Blog da Liz de Sá Cavalcante

Impacto profundo

A alma vive apenas nos mortos, por isso sinto falta da morte, num suspirar de morte. A alma vive entre os vivos, no meu suspirar de morte. Na morte, os sonhos são outros. O sonho da morte é proibido, por isso a ama sem sonhos. Não sei amar sem sonhar. Mas a morte, ama tanto que parece sonhar. A rosa dos sonhos é eterna enquanto for flor, mas se tornou um sonho. A flor é a serenidade da vida. O tempo não é sereno como a vida. O tempo cuida dos sonhos, mas não cuida da vida. Vida, foste uma miragem, devaneio. Amor, prisioneiro meu, vi o céu pela sua escuridão, compreendi o sofrer da vida, pela escuridão do céu está claridade em mim, falta no céu. O céu é a esperança de ter a vida em meus abraços tolos de tanto amor. O amor, no céu, não desaparece. A fatalidade da morte é o amor. Durmo na morte sem querer despertar, para a vida ser eterna.

Os muitos agoras de um único momento

Os muitos agoras de um único momento é perder esse agora, como quem conquista a vida, sem o agora, que é inseparável dos muitos agoras, sem o agora que é mais essencial que a vida, do que morrer. De um único instante, longe dos momentos surgiu a poesia de todos nós: o amor. O amor é a ausência absoluta. O instante é a realidade que falta neste agora. O instante não precisa de realidade, do agora, para ser apenas o tempo que se foi, numa aceitação de adeus, de sobrevivência. A vida é a morte de sobreviver, ficar perdida no ar, tendo apenas o ar que respiro. O que sustenta o ar é a minha ilusão, num desabar de flores, que fortalece a alma. Os momentos são flores que nunca nascem, por isso, são perfeitas. Descobrir a flor que existe em mim é negar esse jardim que se chama vida. A vida não se compara à flor que existe em mim: despedaça o amor, me deixa inteira para morrer, para cultivar a flor de dentro de mim, que arranca o meu coração da flor, em flor.

O nada do nada

Minha espera é a plenitude, que está além do horizonte, além de mim, das minhas forças. Minha espera é um adeus de plenitude. A vida se desenha na alma do meu corpo, sem a alma do amor. Chorar não significa amor. O distante está tão perto: a morte. No entanto, nada sinto. Sinto apenas o amor da minha alma por mim. O infinito pode ser este agora apenas, ele seria muito mais pleno de sentimentos, e assim o infinito nunca seria esquecido como fim, seria apenas um começo, sem e com o fim. O nada é o começo do nada do nada. Eu vivi o nada. O fim do nada é o ser.

Benevolência (bondade)

Perder-me para me encontrar nesta perda, morrer nesta perda é uma bondade infinita. Deixo a luz entrar na minha vida. Nasci luz, fiz-me luz para amenizar o morrer, que recorre ao nada da luz que também é luz, que invade o oceano de lágrimas, que eterniza a vida em ser só. A bondade de chorar por amor é a vida do universo. Sem chorar não existo. Bondade, você existe? Este não saber me faz parar de sofrer. Palavras são apenas palavras que esperam por mim, sem solidão. O destino da alma é não perdoar o ser por ser. Tudo foi perdoado, menos eu ser um ser. Fui me desacostumando a viver, como um resto de sol dentro de mim. Alimento meu espírito de morte, apenas a alma renasce em meu espírito, sabe o quanto amo, faz justiça ao meu ser. O sol esquece o ser em seu amanhecer. Nada é eterno, tudo passa, essa é a essência da vida, de viver. Viver para o fim, no sonhar que ainda dorme por mim, como se eu estivesse viva.

Estações da alma

Como pertencer à alma, se ela me pertence, cada vez que sou suas estações, que não poderia ser todas primavera. Nunca eu serei as estações da vida. A alma nunca será vida. A alma é a morte, no depois da morte acontecer. Fiz do medo fé. Há fé na fé, seja a fé de vida ou de morte. As estações da alma condenam a vida e a morte. Tudo é apenas frio ou calor, alegria ou tristeza. Sem a vida o mundo foi deixado por nós. E então percebi que a solidão não existe. Tudo é apenas a presença do céu, entre sonhos de algodão. Nuvens de aço cobrem o céu de infinito. O infinito não é o céu: é alguém no céu.

Edificando-me

A ilusão é uma santa virtude por onde vejo Deus em Deus. Luz na mão da escuridão, onde tudo é real, como sombra da ausência do meu ser, a brincar com o sol. O sol é minha presença eterna. O vento sussurra vidas, escondidas entre a vida e a morte. Enquanto a vida não aparece, existem apenas os pensamentos feitos de sonhos antigos. Também foram feitos de pensamentos. O tempo é arredio. Elaborar o luto de viver é encontrar a eternidade. Tive a alma por um segundo, que durou pra sempre. A eternidade do meu olhar é minha única eternidade. O vazio é a eternidade da alma, quando não estou só. A liberdade nasceu livre dos sonhos da sua liberdade. A inconsciência é um sonho. Vou viver pelo meu olhar. Você acredita em sonhos? Acreditar que sonhar é possível, me faz feliz. Sua falta de sonhar é um sonho, isso importa para você? Não consigo voltar dos meus sonhos para mim. A vida é cheia de possibilidade, não sou uma possibilidade da vida. A escuridão é como te olhar nos olhos. Minha alma conhece o nada que existe nela. A alucinação é se abrir para o mundo, não consigo enlouquecer, às vezes me pergunto se seria melhor. Como saber o que é melhor para mim? O que ainda pode morrer em mim? Morrer me torna ruim? O que falta na morte? Falta me ver sendo próxima a mim. Estou querendo da morte o que ela não pode me dar: amor! Mas eu posso lhe dar amor, mesmo sem receber amor da morte. Eu levei minha alma à morte. Tudo para falar de amor ao amor. A liberdade vê amor em tudo. O amor precisa de ajuda. Tudo se resume a um porém. A alma é sempre o porém de alguém. A alma é a dança da vida. Vida é apenas a maneira como dança a alma.

O conhecimento do espírito

O universo é tão pouco para o meu amor, que me sinto diminuir de espírito, até morrer de amor. Não existe existência sem essência. O amor se completa no ser, mas não como o ser se completa, e é através do amor. Tenho que sentir totalidade nos meus fragmentos. Eles não reagem ao meu apelo, parecem inertes de si mesmos. A lembrança existe apenas no fragmento que me aproxima da morte, sem seus fragmentos, absorvendo o nada sem o todo. É preciso o esmagamento da alma para que eu viva. O encantamento da alma sou eu. Se eu chegar a ser, vou morrer, por absorver a vida, tê-la dentro de mim. É cruel morrer por não ser, mas morrer por ser é uma alegria, é melhor do que o nada. Como me lembrar de ser feliz? Ignorando que eu poderia existir. Não lembrar de mim é ter Deus profundamente na alma. Deus recebe de si mesmo o ser, que não o recebe, mas o tem por viver. Viver é o conhecimento do espírito, que se faz ser. O ser é o lado desconhecido do espírito, que apenas o ser conhece. É o ser. Minha essência é meu ser sendo recebido por Deus. Deus me abraça tão fundo, que suga minha tristeza. Ainda me sinto só, como a esperar o nada. O nada não me quer, pois me ama. Sua renúncia me faz sofrer mais do que amá-lo. Saber é amor. Saber é viver no que sei de mim. E se eu não souber, o que importa é Deus saber, infinitamente por mim.

Perplexidade

Quero minhas lágrimas ocultar da alma, sem me esconder. Quero a tristeza mais perfeita, na perplexidade de me sentir existir. Como ouso existir? Eu existo em abraços de vida, numa alma inconfessável. Falo de mim, não por mim. Se meu infinito particular fosse meu corpo, não necessitaria tanto abraçar para me perder, seria independente com minhas perdas. Minhas perdas são minha voz, meu suspiro. A fala se cala, as perdas não se calam. As perdas transformam o infinito em nada. Não me preocupo com a vida, não me preocupo comigo, quero apenas parar de sentir. Sentir me machuca mais do que sofrer. Quero dar asas ao céu para que ele conheça outros céus, tenha outros sonhos, mais humanos, reais. Tão real que seus sonhos sentirão o céu num novo céu, onde o amor nunca deixa de amar. Que importa o amanhã? O amanhecer, para mim, é esta minha alegria infinita de ter fé em mim. A esperança é o dia a dia, a fé, sou eu.

A lua

A lua é o infinito do meu amor, que me faz sentir eterna, como se não houvesse sombra na lua dos meus olhos. A lua desmaia como uma poesia: é quando a lua está lua cheia. A falta da lua me faz sonhar, eu a imagino como um sonho, um sonho de viver, para esperar o amanhecer que pousa em mim feito lua, mas não sonha. O sol se perde no horizonte do amanhecer, encontra a paz. O sol e a lua brigam por um lugar no mundo. O sol é a paz da luz. Do sonho nasce o sol e a lua, no tempo de sorrir. A lua tem uma função secundária perto das nuvens. Quero morrer como a lua a partir, se misturando com o sol. A presença da lua é o sol. A lua é uma poesia sem ideias, sem alma, sem sentimentos. Este é o encantamento da lua, é também o seu fim.

Espelho de dificuldades

Um espelho de dificuldades a se quebrar dentro de mim, é quando sei que nada me resta. É melhor o positivo do que sentir? Será o positivo a morte? Então o positivo não adere a morte? O espelho suga minha aparência. Minha aparência é agora apenas a falta de um espelho. O espelho adere a aparência ao impossível de ser. Apenas olho para minha aparência, como algo distante, que nunca deveria ter sido. Não me conhecem pela aparência, mas pela minha essência, pelo que sou. Por isso, sem aparência, sou feliz. Meu ser não é um ser, é apenas alma, que transcende no nada: realização do infinito, onde tudo é apenas um espelho que não se reflete no amor.