Blog da Liz de Sá Cavalcante

Conheço-me na alma

É difícil me definir como ser, me anulei na alma, não posso anular meu existir. Contrair a alma dentro de mim, me deixa sem solidão. Escapar da alma é sem solidão, sem vida. Sem a vida, a solidão é o que eu quiser: meu respirar, uma poesia, a eternidade. A solidão não pode ser ela mesma, para si mesma. No olhar a solidão sou eu. Confundo a eternidade com solidão. A solidão são os braços que me seguram da vida, para eu transcender, voar de lugar nenhum.

A decadência da decadência

O olhar da morte não cessa: fica em mim. Fica em mim, limpando minha alma. Sem impurezas a alma morre. O vazio é uma estrela que necessita cair do céu, sem tristeza. Tudo sinto, corroída por mim, tem um dever: me sentir real, mesmo a realidade a me condenar. Não acredito na realidade: o tempo não passa: desaparece da minha alma, disputa o meu ser comigo. O desaparecer é o possível. Aparecer torna tudo impossível. O amor é impossível: aparece sem o amor, nada existe. Para que te perceber, se não me percebe? Como perceber no nada? A existência é a presença do nada: é o perceber do nada. O céu exclui o nada da vida. Assim, o nada não é nem uma lembrança distante: é apenas o nada. No nada os momentos não se perdem, se multiplicam. Insisti em viver sem momentos, sem instantes, por isso nada perdi da vida.

Apatia (perda de interesse e motivação)

Vontade de ir com a lua, sem me perder do sol. Não há o ser como o ser, mesmo sem ser isso ou aquilo. Um dia serei esse ser que necessita existir em mim: já o amo. Amo esse ser, esquecendo de mim, no meu ser. Para esquecer é preciso amor. Eu não necessito lembrar de mim. A apatia me faz lembrar de mim. Não consigo reagir à apatia. Durmo em apatia sem a poesia ficar em mim. A poesia apenas nasce de mim, segue o seu destino. Segue-me, destino, para escutar meu amor e senti-lo morrer em ti. Trai minha morte ao escrevê-la. Não vou desistir de sofrer, seria desistir de mim. A alma da escuridão é o nada. O nada me devolve a lucidez. O sonho não tem a esperança de se tornar um ser. A chuva devora o tempo. O tempo não vive, eu vivo o tempo inexistente. A alma sabe do tempo que não possui. É sonho, é o tempo, é o nada, que me torna isenta de mim. Mas o nada, o tempo, o sonho não são isentos de mim. Sou sem mim, mesmo a sonhar, amar. A vida é a plenitude: luminosa do meu ser. A presença da plenitude é o fundo de mim. Corpos vivendo sem a realidade, pensando serem um ser. A desilusão da alma é amor que sinto. Sentir, não sentir, é o mesmo fim.

Saber sonhar

Ver é fazer da alma um encanto sem deixá-la encantada, senão não a veria mais. O pensamento é a negação do ser. Saber sonhar é fazer dessa negação algo de positivo. O nada é um bom lugar para sonhar. Nunca o sonho encontrou a realidade: é como um véu de sonhos. O mundo não se desliga do sonho. Tiro minha pele para sentir que eu sou eu. Sonhos descansam no amor. Tenho muito amor para sonhar. Perder estrelas é não ser real.

Reclusão da morte (presa, encarcerada)

Não vou me recuperar da falta do nada: é como perder o sol, as estrelas. A ausência é um sonho eterno, um entorpecimento da alma. A eternidade do sonho é o despertar da vida. Voz de estrela na escuridão do meu ser. Quero viver enquanto a vida for um sonho. Quero as estrelas nas minhas mãos, sendo a eternidade. Dormirei com a mão fechada. A eternidade protegerá meus sonhos que são o seu fim.

Letargia (diminuição da capacidade mental e física)

Renuncio o passado no infinito de onde pensar, é a morte. O nada é o meu pensamento. A falta do nada é como me sinto: triste. Esperança, nunca morre: torna-se alma. A solidão da morte é divina. Meu tempo de vida é a morte, é o universo. Espero que o mar encontre apenas areia no seu abandono. O poder sobre a vida e a morte é o amor. Penso no mar a divagar o pensar que pensa em nada. O nada são sonhos. O sol sonha em lua. O som do vazio é a vida, o silêncio do vazio é a morte.

Criar é diferente de sonhar

O amor nada acrescenta ao ser, sem sonhar. A vida tem sentido apenas em um adeus. O adeus é livre para amar. Saindo de mim para ter amor em mim. Nada penso no vazio de ser. O vazio é o amor que precisa morrer.

O penhasco de um sonho

O silêncio do céu são nuvens de algodão. A morte é tão rara, vazia, que todos morrem. Morrer é conseguir cantar a vida. No penhasco do sonho, é onde tenho um corpo, mesmo que seja para morrer. Morrer é não me entregar à luz. Luz não é deixar a escuridão no vazio da luz. A luz é a sombra da ausência. O tempo é a paz de Deus. O infinito é a aflição de Deus. O fim é essencial. A ausência não merece meu sofrer. Sobrevivo ao nada, não consigo deixar o nada no passado. O nada nunca será o passado. O nada é um agora de flores. Não posso pôr a morte no meu silêncio. Um penhasco de sonhos me faz viver, reagir à letargia: me faz falar de vida.

A estrela é um universo na minha dor

O indefinido da minha alma é esta ausência que não sei se é a presença de Deus na vida. Morrer é esperança. A vida não faz que haja ser. Minha ausência de estrelas é o céu a desaparecer na minha solidão. O céu é uma solidão inacessível: de almas. Nunca soube o que é solidão, por ser só. Sonhos amam tanto quanto eu. Sinto as mãos de Deus amparando a minha vida, das minhas dores, da ausência do céu em mim, não tem nada a ver com a ausência do céu. Minha ausência, sim, é luz do céu, o faz esquecer sua ausência, e a solidão se determina como um céu de estrelas.

A identidade da alma é o nada

A descontinuidade da vida é o amor na alma. Pela alma, aprendi a viver com o pensamento do fim. O pensar do fim é sem eternidade. Pensar sem eternidade não é o fim de pensar no fim. O fim é uma eternidade, depois da eternidade. A eternidade para sentir o meu amor. Sei que sonhos não são eternos e necessitam de mim, na pouca vida que eles têm. A eternidade é um vício. O descontínuo da vida é a vida, é o teu adeus. Revelações é o comunicar da vida em ser, mas sem ser. Nenhum ser pode fazer a vida existir. A vida existe apenas sem ser. O ser é uma ilusão da vida. Não sei se estou viva, sei que amo. É tarde para morrer, para viver. O arvoredo de sonhos expande o céu. Nem o nada, nem a vida, nem a morte acrescentam o ser. Ser são sonhos. Sonhos navegam em não ser, sendo ser. Sou ser e não ser ao mesmo tempo. O que a alma realiza eu também realizo, de outra maneira. Ambas realizamos o que somos sem nós. A alma dos meus sonhos não se realiza sem nós. Nós, por um sonho. O retraimento da ausência é o céu. O céu lembra da minha ausência, não lembra de mim. Eliminar a eliminação como se ela fosse vida.