O começo da vida é o amor, mas a vida não é o amor de um começo. O não une a alma ao ser, até que eu esqueça toda positividade por um sofrer infinito. Sofrer se perde ao respirar. Respirar é um pacto com a alma de viver.
Um começo |
Um começoO começo da vida é o amor, mas a vida não é o amor de um começo. O não une a alma ao ser, até que eu esqueça toda positividade por um sofrer infinito. Sofrer se perde ao respirar. Respirar é um pacto com a alma de viver. |
EstranhamentoA vida se conforma com os dias, que sempre vão lhe faltar: esse é o começo de viver. Minha luz é escuridão, por isso não cai no abismo da escuridão. Estranhando a claridade, como se ela fosse minha consciência. Consciência não é ter a mim, quando tudo está destruído. Consciência é evitar a destruição me destruindo. O tempo é a destruição do nada. O que espero de morrer é sentir o interior de morrer, assim, as estrelas dormem na minha alma, como se não houvesse destruição. De repente sorri como se tudo fossem estrelas e esse estranhamento pudesse me fazer sorrir. A alma vive no sorrir, encanta, me embriaga de emoção. A vida é só quando sorri. |
O nada é uma atitude de amor?Pelo nada, não há destruição, há amor. Momentos são perdas para ter alma. Não há momentos em mim, há palavras. Emprestei o meu ser para a escrita. Tudo isso para ter um espaço para ter um espaço para ser, descobrir o meu ser nele mesmo. O nada é uma atitude de amor, salva a vida do mundo. |
ÊxtaseVivo no prazer, nenhum pensar conhece o prazer de morrer. Mas o pensamento sente no morrer uma razão para existir. O prazer é superior ao pensamento. Será que apenas eu sinto prazer em pensar? O pensar tem mais valor quando nada existe por si, e sim pelo pensar. O pensamento chega ao céu antes do ser. Depois do ser, é o além sem pensamento. Nenhum pensamento acolhe a alma, embora ela esteja pronta para pensar. Mas a alma, até hoje, sonha pensar, como se seus sonhos se tornassem pensamentos. Até que um dia, tornou-se um único pensamento: viver. Mas aí vieram outros pensamentos e deixou de pensar em viver. A alma achou seu outro pensar mais essencial: Deus, mas teve que viver para chegar até Deus. Deus une o pensar e as ações. Apenas morrendo posso me esquecer que morri. Não quero minha alma para mim. Apenas Deus pode lhe dar o amor que ela merece. Merecer morrer é perder a alma para Deus. Ficar com algo melhor do que a alma: Deus! O êxtase é uma forma de esquecimento, é preciso esquecer a vida para lembrar de mim, de Deus. Deus pode ser apenas Deus. Eu sou dúvida, sou negação, certeza, aceitação, nasci para ser humana, quero morrer humanamente. Falo apenas poesias, Deus é amor. Todo esquecimento, ausência, será amor. Amor substitui a realidade, o convívio humano, mas não substitui Deus. Êxtase é sofrimento, êxtase não é melhor do que Deus. Qualquer alegria faz sofrer sem Deus. Deus, eternidade que não se revela: por isso, permanece em nós. |
O que é o ser em mim?O que é o ser em mim se começo a viver? Não é mais nada. Não é mais nada, mas meu ser ainda está em mim. Se não aceito o fim, tenho que ficar entre a vida e a morte para que o meu fim seja o convívio humano. |
ImensidãoA imensidão é o segredo da vida que abala o mar. A imensidão da vida existe apenas dentro de mim. Imensidão é sorrir, quando a vida me diz não. Transformo seu não em um sim. Nada me conforta pela imensidão vida afora. Olho para a imensidão do infinito, vejo como sou só, como sou feliz, mais feliz, mais feliz que a imensidão, a desabar num abismo sem fim, onde a imensidão se resigna num vazio sem fim. Mas a imensidão vive em mim. Não sei se estou impregnada de imensidão que está impregnada de mim. O que importa é que já consigo sentir falta de mim. |
Desapareci no arDesapareci já ausente de mim. O desaparecer fracassa, é visível ao amor. Cessar a vida sem morrer, para que algo apareça como presença de mim. Este desaparecer é presença eterna da vida. Não vou a nenhum lugar, não vou existir sem o desaparecer. Desaparecer sozinha é de uma alegria infinita, é como existir apenas para mim, então meu sentir é livre, alcança o voar, esvoaça o céu, o agita, ventania de paz. |
Exílio da morteA alma tem o olhar de Deus ao morrer. O exílio da morte é a falta de mim. O irreal é necessário ao ser, é como viver com as portas abertas. O irreal é vida infinita. Meu ser, tão existente em sua inexistência, como se eu me separasse da alma pela existência, para não me entristecer, pois tudo é tão feliz, que não há forma de existir. Existir apenas pela tristeza. O ser existente é o não ser de si, apagado pela inexistência do ser. Morrer é minha existência. A existência não pode esconder a morte da vida, sem a morte da morte. |
Luz não é vidaA luz não é vida, não tem destino, não tem amor, apenas ilumina, como se pedíssemos para ser iluminados, mas nós nos acostumamos com a escuridão do mundo, que não é solitária, somente é só na luz. A luz apavora a alma. Deixa o olhar frágil, à mercê da imaginação. Deixo o olhar para o imaginar. O céu, reflexo da luz do imaginar do amor. Lembrar do abandono de viver, no amor que sinto, é nada mais lembrar. Lembrar, sem nada sentir, é como morre o amor. Você está dentro do meu fim. Assim, a luz descobriu que não é só, é uma luz cheia de alma, e nenhum amor, por isso, vê o seu silêncio sem esperança, sem luz. Meu olhar, sem ver, vê a luz da vida, silêncio que deixa a luz fraca, mas, sem a minha fragilidade. Nem o silêncio conhece nós duas. A luz, mundo desabitado, para o resto da minha vida. A luz dança em minha alma, como a alma nunca dançou para mim. Dançar, flutuar, amar é apenas o nascer da luz, ofuscando o nada. Percebo a luz em ausências cegas. Não posso expressar a luz, minha ausência, então lhe faço companhia e faço companhia ao meu olhar, tão distante de mim. Compus a luz com a poesia do meu amor. Amor, que estava morto, renasceu como luz. |
A vida não percebe o meu perceberA alegria é o absoluto, como se fosse a alma a me dizer: fica. Fiquei apenas por este momento de ficar. Permaneci mais do que a permanência. Aprendi a sofrer. Sofrer é dizer sim à vida. O ser nunca está só, pensa. Pensar ocupa meu ser no meu ser, distrai a realidade do meu pensar. Amo um ser que é inexistente em mim, por isso, a alma não acredita que eu sinto. O sentir em mim pela alma torna a alma o desprezo de mim. Meu ser é diminuído pelo pensamento. O ser não pensa quando tenta pensar se destrói. A alma se encanta com o pensar. O amor basta para amar? E se o ser já nasceu como amor? O que falta no amor, para que ele aconteça? Como tratar o amor? Escrever é amar por mim mesma. A morte não cessa meu dom de escrever. Não consegui escrever sobre o silêncio, ele está dentro de mim. Amar o mar em silêncio é concretizar-me num sonho. O mar não quer que eu sonhe nele o que ele quer sonhar em mim: é mais do que ser, é a vida tornando-se mar. Perco os sentidos, não deixo de pensar no mar, que responde minhas insatisfações. Deixei meu amor no mar, como se eu fosse amanhecer. Quero fazer do mar um encontro com Deus: isso é mais natural que o mar, no mar que se vê infinito, pois assim quer parecer. Não sei o que o mar vê em mim. Assumir o sol, por causa do mar, é amor infinito numa tristeza infinita. Me deixa brilhar como se fosse o sol. Ficar só, como se eu fosse incendiar de solidão, que solidifica o amor, me enfraquece sem tristeza, como se eu pudesse ser feliz. Quero ao menos viver este instante, como se fosse a última poesia a despontar no azul do céu, assim, o azul do céu é para sempre céu, é para sempre azul. O céu não se perde no infinito de ser. Quem sabe que amo a vida como se fosse o azul do céu? O tempo eternizado pelo céu, não precisa contar os instantes. Pensa em mim pela luz do céu, iluminando Deus com meu simples amor. |