha alma sendo a alma da vida. Tenho alma, quando não consigo sofrer, ser, a alma sofre por mim, mas nunca terá meu interior. Uma alma quando não consegue se separar da outra, é porque conquistou a eternidade pelo meu sentir, que, mesmo sem ser o sentir da alma, fomos eternas num único sentimento: o de amor. O amor se esquece amando. Escrever é a eternidade do céu, que cessa a minha eternidade de ser. Não me incomodo de ficar sem a eternidade, incomodo-me de ficar sem mim. Não preciso da eternidade para ser feliz. Por mais que eu me encontre em mim feliz, não é eternidade, é um adeus. Vida, eu e a poesia te amamos, onde a eternidade não pode nos alcançar, somos mais do que eternidade: somos amor.

A alegria resplandece no nada do ser

A alegria é nada perto do céu; longe do céu, a alegria se perde no nada sem o ser. A lembrança foge da alma, fica neutra entre a alma e o ser. A vida não é realidade, nem é sonho, é apenas a falta de mim, onde a realidade e o sonho existem apenas em mim. Na alegria ou no nada, nunca deixo de sonhar. Sonhar já faz parte da minha realidade. Meus abraços se descobrem mudos em meus braços, para sustentar a falta de vida, e, mesmo assim, tenho voz para falar de amor.

Não sei se sou eu que escrevo pela poesia ou é ela que escreve por mim

Não sou só, tenho o meu amor. Estou feliz, como se o céu existisse por minha causa, e eu abraçasse o céu, com ele querendo ser abraçado por mim. O céu não vive, por isso é poesia; tento escrever, como se eu fosse o céu. A alma que vai e a que fica são a mesma alma, vivendo dois momentos diferentes para continuar a existir. Permanecer é me afastar da alma, da poesia, que me deram a vida, para sonhar de verdade. A poesia não pode ser meus sonhos, mesmo assim sonho. É quando escrevo pela poesia, e ela escreve por mim, é como se a história da poesia fosse eu, e a minha história fosse a poesia. Temos muito o que compartilhar, conhecemos o outro em nós, mas não conhecemos a nós mesmas. Esta é a história da poesia e o seu fim, é eu me conhecer e a poesia se conhecer, para ficarmos juntas neste inseparável de nós duas.

Apenas os bons amam

Sonhos não permanecem em mim, por isso existem, feitos de alma. Alma que dura o instante do sonho, a alma é um instante de sonho. Eu tornei o sonho algo feliz, o sonho não tem reação, apenas sonha comigo, em felicidades extremas, que compõem minha morte de alegria. Tudo em mim é tão felicidade, que transcende em alma, bondades infinitas. Somente os bons amam, por isso a vida é perfeita, até mesmo quando não preciso mais dela, morri, vou sonhar sonhos nunca sonhados, vou ser o infinito de sonhar. A maneira de eu conviver sempre com todos, sem ausências, é sonhando. Apenas pelo sonho, conquisto a vida, pela lembrança do seu existir, alegria, sem você estar comigo, já sou feliz. Agora, imagine se estivesse comigo, alegria, eu seria eterna de alegria. Mesmo se eu perder você, continuarei feliz, pela alegria que tive um dia, que era mais feliz que o mar, que o amor mais pleno, sublime. Tão sublime como perder a alegria na saudade de você.

Coerência

Tudo estaria perdido no querer. Não é simples querer. Querer algo é a coerência de ser. Existir não tem querer. Você fez da minha alma pedras, como um muro de pedra nos afastando em emoções de pedra, que destrói o amor com o que falta no ar. Mas o pulmão não tem ar, tem apenas pedras. É pelas grades do tempo que nós nos comunicamos e sentimos falta das pedras que nos afastam. A poesia tenta me interpretar, sou única em mim. Meus gestos são levados por um instante de esquecimento, que poderia ser poesia. A poesia não pode ser esquecida, como se tivesse perdida. Posso perder o céu, as estrelas, minha vida, a minha morte, mas não posso perder a poesia, que se encontrou em mim, na delicadeza da minha ausência, que é apenas poesia.

O que minha aparência sabe de mim?

Não me disse o que somente palavras podem me dizer. Palavras não são palavras, são reconciliações da alma. Palavras são a aparência do possível, na minha falta de aparência. A aparência é algo indefinido, que vou compreender morrendo. O amor marcou a alma, destrói-a, sem palavras, atitudes. A destruição é o bem da alma. A alma é apenas aparência. Meu ser é além da alma. O silenciar da alma é apenas o meu amor, de encontro ao vento. O amor me toca, no intocável do ser. O ser toca o corpo, a saudade toca a alma. É fácil sentir o corpo sem saudade do corpo. Sentir o corpo, sentindo saudade do corpo, é sentir a alma no corpo.

Imaginar-me

Imagino-me sonhar, se não posso sonhar. Amanhece, para o sol pesar nas estrelas, e meus sonhos a desaparecerem nos meus sonhos, para que eu possa vê-los.

O amor é o maestro da vida

A vida sem a vida é sinceridade. A vida é a insinceridade do ser, apenas o amor pode transformar a insinceridade em amor. O amor, que é verdadeiro na insinceridade, por isso não sei se morreria por amor. O amor morreria por mim, se houvesse o que morrer por mim. Morrer é ser. A vida não precisa de significado se posso amá-la mesmo morta, sem significado. Pobre vida, começou sem significado, terminou sem significado. Nem a morte significa algo, tudo é o vulto do nada, que me rodeia, como se fosse o sol da existência, que não é o mesmo sol do amanhecer. Mas, sendo sol, é o que importa, o amor, maestro da vida, toma conta do sol, seja lá como ele estiver, é sempre sol do amor.