Blog da Liz de Sá Cavalcante

O nada não justifica o nada

O nada não tem esperança nem quer ter. Para o nada apenas ele existe, mas seu existir nada significa no nada que ele é. O ser é uma maneira de não ser, onde o nada desaparece, sem nunca ser o meu ser no não ser de mim. O ser é a dor do nada que esconde o mundo numa luz que não se apaga. O universo é escuridão que se vê sem o nada. O nada sufoca a escuridão, o nada é luz da escuridão. Não diferencio meu olhar da luz do nada, me aprofundo na luz do nada por essa luz, sinto toda a poesia de viver. Poesia é apenas luz inexistente de se saber ser poesia. A luz da poesia é o ser. A falta da poesia é poesia. O céu, inexistência da inexistência, não saiu de dentro de si mesmo: este foi o fim da vida, o começo do amor. Amor que não necessita da morte da vida, queria apenas amar.

Vida de sol

Vida de sol para uma tristeza infinita é triste sem tristeza, é como se eu deixasse de ser como um pássaro que não necessita de alma. Suspensa no ar, no amor, ela quis aparecer mesmo suspensa, mas em suspenso. Amei a alma não pela sua falta, mas pelo amor que ela me tem. A alma é irreal em si mesma. Por isso, não existe morte na alma. Então, o que morreu em mim? Vida de sol a escorrer da morte, sem certeza de morrer. O sol não se ilumina, ilumina a vida. A vida de sol é monótona amada por mim. Fluir como o sol sem a vida. O ficar, continuar no sol, reflete a paz, o silêncio das sombras é essa paz. Sol de palavras de vidas, de arrependimentos, de amor. Mesmo só no céu, o sol está comigo. Não há sol de esperança. Sol, se faça em mim, como o tocar da alma. A compreensão é como morrer, depois da compreensão, não há mais nada. Não há individualidade na compreensão. Se eu quiser ser apenas eu, a compreensão me deixará. O ser não compreende a própria essência. O tempo dura na tristeza. A morte morre e nasce sem palavras, mas o som da morte é o meu existir.

Altivez (Dignidade)

Há dignidades que faltam na ausência, há dignidades que são ausências desnecessárias, não sonham o que é digno de sonhar. Há dignidades necessárias como se expor ao sonho, que, por mais distantes e estranhos que pareçam, são mais fáceis de sonhar. O sonho atravessa a eternidade. Dormir na eternidade dos teus sonhos é a vida que sonhei para mim e para ti, morte. A ausência de morrer é perfeita ao te sentir. Vivi teus sonhos, renunciei ser feliz por ti. Não suporto a alma, é um vazio sem mim, não tolero, não aceito. Na vida, não adianta me jogar inteira, ela me aceita, mas apenas pedaços de mim, leva consigo os pedaços que me fazem falta, que conseguia chamar de meus. Não são mais meus, são da vida, lhe dei com alegria. Talvez essa seja a dignidade em mim, que é amor. Minhas ausências mergulham em mortes recentes, como se pudessem voltar ao mar das afeições. Eu carrego comigo a dor do mar, não esqueço, me faz não morrer. Assim, levanto sem forças, desmorono, mas não desisto. Essa sede de viver é melhor do que água, do que a vida. Mesmo assim, morri ao sonhar com a vida. As vivências, tristezas eram apenas uma maneira de morrer.

Morte pelas flores

Depois da ausência não há nem o nada para sentir. As ausências são flores, jardim da consciência, onde nada importa para a consciência. Por isso, a consciência e o amor não sentem a morte das flores. O sol brilha pela morte das flores, como se nele tivesse a existência de cada flor, de cada ausência. Falar de ausência é falar do todo, da essência das flores. Nada substitui as flores: lembrança eterna do depois. Na falta do silêncio, olho para as flores e tudo cria sentido, como se houvesse silêncio, mas não há silêncio. Há apenas a minha morte para haver o depois. Morte entre flores é melhor do que ressuscitar: fico entre flores e abraços.

O nascer da escuridão

Meu pensar sonha como se fosse o nascer da escuridão para que eu possa ver Deus no meu amor, que é a escuridão de Deus. Deus é escuridão, reflexão, recolhimento, onde a fala é uma ausência divina de ser, de saber. O buraco do nada é a certeza. Há certezas ruins que geram incertezas. Nada se vai além do tempo, partir é a certeza, a vida do tempo. Não há partir sem certezas. O nascer da escuridão é o meu olhar afundando na luz. A luz é a certeza de viver. O nascer da escuridão, espetáculo sem vida é a vida.

Mansidão

Permanência distante para mansidão da vida. A vida torna a permanência mais distante do que o amor. A vida tem sentido na sua perda. O silêncio da vida pertence ao nada, memória eterna de depois. O depois me deixa sem o amanhã. O adeus é o amanhecer, são todos sem nenhum ser. A alma entre mim e eu, é como a lagoa sem o mar. A permanência de tudo pode morrer pela atenção que a vida lhe dá, torna a permanência sem permanência. Não há dor, mas há permanência, onde os instantes vazios se fazem ouvir, se fazem sonhos, por escutarem a vida. O fim da existência não escuta o clamor da vida, que é a superfície do nada, distante de tudo, por isso, intenso, profundo, sem a nostalgia do respirar eternizado. Nada foi perdido ou conquistado na vida. A vida é a expectativa do nada em não viver. Assim, o silêncio infinito se perde na imensidão do nada. No nada, nada é de ninguém, mas se torna alegria de todos. A alegria é a vida de todos, mas a alegria não sente nossas alegrias, mas é feliz em nos ver felizes, como se o nada fosse despertado pelas nossas alegrias, que somente pode ser esse agora. Por que não somos sempre felizes? Mas, aí, não haveria alegria nesse agora. Alegria nesse agora. Alegria sem amor não é feliz. O agora é o amor, a alegria, necessários para que este agora seja nossas vidas, refeitas ou não em ser. Nada se esconde da solidão. O nada nega a solidão ao morrer. Nada desliza no nada. Sem substância, matéria ou corpo, o nada desliza em si, esquecendo-nos. Senti-me menos eu sem o nada, ficou um vazio. Admiro o vazio pela lembrança do nada. Esqueci-me lembrando do nada, da falta do mar, do significado de escrever para o nada, que é o tempo, com saudade deste agora, por isso, escrevo com saudade do tempo, mas a ausência do tempo acalenta minha alma, faz-me viver. Não sinto saudade, sinto saudade quando leio o que escrevi, o quanto cresci em mim sozinha, o quanto eu tinha saudade de mim. Por mais incrível que pareça, libertando-me de mim, permaneci em mim eternamente, mas nunca mais só.

O fim é essência do meu ser

A liberdade é morrer sem essência, sem começar a viver. A vida parece ser morrer, o ser parece ser, mas o ser não é um ser, é algo mais frágil do que o vento. Do céu se vê o ser sem ele existir. Amor, quero morar no teu céu, ser algo para mim. Eu apareço apenas no não existir de mim, que não é um não eu. Existir sem existir, ser para você o que sou é dor. Dor que faz a existência existir, é quase como se eu existisse além dos instantes solitários, sem vida no teu amor.

Na alegria é que se vê o sol

A alma não é uma necessidade, não sou feliz na alma, mas a alma é feliz nela mesma. O sol desfaz a alma de alegrias. Nada cessa a distância de ser feliz. Estou aprisionada à alma por não ter alma. Nenhuma compreensão, apenas o silêncio da morte refazendo o tempo, revestindo o céu, até cobri-lo com um olhar. Preciso resistir para morrer na morte, na incerteza do céu por mim. Céu é vontade de ser no mar o meu sorrir, sem saber da realidade do meu sofrer. Posso chorar sem sofrer, como um mundo, uma vida dada a mim, escolhida pelo meu amor. Amor, traz vida para a morte. Se a alma não se compreende, ela é feliz. A alegria se pronuncia. É quando vejo a vida passar como um sorriso refeito de paz. Nas palavras me sinto em casa. Como não preciso ser, fiz do silêncio da morte minha espera. Por que nada vem dessa espera? Tudo me deixei sem esperar. Parei diante de um olhar perdido, vi nele a vida que não tive. Não há evidências que morri, deixei minha realidade na morte, assim, meu silêncio interior desaparece como alma, num amor infinito para a finitude do meu ser. Somente assim meu ser ecoa no silêncio. Faz-se ouvir no sempre, que cessa a vida. A vida cessou para existir.

Escapando de mim sem morrer

Para que escapar sem morrer se tenho tanto amor? Escapei por covardia. O que vou ser de mim sem morrer? Quero-te, pois me faz sofrer liberdade na morte que escolhi: os outros em mim, onde não consigo ser mais nada: nem respirar, nem escrever. Tombo nas letras, misturo-as sem palavras. Deixar a alma surgir como alma, como nada, sendo o precipício da morte. Por que evitar a morte? Aos poucos tudo é morte. Eu queria sofrer a morte sem palavras. Parar nas palavras é não morrer. Continuar nas palavras prolongando a morte é viver de novo como sendo uma palavra inacessível que nunca é dita: viver. Viver para a morte é perda irremediável onde sua confidência, é o silêncio da morte que não é a morte, é a consciência do ser: morrer. Soltar o sentimento da morte e morrer, deixar-me. Por isso deixo-me em morrer. Estando fértil para morrer, sinto-me superior às palavras que não têm noção de morrer, de despedida. A palavra é um amor frio. É arrebatador amar a frieza das palavras. Não termino as palavras nas palavras, não sei comunicar o que sinto. A palavra sofre friamente a falta de sentir. Tudo é indiferente nas palavras, sei que elas me escutam. Morrer é não escutar as palavras. Escutei mais do que palavras, escutei-me morrendo num som puro, pleno de mim, a tornar o silêncio absoluto. Ainda bem que tenho mais morte do que silêncio. No silêncio tudo está perdido, na morte há esperança.

Avassalador cativa, domina, seduz

Esperei que a vida não necessitasse de mim, amando-me ou não. A vida me libertou das minhas cinzas, não de mim. Eu queria que a vida fosse simples, nunca complexa, mesmo assim me aprofundei tanto em viver, que isso me fez morrer mais do que as minhas cinzas. Já sou feliz, deixei minha alegria solta no ar como se eu retornasse de onde nunca estive. O sol se tornou mais forte na minha fragilidade de ser feliz. Nada mudou. Tudo é sempre o mesmo: feliz. Sinto como se não importasse ser triste. Não preciso seguir meus passos, eles existem em mim, por mim. É tanta alegria, que parece ser eternidade. Enfim, eu pelo amor que sinto.