Blog da Liz de Sá Cavalcante

Insônia da alma

A consciência não se adapta à vida. A alma é diferente de si mesma. Para nada sentir, é preciso sonhar, transcender sem transcender. Chorar devolve a alma para a alma. Sorrir com alma é me perder. É demais sofrer no que não é sofrer. Tudo transparece em cinzas. Me senti no nada.

Para não sentir

Para não sentir o silêncio, sofro em silêncio. Escuto o voar dos pássaros na distância de mim, como se eu fosse a fluidez da morte, a sorrir como o amanhecer. Amanhecer é para ser o começo de viver. Eu não perco o amanhecer com a morte. O olhar é o erro de ser. Não conheço meu olhar. Eu sou eu pelo meu corpo ou por boiar na ausência, no infinito? O corpo não é bom para ele mesmo. É bom para mim, me faz não ser eu, me sentindo eu. A alma é o mal-estar da vida. O desejo de ter um corpo é minha morte, minha liberdade. Para não sentir a liberdade, me imagino livre. Alma é medo do nada.

Fome de alma

A alma me alimenta. Me pregaram na morte com pregos do amor, para me fazer sentir viva. Os pregos do meu corpo, se soltam na minha morte. Meu corpo não é minha morte: minha morte é o que sinto. A morte atrapalha o amor. Sem amor a morte é leve. O amor sempre será um corpo: essencialmente na minha morte. O pensamento nasce da ausência de ser para ser a ausência do meu corpo. O isso da alma é o nada. O olhar nasce do ventre da vida. O tempo é o vento da memória. Nada é o que passou, nem mesmo o tempo é o que passou. O agora é o ser que me modifica sem o futuro. A alma é o passado, enterrado como sendo eu. Não sou mais meu passado. O que tinha que ser vida não necessita mais ser vida. Apenas o espírito finito não cessa a alma. O espírito finito é o infinito do ser. Minha existência é o fim do infinito e o começo do amor. O eu em mim é saudade do nada, do eu sem mim, meu eu é o mesmo. O nada substitui meu amor. Saudade é não esquecer de mim. Saudade, me dê a mão para caminharmos no infinito, para dar luz à realidade.

A saudade não é mais a mesma

A saudade não é mais a mesma, é vida. Tentei escapar do corpo: não consegui, consegui apenas ter alma. A alma fala, vive, como a falta inexistente em mim. Tento compensar a falta com minha alma. Irei viver como uma alma perdida da vida, em vida. Não há sonhos na alma. A falta de alma não está perdida. Vivo na sombra do amor. A alma é o conflito interior. Não percebo, mas tenho mais necessidade da alma do que da vida. Meu corpo e uma alma que transparece em mim. A alma e a verdade da vida. A alma do partir é a mesma alma do ficar. Não dá para transcender na alma e ficar na alma. A alma é uma luz estranha. O olhar é a memória da alma.

Tempo de despertar

Ninguém fala da palavra se fala do ser. A palavra se esconde no pensamento. Revelar o nada é voltar à vida. Não há vida no pensar da alma. Pareço-me esquecer, por isso falo, no destrutível, no indestrutível. Falo sem mim, sem ambição de me compreender. Compreender vem de longe. Não consigo ir para tão longe de mim. Por isso decidi morrer, nesse tempo de despertar.

Incontornável

Sou igual a todos. Sofri, morri, até chegar ao incontornável do ser, onde minha imaginação me deseja, no incontornável de mim. O incontornável é sincero. A alma é o incontornável do ser. Não me sinto bem na alma. Ao tocar minha imaginação, meu corpo vibra, eu o sinto no imaginário. Pobre corpo confinado ao imaginário. Fui destruído em um corpo sem vida. No imaginário, meu corpo me possui, salta no infinito de mim. Dentro de mim. A alma desabitada, como uma flor a desabrochar. Não sei ter alma, que é semente do amanhecer, deixada na terra do meu amor. Vamos deixar a alma como ela é: nada mudaria na alma: ela pertence ao tempo, deixado por mim, para sentir a alma. O mar da escuridão é amor. Nossas almas unidas ainda não fazem nascer a vida. Quem de mim ou o que de mim é sombra da perda da vida? Quem de mim ou o que de mim me faz me ver? Chorar do adeus é me ver. O cuidado com a alma é o mundo interior. Ver sem o mundo interior é ver com a alma. O mundo interior é a ausência, o descanso da alma. Ver não tem pausas. Ver são as asas da imaginação, voando de eternidade. Até encontrar a vida em ver. Não ver é ter a vida sem encontrá-la. O não ver vê a alma. Ver é presença inexistente em mim. Ver não é saber que vê. É algo interior que me liberta das trevas. O silêncio é um olhar eterno, vem do fundo da alma, para a vida. Para a vida, a alma é superficial na oração de Deus. A intimidade com Deus, não precisa da alma para atrapalhar. O silêncio é a eternidade do amor, envolve o nada de vida. O nada é o absoluto, o pleno, sem sonhos, apenas um resto de escuridão. O nada nunca será escuridão.

O sonhar da alma

A alma fez-se sonho. O fim é o ofuscar sem sonhos. O brilho obscurecido com o nada sonham juntos e removem a realidade para o sonho. Sonhar me une à realidade. Conheço o fim de uma realidade pelos seus sonhos. Conheço a saudade pelos sonhos, a desconheço na sua realidade. A realidade é a união de sonhos. São todos os sonhos juntos: é mais do que o infinito, é mais do que morrer. É muito mais que o silêncio da flor. Apenas o silêncio da flor floresce a alma, como sendo a vida do sol. Esquecer não é só é lembrar. Sonho na lembrança, sem o tempo de sonhar. A alma é o tempo que preciso para sonhar e deixar de sonhar. O depois do acontecer é o amor. O silêncio transborda palavras que pronuncio sem nenhum pensamento. O real é um pensamento não perdido em existir. Faço do sonho um lar eterno, onde sou eterna também. Na eternidade ver é continuar do sonho de ser. É o amor, o fim da eternidade. E se eu sou eterna sem sentir? Falta o ser na eternidade. O ser em si é a morte. A morte sem eternidade é como o mar. Mas o mar não é como a eternidade. O sonhar do mar alcança apenas a mim. A saudade do mar é saudade de mim. O morrer sofre a minha morte. O corpo dormente é a presença da alma em mim. A alma torna o corpo eterno. A eternidade ama o nada até morrer desse amor. Até sem forças não poder amar mais o nada. Morreu por não poder mais amá-lo. A eternidade é o amor ao nada.

A luz da transparência

É incrível nadar na luz da transparência me afogar e desafogar em verdades íntimas. Verdades jorram amor. O fim não fracassa, somente pode ser o fim. As palavras são tantas e a transparência tão inexpressivas que a palavra é mais que transparência: é amor, poesia, é a vida sonhada na vida existida. A escassez do tempo é a transcendência da transparência das palavras. A escassez dá vida às palavras, sem a transcendência, sem a escassez do tempo, é amor. A luz da transparência transcende em mim, com a verdade, intocada dos abraços. O sonhar verdade não é a verdade. A arte cessa com a morte. Eu não cesso com a morte. Mas a morte tem a minha poesia, minhas palavras, minha essência para ela. Não preciso me preocupar em ter essência: sou livre sem a morte! Para que ser livre? O que significa liberdade? Liberdade é ser só? Por detrás da liberdade, a vida me espera. O que é melhor: a vida ou ser livre? Não sei. Sei que nada é livre se é sentido por um ser. O ser é livre para não ser eu. A vida não é livre para não ser vida. Emprestei ao céu minhas certezas. O céu não precisa de certezas e sim de amor. O que poderia escrever sem o céu? Nada. Eu brinco de sede com a minha ansiedade, reinvento vidas, saudades perdidas. Mas não posso inventar a presença, se ela não existe na alma, não existe no amor. A luz da transparência é o não existir da presença: continua a partir eternamente em mim.

Surda inquietação

O não escutar é o mais íntimo da alma: é como não escutar o nada no infinito. É a eternidade com sangue frio. O não escutar é a vida. O ser do ser se escuta no nada do querer. É inesquecível nada escutar para não sentir o silêncio da alma. Essa inquietação é a alma da surdez do silêncio. Apenas a alma sonha em silêncio. O silêncio caminha luz, respira luz, ama luz, nasce luz.

A divindade de ser só

Não se desaprende a morrer. Aprendi com a divindade de ser só, que é impossível morrer. Morri junto do meu sofrer. O que não dói dói dentro de mim, como a morte a dançar. A dança da falta de alma tem apenas pensamentos bons. Esses pensamentos separam a alma da morte, do teu adeus. Por que a morte tem que aparecer na minha solidão? Eu, a distância, é a falta do pensamento. Não há distância no pensamento. O ser distante de si é alma. O ser em si é o apagamento da alma. O tempo é o que resta do meu ser.