Admissível zelar pela minha morte, dormir na minha morte, mas não me torne morte. Olhar é a interferência. É o meu eu. Olhar cessa a maldade, é o desafio de viver. Mas o olhar não resgata o que não sente, mas resgato o olhar de mim mesma. A morte é acreditar no olhar sem se inspirar na vida, para acreditar no olhar, que significa morrer no azul do céu, que não desbota minha existência em cor. Consigo dormir quando me falta o céu. O olhar é o agir da consciência antes de mim. Não me apego ao olhar, e sim ao passado, que é o que me resta do olhar, sendo a força do olhar. O passado existe sempre para amenizar o nada. A culpa do nada é me fazer feliz na altura do nada. O nada foi criado sem o nada pela morte inefável de ser alguém. Usufruir da morte, como a certeza do nada de existir. O nada desapareceu para o inferno da alma, viver o que já passou, como se o ontem fosse previsível. O nada é uma qualidade. O olhar perseguidor da alma encontra sua lucidez em morrer por mim. Vivo a imortalidade no nada sem amor. Rastros do céu, onde passo, sem o caminhar eterno. O mundo me rodeia. Em torno de mim. Não sou de mim mesma, sou a poesia que falta na poesia. Para escrever é preciso lapidar o nada. O nada não pode ser esquecido como algo qualquer. A realidade da morte é a mesma realidade minha. O amor não tem realidade, mas um dia serei a realidade do amor que existe em mim sem realidade. Realidade é me dar ao sol sem o sol. O sol não é sol da minha vida, mas me faz amanhecer. Eu vivo do amanhecer à espera do sol. O sol é a lembrança viva da minha existência. Escutar é imaginação de onde nasce o nascer. O nascer não precisa de mim para nascer. Vou criando amor onde nada existe, e mesmo sem nada existir, vivo. Meu amor é a existência de todas as coisas. Existem sem sentir que existem, mas meu amor não tem como não sentir.
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