O mistério da existência é não amar, para ter entusiasmo, entusiasmo que falta no amor, para nada me faltar. A falta é uma existência maior do que a existência. Existência não é existir, é ser feliz. A saudade sem amor é infinita, é criar o nada em todos, que existia apenas em mim. Por isso, não quero ter saudades. Quero que até o sofrer seja sem saudades, que sua única falta sejam as minhas lágrimas que secaram. A alma bebe a falta das minhas lágrimas. É pior sofrer sem lágrimas. O sofrer tem uma alma toda para si. O ser encontra a sua alma apenas em outro alguém. O ser não tem uma alma em si mesmo. A ausência é a alma eterna. Estou só, no meu amor, que é alma, mesmo sem ninguém que o reconheça. Sou só, como a estrela que se perde no universo. Não sei cantar a solidão para passar o tempo. Solidão, uma dor na alma. Sinto falta dessa dor quando ela quer partir. A alma compreende o nada da minha existência. A alma, eternidade do nada, que me abraça. Mas não é a eternidade desse abraço que desliza na inconsciência. O sonho é a eternidade sem dor. O abatimento pela falta de dor, de eternidade, é a calma da minha alma. O que não vivi é uma vida inteira. É um alívio chorar de dor: é como se a dor fosse a minha ausência. Existe uma força maior, que não me deixa morrer: chorar, como se a vida dependesse disso. Talvez dependa, quem sabe? Uma alma são várias almas, várias almas é nenhuma. O pensar encontra o ser na inconsciência da alma. Ser inconsciente para ver a vida, não vale a pena, o pensamento é uma vida sempre vivida, mesmo sem nunca olhar a vida, vê-la mais profundamente: no pensamento. O lugar para cair, desabar, onde não vou deixar de ser é no abismo do meu ser, pior que morrer sem o abismo que me sustenta, por isso, me faz morrer, por afastar meus erros de mim, quero sofrer, ser imperfeita como o amanhecer, como a vida, e existir, errando por amar. Não há amor maior do que o desespero, mas não consigo te dar, se nada tem de tua, vida, mas te dei a chance, vida, de lutar por mim. Meu sentimento incontido de súplica é apenas súplica, não é amor. Conheço apenas o abstrato do sol: a vida. A sua concretude, a morte, nunca sentiremos ou veremos. Por isso, me sinto abandonada, um peixe sem água. Nunca amanhecer pelo mar que cala, a noite que venera, me dá colo, amor duvidosos. Mesmo assim, quero dormir pela ausência despreparada de mim. A alma tem o sentimento de ser, não é o ser. O ser tem sentimento de alma, não é alma, são dois vazios que não se encontram, sonham um com o outro, como se não houvesse a eternidade para sonhar.