Blog da Liz de Sá Cavalcante

Insônia das palavras

Não sinto a vida, se a insônia das palavras me trouxer vida, será o fim da poesia, de abraçar com a alma. Não sou eu quando sou eu. O que renuncio num silêncio espiritual não pode ser recuperado. Como recuperar uma paz noutra? O afastamento da paz dá paz. Na paz, as palavras se completam. Sinto cheiro de vida. A vida morreu, sua alma está em mim. A morte não sabe ficar em ninguém. Por isso, morri, para a morte sentir minha presença. A poesia faz as palavras viverem. Quis minhas palavras, eu não pude te dar. Fique com o céu, o sol, o mar, me deixe a poesia, mesmo sem eu respirar. Falo só em respirar. Sem respirar, conquisto o mundo. As lembranças fazem o céu repetir o sol até chover palavras. O meu interior é só, eu não sou só: estou vivendo de palavras, da insônia das palavras. Alma, poesia não desejada. Alma que se foi numa lágrima, doce como o céu. Morri a cada momento por te ver. Não há poesia que cesse esse instante de morte e de dor. A agonia da falta desses instantes não é vida.

Fios de imaginação

Estou por um fio da imaginação. São fios presos sem alma, de alma. Costuro o fio do imaginar na alma, como um resto de solidão que ficou em mim, como saudade da alma. A saudade da alma me matou, ressuscitou-me como o nada a dançar. Minha solidão tem asas, rompeu com o imaginar, leva-me para longe de mim. Vou me unindo para escapar num fio de imaginação. Estou triste como o sol a iluminar. Meus lábios de sol, a falar de amor. Os dias cessam, como se não fosse o amor que sinto. Tudo falta ao sentir, mas não lhe falta amor. O amor, sendo real ou imaginário, é e sempre será amor. O amor de uma ausência não existe nem na imaginação. Ausência nunca será amor, capta a alma. Amar é ser amada. Escrever é falta de ausência. A ausência é como fios da imaginação na imaginação de outro alguém, que torna minha imaginação viva. Imaginar é andar de mãos dadas com a vida, quando tudo se separa.

Espelho da alma

O mar, espelho da alma, se reflete no nada de sentir. Do sentir, espero o nada na minha alma, espero a plenitude, o céu, o mar, desse nada sagrado que se chama de eternidade.

A saudade por algo existir para mim

Não consigo pensar no ser que existe em meu ser, por pensar em mim. A alma é presença do ser no meu sorrir. Quem sofre de alma terá ajuda apenas do céu. Céu, como pode necessitar de mim? Busco o céu na vida. Mudo de céu, não mudo de amor. Mudo de sonho no amor, como se não existisse céu.

Sentimental

A essência do ser é retornar ao nada sem o meu ser. O ser, além do nada, sem o nada, é morrer. A vida está distante do começo do ser, perto do fim do ser. O tremor das minhas mãos é a vida, onde nenhum som pode nos interromper. Harmonia eterna sem almas.

Cinzas do sol

Jogo as cinzas do sol na tranquilidade do amor do amanhecer, que antes era apenas o sol, agora é vida e amor. O sol, vida do que se foi no amanhecer. Sou livre no partir do amanhecer. Vivo apenas o amanhecer da poesia.

Caminhos do coração alado

Meu coração pode parar de voar, mas não pode deixar de ser eu. Voa alto, coração, voa, amor, para que eu te encontre apenas em sonhos, onde o quando cessa. Os caminhos desaparecem no voar do amor. O amor é indefeso no mundo, no céu, o amor está seguro. O amor voa sem o céu. Eu sou o céu do meu amor. O instante perdido é o céu a voar dentro de mim.

Um olhar para a eternidade

Olho, nada vejo que seja do amor, do olhar. A vida não consegue diluir a alma nas minhas lágrimas. Eu trouxe a alma para as lágrimas, sem a diluir. Diluir é mais do que desaparecer: é desaparecer para o nunca existir, ser o seu desaparecer. Algo nasce da morte: o desaparecer em cinzas. Olho a eternidade das minhas cinzas, como uma saudade que não seja o fim. As cinzas, aparência de eternidade. Saudade de algo que não é o fim. Na essência, nada precisa viver.

O nada de se morrer

Prefiro morrer do que me abandonar. A morte é a minha vida. É mais difícil não pensar do que pensar. O nada de se morrer me faz pensar no meu pensamento, assim como a nuvem desliza no céu, é quando penso algo, que não seja eu. Meu pensamento é o outro em mim apenas no pensamento. O pensar é a verdade da alma. Olhar o nada como a mim mesma. A falta do olhar é falta de alma. Não me agradeço a mim, agradeço a alma. A alma é o movimento do mundo. O mundo, mesmo assim, se movimenta. O dormir da ausência é o ser, ausente da ausência. O silêncio é a alma sentindo falta de mim. Em mim, o silêncio não é silêncio, é apenas alma. Se eu soubesse silenciar, deixaria a alma para a alma? O que faria com a alma? Apenas acreditaria no silêncio? Ou duvidaria da alma? A alma não tem reação, parece não existir. Como saber se existe a alma? Pelo amor. A clareza do amor é sem alma. A alma é escuridão, mas a luz é a existência da alma. A alma nasceu para ser vista, admirada, como se a escuridão entrasse no sol, como salvação da alma. É oportuna essa salvação: dela nasceu o mundo! O nada de se morrer, é a morte do mundo. As flores não morrem pela sua beleza, e sim pelos sonhos serem feitos de flores. Busco uma consciência que me diga quem eu sou. Ser não é sou. Eu conheço o nada em mim. Nada faria sem o nada. Eu tive você em qualquer nada, qualquer vida, desde que não se afaste de mim. Temos vidas opostas. Agora quero uma vida de verdade. A alma apagou-se em vida. A alma é a abertura para a morte. Oscilei entre a vida e a morte. Escrever traz lucidez à morte. A saudade de morrer é como desfazer-me no amanhecer. A distância me sorri. Vida, onde está? A pele fica feliz no desconforto do corpo, onde estou viva no prazer de morrer. O respirar fere a alma. A determinação é morrer. Volte para mim, morte apressada, afogueada por existir para mim, como o suspirar do vento. A morte não atrapalha a vida. Acrescenta meu ser na morte. Suspirar traz o nada profundo, abandona o nada superficial. Jorrar a morte no mar da consciência, onde a alma não desce como sangue. A vida me vê sem morte. Alcanço o céu com a morte? Levitar como um sonho de morte é tornar a morte verdadeira em meu êxtase, meu prazer. A morte dá um significado à vida, mesmo sem ter um significado. A morte existe, alegria das minhas reflexões, é uma estrela de esperança, que caiu do céu em mim, como se eu estivesse com o corpo nu, a alma nua. A hora é da estrela, é da morte, do céu, é o firmamento do céu.

Fragmentos do eterno

A alma não tem eternidade, sua eternidade é Deus. A alma não são fragmentos do eterno, ela é a ilusão de eternidade em mim. Somente há a eternidade nos fragmentos do eterno. Não quero viver de eternidades, quero amar, eternamente, mesmo só. Meu amor não pode acabar. Ele apenas cessou de ser. Apenas o amor separa o ser de outro ser.