Blog da Liz de Sá Cavalcante

Parede de ar

Meu amor são paredes de ar, de solidão, onde o amor circula. A parede de ar é um sopro de vida, vendaval de sonhos. O ar fala pelas paredes de ar. Escuto a presença sem voz, como paredes sem ar. Não desliza ar, como se fosse bom amar. Como penetrar em paredes de ar, descobrir os segredos da alma. O ser é o ser do espírito, não do ser. É cedo para o ser, é tarde para o espírito. Esforço-me para viver, para ter o nada em mim. A perda do espírito é viver sem morrer. Quero sentir apenas meu coração a bater. As batidas do meu coração são como a realização de uma vida. A vida vive para sentir meu coração bater, como uma canção de amor. Soltei as rédeas da imaginação. Solto o ar na imaginação, como se a terra, o ar e o mar fossem imaginação, por isso, eternos para mim, de uma maneira que não são eternos para ninguém mais, da maneira como são eternos para mim. São eternos na minha alma. Eternidade, poesia triste que se perdeu, tornou-se alma.

A presença de um adeus

A consciência é sem emoção. Torna a presença de um adeus desnecessário. Tão desnecessária que é a vida. A vida sabe como ser necessária, mas não quer ser uma necessidade, quer ser amor. Não quero me ver como me vejo sem o teu adeus. Nem o adeus me dá coragem para aprender a me amar. O vulto do amor já me causa admiração por esse amor, por estar perdido, por eu ter me encontrado sem teu amor. A saudade não tranquiliza o amor inexistente. Respira como se vivesse. Não se desprendeu da vida por completo, ficando em mim, como um fantasma. A vida é pouco para o amor inexistente, quer morrer, não consegue o mar, cobertor da minha poesia., torne o amor inexistente, esquecido. Dormi como o mar. O mar é o ser de todos os seres. O meu ser fez do mar minha consciência interior. E a poesia flui no mar, areia do sol. Despertar o mundo é como areia sem sol.

A dor do corpo cura a dor da alma

A existência não é amor, não faz existir. O corpo não deixa a alma existir. Por isso, a alma existe com a falta de um corpo. Alma, te verei um dia como é: o nada em forma de poesia. Serei atenta, como se partisse de mim a alma e eu abrisse os meus olhos em mim, com saudade da alma. Os meus olhos são lembranças que se veem. A força do meu olhar sou eu, não o meu olhar. A vida não devia existir, a existência era para ser só. Tão só quanto a origem do meu ser. Pode a vida cessar, continuarei sozinha, serei sempre eu sem mim. Não vou partir por amor. Estou segura em mim. A alma vai renascer vida como se o meu sorrir fosse minha presença. Presença que ninguém pode me dar. Renascer é falta de presença. O olhar, acima da vida, não além da vida, é só. Essa solidão vem de longe: de dentro de mim.

Meu ser se essencia

A vida é apenas isso? Uma espera por nada? Como vou viver na essência se não há vida? A vida é infinita espera de viver. O viver nunca acontece, por isso, é amor. A presença é a única ausência que pode ser vivida. Tento captar o absoluto pela morte. A realidade não pode me dar um corpo. Um corpo se dá na alma. Nada foi alma para a vida. A vida leve se deixa levar numa eternidade mais perfeita que a alma. A alma é a imperfeição da vida. Não tem vida para a vida. Cuidar, amar, o que teria alma. Um dia a alma cuidará de mim. Vejo o realismo na falta de ser, não é falta de vida. O ser nunca saberá o que é ser, nem mesmo morrendo. Repartir minha alma com a poesia é um começo. Floresce a morte no meu desespero. A vida é inviável. Para salvar o nada, amei a vida um dia. A vida caminha no meu respirar. Não há o fim. Respirar é infinito, é como o vento. Sacudi o vento sem respirar, imagina se respirasse, perderia o vento sem respirar por mim. Respirar por mim não é respirar. Respirar é olhar o sol como o sol me olha. Assim, nasceu algo mais essencial que a vida: o respeito pelo nada.

Companhia da morte

Ver o que dá para fazer com a alma na companhia do nada, poderia ser a companhia da morte, para a alma se realizar pelo sol, pelas estrelas, longe da ausência da vida. A companhia da morte é uma maneira de não fugir de mim. Tento imitar a vida no amor. Mortes permanecem vivas no amor. O tempo e o espaço são o amor que possuo. Nasceu a esperança sem amor. O amor são remendos da vida. Somar a vida ao amor se torna o nada que transparece de amor. O amor foi o nada da minha inocência de ser feliz. Nada existe no ser, nem a vida, nem a morte. Meu ser não é por si mesmo, está dentro e fora de mim, onde não posso existir. A existência é anterior a mim: essa é a minha morte. Quando existi, não existia mais morte, vida, apenas eu em mim, onde nem mesmo o vazio consigo sentir. Não há o que amar, começo a me tocar, para saber se sou real, começo a achar o vazio real. Tudo depende da vida, até o vazio. O vazio não estranha o amor. Por isso o amor é esse estranhamento. O amor dá vontade de desaparecer. A ausência substitui a realidade, mas não substitui o amor. O nunca mais se fez sempre pela vida afora, mas nunca deixará de ser esse nunca mais: é sua essência, sua identidade, seu céu, é ele mesmo. Pergunto-me se o nunca mais voltará, afeiçoei-me a ele. A volta do nunca mais é morrer.

Não existe outro tempo, mas há o recomeço de viver

O agora é apenas a morte, não vivo sem esse agora, onde não sofro, sou feliz, descoberta por mim pela morte. Morte, espero por ti, largando minha alma. Tudo desaparece em mim. Morte, não existo sem ti. O que desaparece não se esquece, faz parte do não vivido. O não vivido é a vida. A individualidade do tempo é o ser. Apenas no tempo o ser é um só. Para o outro ser, o ser são vários seres, e ao mesmo tempo é apenas eu. O ser não é para o ser. O ser é sempre de outro ser, por isso se sente um nada. Não voltaria pelo tempo, mas por mim. O tempo significa apenas separação. O tempo me exclui de mim. Falta pouco para cessar a vida, é menos do que o pouco em mim. Não conquistei o mundo, mas conquistei o meu amor por mim, vivendo. Imaginar nenhuma ilusão é imaginar eu dentro de mim. Que mundo amaria o amor? Não dá para criar um mundo imaginário de amor. Resignei-me não a viver, a sobreviver. Sobreviver não admite sonhos. Sonhar é raro. Tenho que sair e voltar de mim para sonhar, renascer. Tudo ama, nada acontece. Nada foi perdido por nada acontecer. A alma é uma maneira de tornar o acontecer necessário entre mim e eu, para eu morrer em paz. Forcei o acontecer alheio à morte. Mas foi quando percebi que posso ser esse acontecer. O acontecer é o que existe sem a vida ou a morte, que não está em nenhum momento: esse acontecer é Deus. Apenas Deus acontece de verdade. A falta de Deus é falta de amor. Eu amo, confio em amar. A alma é mais visível do que eu, do que o amor. A transcendência cessou o amor no amor. No ser não há morte, por isso morre, mas não quero ser um ser morto. É suficiente ser eu para mim. Não reconheço a morte na morte, mas a reconheço na minha morte. Enfim, não sou só, eu tenho a morte dentro de mim. O silêncio invade o ficar, sem ser o silêncio, apenas fica. O corpo destrói a vida, não a vida do corpo, mas a vida interior, queria ser aceita como um corpo, que cuida, salva, ama. Sem vida como uma onda que se perde do mar, busco algo em algum lugar. Algo que não seja corporal, mas até partir é corporal. Vida, no seu abraço, esqueço meu corpo, minha alma. Esse abraço é mais do que corpo, do que alma, é ter você. Não posso interpretar meu corpo, como se com ele eu explicasse o mundo, a vida, o teu adeus. Nunca pensei na solidão como a falta de um corpo. Então não sou só, se posso me abraçar, me tocar, tenho toda a realidade em mim, não posso ser só. Sou a minha realidade, que descansa em corpo, em alma. Alegria, vieste dos meus sonhos a me fazer dormir. Pode ter sido apenas um sonho, nele sou feliz, como se algo restasse do meu corpo, diluído de dor agora sou só, dentro do meu corpo, sufocada, sem palavras para sofrer. Sinto minha presença irreal. Não existe outro tempo, outra vida, agora. Tudo é apenas um recomeço, sem vida, tempo, apenas eu em mim, e nada mais.

A certeza sensível ou o isto

A certeza sensível ou isto me faz amanhecer. A certeza inunda o mar. A vida está declamando meu amor. Tudo fez só sem o mar. Quero adotar o mar com meu amor. O que posso fazer para amar a vida? A abracei, nada senti, mesmo inteira de corpo e alma. Os abraços inventados no sonho são mais reais, mais plenos do que o abraço corporal. Abraços, onde estão suas lembranças, que invadiram o mundo, o céu. É impossível voltar ao corpo da amargura. Nada posso fazer sem um corpo. Luz do céu, desfolha o sol no meu corpo até a escuridão acalmar o céu. Ver a luz é como se não houvesse escuridão. Não fique triste, escuridão, revela tua alma, para te compreenderem. Meu verdadeiro olhar é a escuridão fugindo do meu olhar pela luz do céu que cega o sol. Luz das carências, nunca me pertencerá. Todas as vidas são essa luz de carência, que nada quer além de mim. A vida explorando a realidade, deixa de ser vida, do que não ficou em mim, por mim. O tempo é o passado, precisa ser esquecido para eu ser saudade de mim. De uma maneira ou de outra, nasci. Sou minha, não deste nascer que morre em mim. Morrer é apenas minha outra alma, num amor que não é meu. Outra alma feita para eu me esquecer de tantas almas, tanta exaustão. Essa exaustão não pode ser amor. Dormir é ser eu, não posso ser eu, prefiro a realidade, prefiro a realidade sem mim, para eu olhar para trás. Meus sonhos me tornam real para mim. Tenho apenas sonhos para contar a alguém que já me conhece em sonhos. A boemia de amar. Abençoe meus sonhos nos teus. Vida, soube esperar por mim. Sou agradecida, me ensinou a ser eu. Foste a vida do meu sofrer, não minha vida. A vida, sem antes ou depois, preserva o instante do seu olhar, que é saudade, é antes, é depois, na mesma vida, mesmo sol. Crie uma saudade para a saudade, seja feliz.

A oposição entre o ser e o saber

A vida vivente em mim me ama quando escureço na alma. A escuridão é uma luz profunda que me apaga por dentro de mim. Sem alma não há luz, nem escuridão, é onde existo. O começo e o fim são o sacrifício de Deus. O desaparecer da luz é a imagem infinita de Deus. Quando a luz aparece, Deus desaparece na sua presença. Deus, você é a presença que durou na vida. Dê vida à morte, estou sem mágoa de morrer. O mundo é grande, cabe a vida e a morte. O mundo é pequeno, sem vida ou morte, ele se torna poeira do tempo. O mundo é o oposto do tempo. Entreguei ao tempo o mundo, apenas assim fui feliz, com as horas existindo distante de mim. Assim nasceu meu tempo emocional, invadindo o céu das minhas súplicas. Minhas súplicas são o meu amor, meu tempo, minha saudade, meu céu, minha oração. Inundada de imaginações, nunca estarei seca do mundo. Que a vida se faça amar. Amor é saúde de vida, não saúde de morte. Tenho carência de morrer, assim como o céu é das estrelas, assim como o sonho pertence à imaginação. Queria pertencer à imaginação, assim como o sonho. Queria afundar nas estrelas, chegar à superfície do céu, criar novas estrelas para o céu, com minhas poesias.

Martírio

Nasce o amor: uma vida pode servir para outra vida. O amor me faz ter uma aparência. O tempo nasce sem amor, como um sol nascendo sem vida. Vida nasceu sem o tempo. Eu queria a vida em um único tempo: ser feliz. Feliz como a sombra do meu coração. O amor caindo do céu. A chuva, o mar, o sol, a vida é o amor. O desespero é amor. O amor não é amor sendo amor? De que vive o amor? Do ser? Se tenho perdas, tenho amor também. Um dia as perdas serão amor. Quero chamar a vida pelo nome. Mas que nome teria a vida? Preciso unir a vida à saudade de viver. A aparência buscando a vida. Deixei-me sem a busca da aparência. Morri sem ter aparência. Meu sonho é minha aparência. Talvez a falta de aparência seja amor. Tudo fiz para ter uma aparência, nada fiz por mim. Fiz pelo sol, pelas estrelas, pela poesia, para ser isenta de mim. O outro é o não eu, por isso eu sou eu. Queria falar com o outro eu em mim, para não ser mais eu. Se eu agir certo, amar o agir do amor, verei a vida. Jamais sonharia, mas admiro o sonho. Ele ficou com a minha sensibilidade. Fiquei vazia, parece simples, mas não é: é como se eu fosse excluída do mundo sem sonhar. A existência é um sonho, não quero viver de sonhos, a poesia perderia o sentido, talvez nem existiria mais. Abraços são distâncias reais. O tudo que eu era nunca existiu. Na vida não há renúncia da alma. Os abraços fogem da alma, apenas minha alma me persegue: parece me abraçar ao me perseguir. Talvez ela não saiba ser diferente do que é. Quando o mundo se tornou pequeno para mim, resolvi ser do céu, das estrelas, como se eu fosse o mundo do céu. A estrela é uma saudade que era para nascer. Nasci da estrela, dessa falta, dessa saudade de viver, escorrendo céu em mim, sem sangue, sem dor. Saudade irá embora apenas com a minha morte. Saudade, abatida de amor. Não quero vencer o que sinto. Deixa-me tocar a saudade sem estrela. Quero ver a alma, não pelo olhar perdido em viver, mas pelo meu amor.

O desespero é sem solidão

Deixa a alma do lado de fora para que ela possa sentir o sol e captar o significado da vida na alma. O céu são hipóteses de que a vida é sozinha no céu. Será que necessito viver? Depois da vida não há eternidade, há o céu. Brinca com meus sonhos para o céu ser mais verdadeiro: sem mortes. Há mortes que se escondem. Na verdade, há mortes falsas, sem verdades. Sangue na alma e a solidão no corpo. O céu é um desespero sem solidão, onde as almas vivas em minhas poesias céu protetor, sem morte, vida, apenas palavras. Não há céu na lembrança, nem sem lembranças há céu. Trocar de lembrança é não ter outro em mim. Céu, você realizou meu pensamento. Não sei se o serei um dia. Mas, de alguma maneira, meus pensamentos se tornaram minha vida, mesmo sendo pensamentos de morte. Um dia serei a paz da rocha, a se debater no mar. Serei atenta ao amor que sinto, até ele se dividir em mim. Deixo a solidão falar para o meu desespero, não para mim. A solidão é o mundo, não as pessoas. Não são sozinhas, se fazem sozinhas, como um abraço de solidão, de tristezas. A tristeza é o que quis ser, por isso nada posso ser para a tristeza. Não há início nem fim na tristeza. Murchar a lembrança da vida, florescer a morte com a fé na morte. É contraditório ser, viver. Quando o espírito está nas mãos da morte impossível a morte está em mim, sou espírito. Sou o que fala no escutar indefinido do céu. Ensinei o céu a amar, a viver. Mudanças do céu é a minha liberdade de amar. Posso ser ainda mais se o céu, se Deus quiser.