Blog da Liz de Sá Cavalcante

Rompimento de estrelas

As estrelas romperam com minha alma e com minha solidão. Sossega, alma, que sou apenas um rompimento de estrelas. Não te pertenço. Vou desaparecer como uma estrela que se adaptou ao mundo, não a mim. Perco as estrelas, mas não perco minha esperança.

O nada sendo tudo

A relação é o nada, mas o nada é tudo sem se relacionar. Meu amor é minha ausência, ausência que é feliz sem ser um sonho. De que adianta sonhar com a ausência se ela não vem me sentir? O amor não é espírito é o nada sendo tudo. Nada importa ao tudo que nada tem. Eu queria ser o espírito de todos os espíritos. Nada se fez só no espírito. A vontade de ter uma alma é mais do que a alma. O fim da tristeza é o espírito não ter asas. O que não é verdade é o espírito precisar de asas para ser livre. Ninguém pode amar a eternidade, ela é a falta de amor. Nada será como antes, onde o céu era o céu da minha tristeza. O céu fez que eu não reconheça mais tristeza.

Alegria pesa

A alma é o lado obscuro do ser, onde a alegria não pesa. Morri para ver as coisas por dentro de mim. O nada não modifica o amor, modifica a vida. A vida é vazia no meu amor, sem a presença do nada, como uma distância, que de longe foi percorrida, como se soubesse qual o nada da minha vida. A distância destrói a inacessibilidade do nada. O caos é algo que foi cicatrizado, deixando marcas. A ausência pesa sem a lembrança de não te ter.

O amanhecer de estrelas

Deixo meu corpo amanhecer de estrelas, distante do sol, perto do céu. O amanhecer de estrelas é a falta que sinto de mim. Nada me surpreende nas estrelas. A previsibilidade das estrelas é sem céu. Amanheci por mim. Não há espera no adeus. O adeus não é livre das estrelas. Tem adeus para todos, mas não tem estrelas para todos. Repartindo as estrelas em mim, me sinto o céu. Eu sou cada estrela do céu sem lembrar de mim. As estrelas não precisam ser uma lembrança: elas existem de verdade, como se eu pudesse segurar minhas lágrimas como seguro uma estrela. Enfim, só. Enfim, estrela.

Do eterno no nada

Correndo do eterno ao nada, meu coração salta de eternidade em eternidade, onde a morte são os braços da vida, amparando o mar no mar. A imensidão do infinito é a morte. Meu ser procura o meu amor no nada, mas o amor do eterno do nada acaba com a sombra do meu amor. Me sinto sem amor. O amor reage ao tempo da alma, que é ser só, onde se esmaga minha força. Corri como se o infinito fosse correr da morte, em sintonia. Respirar e infinito me fizeram parar, pois ainda não morri. Mas do eterno ao nada tudo desaparece. Para que correr? Para não me assustar, onde o eterno não vai até o nada, me deixando a saudade de mim na minha chegada.

Amor pela esperança

Desprovida do nada, perdendo metade de mim, pelo amor da esperança, que é mais do que eu devia ser. Se soubesse das minhas esperanças, não teria esperança. O amanhecer é uma esperança inútil. Útil é a esperança de uma flor de não morrer.

A eternidade de Deus

A alma sem alma na eternidade de Deus. A eternidade de Deus sem Deus é eterna. A alegria de Deus não é a eternidade, somos nós. A maldade, o desprezo, a ignorância de não amar, não consigo amar. Me apego às coisas da vida para amar. A eternidade é um pedaço apenas de Deus. Nem mesmo a plenitude é Deus não é divina como Deus é. A eternidade de Deus é tornar a vida melhor para todos, mesmo sabendo que iremos morrer. Deus está morto não pela sua própria morte, mas pela morte de todos que deviam ser a humanidade de Deus.

Petrificada (paralisada)

Queria perdoar. O amor é universal na morte de todos. Meu amor é escuridão do abismo de mim. Do eterno na morte resta o ser. O ser é o fim da morte, início do nada. Quem é capaz de morrer pela morte sem pensar no seu fim? Pensar ajuda a morrer. A saudade flui como o mar, sem pensar em me consolar. O mar isola o infinito em si. A realidade é a falta do mar, onde o infinito sou eu. O amor maltrata a alma, não sabe como agir, vê na alma um peso, fardo. O amor a suporta, deixou a alma viver. A lembrança não sabe o que é uma lembrança. O silêncio preenche a ausência, desfazendo vidas, como se fosse o desfolhar de uma poesia.

Os espaços vazios na falta sem a falta de mim

Perdi a vida sem espaços vazios, ainda tenho meu amor, minhas lembranças para não morrer só. Troquei as palavras pela quietude. É injustificável a fraqueza, mesmo assim me dei as palavras como nunca me dei a mim. Sou para tudo e todos, no amor, mesmo que nada me reste, nem a morte. Não vou recolher os espaços vazios, seria o fim da vida, do amor.

Corpo

A alma é corpo do meu corpo, que desaparece em um nada, que é a totalidade do corpo na alma. Este desaparecer sonhar é de um silêncio sem alma. Deixo o corpo ser a pele da alma, sem o teu adeus o corpo, intocável como corpo, tocado como alma. Nada na alma pertence a alma, captando a alma sem sofrer, como sendo a vida me pedindo perdão. Desaparecer sem o corpo é desatar a alma para deixá-la mais perdida. Perdida sem morrer. Para reduzir a alma ao nada tenho que morrer de alma.