Blog da Liz de Sá Cavalcante

A liberdade das minhas mãos

A liberdade das minhas mãos na poesia é como o sol a nascer. Mãos que sufocam o meu corpo, minha alma, pelo prazer de uma poesia, que nasce além das minhas mãos. Minhas mãos são uma poesia, mesmo sem nada escrever. A alma escreve pela ausência de mãos, de ser: apenas assim incorporo o que sinto. O silêncio das minhas mãos se fez em minha alma, que antes falava eternamente só, como se fosse renascer da sua solidão. Solidão sem mãos para ser livres.

Liberdade sem mãos

Criei uma liberdade sem mãos, nunca tocarei a liberdade para saber se é real ou confusão dos meus sentimentos. A presença é a perda das minhas mãos, onde me encanto: a poesia virá até mim. O instante afasta a vida, mas não afasta a poesia de mim. A vida é pequena para o meu olhar, para os meus sonhos. Caminho nos meus sonhos. O chão, feito de sonhos, desmorona meus pés, que não sentem meu corpo. A liberdade tem mãos invisíveis que não alcançam meu corpo, nem minha alma. Sinto o azul do céu na alma. O silêncio não consegue viver por mim. Vivências cessam vidas. Alma é imensidão, minha maneira de esquecer o infinito da poesia, por um instante de solidão. A força e a coragem que dá vida ao nada são uma ilusão. A paisagem desaparece na minha ausência, sou minha própria paisagem. Choro pela falta dos meus olhos. Meu chorar é meu olhar. Tudo transparece no olhar: meu único adeus. A distância da vida e das coisas me devolve o olhar, os olhos, minha alma. A alma não precisa de um olhar para ver. Tudo na alma é mais distante que a vida.

Hesitação

O infinito é o absurdo de ter um olhar sem hesitação da alma. A morte é o isolamento da alma no infinito. O infinito sem mim não é solidão. O amor do infinito é solidão. A verdade do infinito é o fim do nada, é o fim do ser. Saudade infinita de realizar as coisas por amor. Apenas quando escrevo realizo por amor, sem me preocupar em ser amada pelo que escrevi. Quando não escrevo, parece que morri. Quando o sonho partir, fico com o vazio da ternura. Nunca irei partir sem escrever.

Decorando a morte de amor

Meu mundo vazio é o meu amor. A vida fala no não ouvir do meu amor. Decoro a vida de amor sem me decorar de amor. Foi pela alegria que morri. A leveza de um instante é a morte. Sem a morte não há leveza. O destino separa a realidade do mundo. O ser existe para nunca dizer: eu sou eu. Se eu sei que eu sou eu, porque é tão difícil, penoso, falar isso para mim? A vida sendo amada não é vida. A carência da poesia sou eu, não sou suficiente para a minha poesia. Poesia é como poder respirar. O sempre cessa no sempre da poesia. O vento cessa a alma no meu amor, no meu respirar. Respirar nasce da poesia. Minha alma está deserta, desolada, por viver. Nada me afasta da poesia, nem mesmo a morte. A morte não é poesia. Não posso proibir a morte de amar as minhas poesias, não é uma sensação esse amor, é uma certeza. A eternidade é o meu respirar, mesmo sem poesias. Nunca sei se vou realizar minha morte, se ela existe dentro de mim, sinto um vazio, não sei se é morte, vida ou solidão. Talvez não seja nada, apenas amanhece em mim, no vazio, no silêncio. O silêncio é um olhar que não se perde. Não cessarei antes de existir, mas já existo para mim, antes de existir. Essa ambivalência é minha morte, minha solidão. O silêncio da alma é a ambivalência de um sonho. A tempestade de sol é a solidão da minha alma na minha ilusão. Escrever impede minha vida, minhas ilusões, que me levam ao extremo da lucidez pela falta do que pensar, me faz perder o tempo, que é melhor sem amor. A atenção é o consolo do nada. Prestar atenção ao nada é ser superior a mim. O silêncio substitui as palavras. Lendo o silêncio, sinto que há vida em algum lugar. Sinto ilusões reais como uma esperança. A esperança é um silêncio que cessa e se torna imensidão. Escrever é dar um fim à imensidão. Morrendo, perco o domínio do espírito. O mar sempre retorna, o amor não.

Alegria de amor

Não consigo definir o destino numa única alegria de amor. Um instante perdido vale mais do que a alegria de uma vida inteira. A reflexão é o tempo que perdi sendo triste. A realidade finita e infinita não é a mesma realidade, por isso não sei o que é fim e o que é eterno. Vi meu fim sem a morte, sem nada refletir. A vida é o meu fim de amor. Se eu buscar outro fim, me perderei, até sem solidão a dor impede de morrer, mas não me impede de sofrer.

Um olhar para o olhar

O amor não se realiza, é um olhar para o olhar. Viver não se compreende num olhar. Exterior ao olhar, sou eu mesma a afirmar meu olhar, eu o desconheço. O meu respirar é inexistente no amor. Mesmo que o amor não exista, meu respirar é inexistente.

Vida irrespirável

Tudo que respiro da vida é o meu esquecer no teu esquecimento. É inseparável o teu esquecer da minha alma. Não vou me restringir a uma única coisa. Faço o possível para ser, não é possível. A realidade não precisa de realidade, e sim de poesias. Respiro a vida na face do adeus, onde a poesia, a vida, não me deixam. Lágrimas respiram por mim. Respiro em lágrimas. A vida é um agradecimento de alegria. A vida é apenas esquecer o nada. O pouco de amor que tem para me dar, me faz feliz. A conexão com a realidade sou eu saindo de mim em ti. O tempo torna a vida respirável por amanhecer. Nem tudo pode ser alma, mas a vida é assim. Os momentos são eternos pela alma. Momentos de alma não é escrever. Há dois amores que cuidam de mim: o do infinito e o finito. Fico dividida entre o meu fim e eu. Separo a minha alma do meu amor para poder viver. Amor nunca é alma. Vivi bastante para esquecer. Vivo de olhos fechados, por isso, preciso morrer para abrir os olhos.

Intuição do sentir

O medo é essencial para não desaparecer por amor. Lembrar é vazio, é a distância que me separa da realidade. Essa separação é feliz, como se eu devolvesse a vida à vida. Não há como ter intuição da vida. Renuncio a realidade pela lembrança de viver, é mais do que a vida, é a renúncia da poesia em mim para ser eterna. Não percebo a poesia, e sim sua eternidade. Eternidade, lembrança do futuro hoje, em que a eternidade se fez em mim, se deu para mim.

Solidão sólida

Se eu olhar outra vez para a morte, não verei mais a vida. Deixa o olhar da espera não esperar tanto pela vida, meu olhar é apenas o que falta nessa espera de viver. Nada me resta na espera de viver, esperar viver me resta. Resta a espera de morrer. Olho para o céu, sinto a vida dentro da vida e me sinto sozinha.

Rigidez

Carente de mim, conquistei o mundo ao sorrir, mesmo rígida por dentro, vivi, amei, o mais que pude. Saudade do nada é meu amor. Minha saudade do nada é começar a viver no nada de mim. Pude constatar o nada, amando-o, tratando-o como ele é: de verdade! Faço dessa verdade a minha vida: o nada existe. O nada sente falta de si. Força na fragilidade. Pode me faltar a vida, em poesia, a saudade cessa. Mas, mesmo sem saudade, o nada ainda é saudade. Saudade de ver, de não ver, de contar estrelas. Estrelas vivem, dormem em mim. Estrelas são minhas almas. Não se afogam almas no amor. Estrelas saltam dos meus olhos. Olhos sem estrelas não sonham. Não posso morrer, sou igual à morte, não sou a morte. Estrelas sublimam o céu de amor. Assim, reagi ao morrer.