Blog da Liz de Sá Cavalcante

O fim da vida é o ser?

Morrer não é nada para a vida, este é o fim da vida. Não dá para recomeçar sem o fim. Mar da vida, me mande notícias da vida, do amanhecer de mar. O sol, essência do mar, é o mar escondido da minha solidão. O mar escondido da minha solidão não chega até o sol da minha tristeza. O mar da solidão aparecerá como minha alegria. E a minha alegria se torna sol. A vida é um pedaço do céu. Meu corpo absorve a morte sem morrer, flutua entre a vida e eu: este é o fim que é eterno sem a alma, apenas a individualidade sem mim e sem o meu ser. Ter sido não é saudade, é necessidade de ainda ser. A morte é um ter sido que não morreu, tornou-se ausência por não morrer. Assim o ter sido de mim é, mas eu já não sou mais. Nem ter sido um dia consegui ser.

Vir a ser

Nada cessa no vir a ser. Nada é. Vir a ser é estranho, já sendo eu. Eu no vir a ser de mim mesma: é como se o céu tremesse nas minhas mãos de céu. Não é para a vida que a morte retorna, é para a sua alma. Sua alma ainda a quer. Deixo o querer ser apenas alma. Não existe alma sem a vontade. Nem mesmo a alma me faz ter vontade de algo. Mas o caderno é o transcender da alma. Cada palavra, uma expectativa de que a poesia mereça cada palavra escrita, cada proximidade de vida. Deixo-me levar em palavras de alma. Assim, a vida viverá em mim, como um sorriso. Sorrir para a alma que me falta e aproveitar a alma que possuo. Sinto falta da falta de sorrir, como se sorrir fosse um sonho. Quando sonho não sei se rio ou se choro. Desistir é sorrir para o nada, sendo feliz. Desistir é uma ilusão. Ou será desistir a realidade a me sorrir? Quanto falta da alma para ter realidade? A única realidade é o amor. Não consigo ser alma, apenas estou expandindo a minha imagem para o espelho, até o espelho me levar ao nada sem voz. A voz abafando o ar do espelho. Nuvens coloridas de céu, para os meus sonhos dormirem amor. Restam do sonho as lembranças, que vieram tão tarde que perderam sua existência em outro sonho. Sonhar se repete sem mim. Eu não repito sonhos, eles precisam ser únicos, como a saudade de te ter, vida. Não consigo ser presença de nada. Não posso reagir a minha presença, que é apenas a busca do outro. Deixo a vida me levar, senão eu me levo. Além do fim, o sol. Dormir é não ter reação.

O vento e a presença

Sinto a calma do vento como um descanso para a minha alma. A presença do vento não me deixa só, por isso, tenho medo, não sou acostumada com companhia. A minha presença diminui no vento. O vento se torna minha presença e minha presença, minha lembrança, minha vida, por isso, não posso ir com o vento, e percebo que nada é em vão para quem sonha.

Entusiasmo por sentir amor

O mistério da existência é não amar, para ter entusiasmo, entusiasmo que falta no amor, para nada me faltar. A falta é uma existência maior do que a existência. Existência não é existir, é ser feliz. A saudade sem amor é infinita, é criar o nada em todos, que existia apenas em mim. Por isso, não quero ter saudades. Quero que até o sofrer seja sem saudades, que sua única falta sejam as minhas lágrimas que secaram. A alma bebe a falta das minhas lágrimas. É pior sofrer sem lágrimas. O sofrer tem uma alma toda para si. O ser encontra a sua alma apenas em outro alguém. O ser não tem uma alma em si mesmo. A ausência é a alma eterna. Estou só, no meu amor, que é alma, mesmo sem ninguém que o reconheça. Sou só, como a estrela que se perde no universo. Não sei cantar a solidão para passar o tempo. Solidão, uma dor na alma. Sinto falta dessa dor quando ela quer partir. A alma compreende o nada da minha existência. A alma, eternidade do nada, que me abraça. Mas não é a eternidade desse abraço que desliza na inconsciência. O sonho é a eternidade sem dor. O abatimento pela falta de dor, de eternidade, é a calma da minha alma. O que não vivi é uma vida inteira. É um alívio chorar de dor: é como se a dor fosse a minha ausência. Existe uma força maior, que não me deixa morrer: chorar, como se a vida dependesse disso. Talvez dependa, quem sabe? Uma alma são várias almas, várias almas é nenhuma. O pensar encontra o ser na inconsciência da alma. Ser inconsciente para ver a vida, não vale a pena, o pensamento é uma vida sempre vivida, mesmo sem nunca olhar a vida, vê-la mais profundamente: no pensamento. O lugar para cair, desabar, onde não vou deixar de ser é no abismo do meu ser, pior que morrer sem o abismo que me sustenta, por isso, me faz morrer, por afastar meus erros de mim, quero sofrer, ser imperfeita como o amanhecer, como a vida, e existir, errando por amar. Não há amor maior do que o desespero, mas não consigo te dar, se nada tem de tua, vida, mas te dei a chance, vida, de lutar por mim. Meu sentimento incontido de súplica é apenas súplica, não é amor. Conheço apenas o abstrato do sol: a vida. A sua concretude, a morte, nunca sentiremos ou veremos. Por isso, me sinto abandonada, um peixe sem água. Nunca amanhecer pelo mar que cala, a noite que venera, me dá colo, amor duvidosos. Mesmo assim, quero dormir pela ausência despreparada de mim. A alma tem o sentimento de ser, não é o ser. O ser tem sentimento de alma, não é alma, são dois vazios que não se encontram, sonham um com o outro, como se não houvesse a eternidade para sonhar.

O abismo da morte

Realizar a morte em mim é como me descobrir. A morte não se realiza sem mim, nem no abismo da morte. O abismo do céu é o mundo, as pessoas. Não me engano no abismo da morte. O céu esconde o céu do céu, mas não o esconde de mim. Lençóis de água são almas. Quem alimenta a água que bebe? O silêncio, sedento do nada, absorve o nada. O céu se balançando na rua do mundo. Falar é corresponder a vida, o mundo, recebendo-os em palavras, me pertenciam, antes de serem minhas, para serem minhas apenas para serem da vida também. Minha interioridade, vejo me unindo ao meu corpo, para não ser poesia, tudo foi apenas uma miragem de reconciliação com o nada. O nada do meu olhar é poesia. A desilusão é falta de morrer. O nada praticado é o nada da ação, que não muda, age, penetra nos escombros da profundidade. Nada tem fim na ilusão. O sonho é a desilusão da vida, que sonha com sua desilusão, sem o seu fim. O fim da desilusão é ser. A alegria é desilusão do que eu poderia ser. A morte não me sucumbe. A inexistência é esse nós que não existe no ser. O ser é o que a solidão lhe deixar ser. Se a percepção viesse para ficar, olhar não existiria. A percepção é só, como a lua no vento. A inexistência é esse nós que não existe no ser. O ser é o que a solidão lhe deixar ser. Se a percepção viesse para ficar, olhar não existiria. A percepção é só, como a lua no vento. A noite, perdida em meus sonhos, se deixa ver. Sugando a morte é que sinto como é rara, indestrutível a minha essência. Minha vida é minha essência. Como poderia ter alma sem essência? A fraqueza da alma é o amor. Se a vida não fosse essência, eu conseguiria vivê-la. Não há lugar para o amor, para a intensidade, na essência. A essência se basta. A essência é presença em sua onipotência. A suficiência da essência é sua fragilidade. O amor não está no meu próprio ser, mas amo, por mim, por todos. O silêncio é uma companhia eterna, pura, sem essência. A essência é o fim sem o infinito. O fim é uma maneira de não ser só. A essência não imagina, ela é a solidão, diferente do ser, apenas se imagina só. A essência constrói palavras com a sua solidão. O ser é sem palavras na sua solidão. Palavras não me fazem ser, me fazem morrer. Morrer, antes que eu me esqueça do sentimento de se morrer.

Recomeço de sol

Para amar, não tenho que estar vazia, num recomeço de sol. Reconhecer-me não é ter alma, é o recomeço do sol, onde me afasto de ser, como um recomeço de sol.

Separação do espírito com o mundo

Retornar a saudade é uma ilusão, com o espírito separado do mundo extenso. O espírito se separa do mundo pelo amor. Deveria olhar para o amor, mesmo sem olhar, é minha única chance de amar. Amar é ver, me vendo. Perdi meu sentir para o amor. O olhar de quem vive é um olhar sem mundo, sem tristeza ou adeus. Não sei se o mundo é tristeza ou adeus. O adeus é o único olhar que tem realidade. A realidade é a descoberta da tristeza. Sem tristeza não há realidade. O irreconhecível da vida é a morte. Apenas a morte me faz pensar na vida. Nessa tristeza tenho paz. Enfrento o vazio com palavras. O vazio existencial é apenas perceber que não há saída para a vida e a morte, mas há a saída de me resignar, que no meio de tanta paz ainda me falta paz. O interior é frio, pois não posso me resignar dele. O interior sem o interior é a paz conquistada em ser. Deus não quer ser o absoluto. Para ele basta ser amor. Não o amamos o suficiente, para sermos felizes em nossas faltas. Tudo me falta, menos a alegria. Alegria é como o mar. O mar, dentro do sol, é esperança de viver. Recomeços são mortes que se amam. É difícil sair da alma para o mundo hostil. As faltas são preenchidas na morte. Então não tenho faltas, tenho morte.

Ousadia

A vida não sabe o que existe dentro de mim, senão não ousaria existir. A ausência é arte. Semear a alma na ausência, sentir o céu na minha alma, pela minha falta. Tudo é ousadia de viver. O sono esconde o sentir da minha ausência, tanto na vida como no céu. A ausência é o céu. Cheiro a vida para descobrir o cheiro do céu, que vai além das minhas sensações, dos meus sentidos, do meu transcender, do meu amor. Tudo perco em um único abraço. A alma não retorna à realidade do eu. Eu já fui sua realidade. Não sinto falta da alma. Sinto falta de ter ao menos seu adeus em mim. O adeus da lembrança me sorri. Tudo me sorri. Deixar a vida cicatrizar para que eu possa sofrer. Sofrer é ter lembranças. Nada significo para as minhas lembranças. Vamos viver juntas, sem lembranças? O que perdi ao lembrar? Perdi a dignidade de ser só, e tudo criou um sentido. Quero conhecer sentimentos, vidas, diferentes do que possuo. Eu existo. Digo para mim, não basta. Será que preciso te esquecer para me sentir viva? O que é me sentir viva sem você? O destino é o meu amor. Renascer na visão eterna de morrer. Vida é renascer a cada instante, em que estou a morrer.

Desorientação

Sonos de ausência é me olhar no espelho, não me vejo e então eu consigo dizer sim a mim. Olhar-me é dizer-me adeus, mas não sinto o adeus, sinto o peso do mundo. É inexplicável, constrangedor esse adeus, parece natural, um bom começo. Não sei se há vida, sei quem sou. Escrever é minha sombra, que cessa de mim me amando. A solidão não é só, por isso, é triste. A vida parece uma montanha de lágrimas, e é indestrutível para quem chora. Saberei o que é espírito com o fim. O que as palavras não podem dizer, ninguém pode. Tornei as palavras solitárias por escrevê-las, dando-lhes vida. Dormir cessa a ausência da vida. Dormir é me manter dentro de mim. Nada há a sofrer dentro de mim, por isso sofro. A solidão de não sofrer é como ver o sol eternamente. O fim do sol é o meu olhar, falta do meu olhar. Sem o olhar, meu ser não existe. Eu não quero mais amar para viver. Não consigo viver perto de mim: é frio, distante, irreal, como o mar. A alma me mata, a morte isenta de culpa, de alma, vive o nada. Meu não viver não pode ser nada. Tantas histórias, nenhuma vida para contar. Falar de estrelas tem essência, que falar da vida, é tão inessencial quanto morrer.

E a vida continua

Alegria é um instante de alma, onde a vida continua pelo meu amor. Não estive na morte, ela é que esteve em mim: pura, sem poesia. Tristeza e alegria se misturam, nasce o meu ser em mim. Almas são solidões absolutas, onde o ser tem que decidir se é alegre ou triste. Lua e flor são minhas tristezas e alegrias. Deixei de amar meus sonhos para amar a lua. Não daria a lua ao sol. Lembranças são o sol escondido de mim. O tempo diz ao sol para ele viver. A vida é pouco para sonhar, a vida é pouco sem o seu fim.