Blog da Liz de Sá Cavalcante

Vida é o mesmo que viver?

A realidade da solidão é o vazio. O ser não é só, ele pensa, ama. Deixo o pensamento na saudade de viver. Quem sabe assim eu consiga viver? Não se vive de saudades. A saudade é a certeza da vida. Tudo é vida na saudade. Na saudade não existe morte. A morte tornou-se apenas saudade, revivendo a mim, no que sou para mim. O silêncio de Deus vale mais do que a vida. Atenuar o silêncio de Deus é crueldade para com Deus. Amenizar o silêncio para Deus é Deus a morrer. Toda inspiração é a presença de Deus agindo, amando. Eu amo a vida, por amar Deus. A segurança de morrer é Deus. O realismo de Deus é o ser. O que é monótono é o fim de um adeus. Adeus vai e vem, mesmo partindo, vem para dizer que partiu, como se fosse voltar para o meu adeus. Adeus é o retorno sem fim, sem o fim. Fim não é o começo nem o fim de um adeus: é um recomeço sem começo. Ninguém faz o fim acontecer, ele acontece só. Sozinho para o acontecer e para o não acontecer. Escrevo, não sou eu, sou o que escrevo. A sombra, palavra triste, tem a tristeza da imagem, sem sombra, sem deixar a sombra vir até ela. A vida é o mesmo que viver: se ela for sombra, luz, ser, ao mesmo tempo.

O que significa o pensamento sendo uma vida perdida por pensar?

Pensar é falta de vida. O extremo é pensar. Penso apenas quando nada existe. As pessoas existem pelos seus sonhos, mesmo que nunca terminem de sonhar. Sonho até com as perdas. Mas as perdas não podem ser um pensamento, não podem pensar, não estão vivas, nunca estarão. Não estão vivas dentro de mim, eu estou viva dentro delas. As perdas não pensam em mim, no meu sofrer. Procuro me sentir para não sofrer. O que resta da solidão é o meu amor. O tempo é uma solidão, se renova em nós como solidão plena, feliz, como uma flor a perder as pétalas, murchar, continuar bela. A morte é uma redoma de prazer. A morte é mortal por durar. Descobrir palavras é descobrir vidas, na vastidão do infinito que também é o fim. O fim é a vida que não possuo. Há silêncio que me dá vida, outros me fazem morrer. O silêncio é o que resta do pensamento. O céu não espera que eu pense, sabe que não sei reagir ao que sinto. Quem não sente, pensa. Como se pode pensar sentindo o que penso? O que sinto não está no pensar, está na alma. O ser e o não ser são a mesma vida, o mesmo amor. Nada falta ao não ser, tudo falta ao ser, é melhor não ser. O ser para o não ser existe, assim como existe o sol, a vida, o amor. A falta de um instante, de não ser, pode cessar a vida. Acostumei-me a morrer. É extraordinário sentir meu corpo na morte, não na alma. O amor é a certeza de morrer, de ter vivido esse amor, que não se separa com a morte, nem cessa por morrer. A morte ilumina o sol. A vida não consegue se isolar da vida por causa do nada, que lhe impulsiona a viver. Viver precisa do nada, é sua essência. Essência é amor! Amor dá vida a todas as vidas adormecidas, sem amor. A vida não é plenitude, é falta, apenas o amor cessa a falta, a vida, esse nós que nunca existirá. Nós nunca será existir, ser, por isso amo a falta de nós. Alegria é ser só. Ninguém compartilha o que é, se compartilha a vida, o céu, as estrelas. Então me preocupo comigo: me divido até com a minha alma, com a morte, com o nada, menos comigo. Escrever é a absoluta separação entre mim e eu, para que eu ame o amor absoluto em mim. Ser amada é mais absoluto que o próprio amor. Ser amada e amor se unem em simbologia eterna. Amor é um símbolo que uso para não me sentir só. O amanhecer é resultado do amor. Amor é conclusão de ser. Para ser não é preciso visão ou reconhecimento, é preciso amor. Amor é liberdade. A existência do ser vai além de existir, é o não existir.

Unificação do ser e do nada

A ausência dos sonhos é um existir em estrelas. Estou dentro da minha alma. O nada me fortalece. Sem palavras não há perda na unificação do ser com o nada. Refazer-me nas amarras do nada. Perdas significam tudo para mim, para que o nada nada signifique. O significar é uma esperança. Não há esperança na solidão. Solidão é dividir o nada com o mundo. Que mundo é esse que não adere ao nada? Que nada me veria na minha solidão? Não supus que exista sol para as estrelas, mas há um sol de sonhos.

Virtude da vida

Descobri o descobrir eterno em mim, nada mais se foi. Tudo permanece na permanência do amor. A permanência do nada é amor. O nada é minha vida oculta no nada. A virtude é um nada. Que nada seria capaz de pôr um fim a si mesmo? O nada é livre, eu não. Há céu e estrelas no nada, não há céu no ser, por isso, o ser pode ir para o céu. Pensar dá medo. Sonho ser eu, é apenas um sonho. Sonhar é a espera de um adeus. Nada a pensar por sonhar. Sonhar é tornar as estrelas mais belas. Sonho por mim, pelas estrelas. As estrelas nunca serão o fim de sonhar. É pelas estrelas que há vida. A vida de todas as vidas é o sonho. O sonhar não merece a vida que tem. A flor da lua desabrocha. São tantos os momentos perdidos, que vivo. Não consigo sonhar com a vida, ela esfria em mim. Não posso viver de vida, vivo de amor, como se pudesse amar. Nem a vida levará meus sonhos.

Prudência

O existir é um momento difícil. Não há dificuldades em não viver. Prudência é um vazio que foi preenchido. Não irei viver o existir, mas me ofereço à vida para o que ela necessitar de mim. Quero que a vida consiga ser por mim o que nunca fui. Sou a vida da vida. O do ser é um abismo sem fim. O sonho se torna ilusão em mim, para não haver desilusão. A ilusão é a educação da alma para as coisas da vida o ser nasce da ilusão. O sofrer se preenche sem ilusão. O tempo quer alma. Rodopia sem ilusões. A ilusão: nada quer de mim. Abrir os olhos da alma, para o não ver em mim. A ilusão quer alegria. Cativo a ilusão em mim. Pode esconder minha morte de mim, não pode me esconder de mim. As paredes não escondem o silêncio, que ressoam como pedras. Pensar pedras pelo inconsciente das águas. O céu não espera por mim. O dizer, perda da essência, num falar infinito. Falo para existir. Perdas são costumes. Me ver é não sair de mim. Não sou apenas este sair de mim, sou o que permanece em ver, mas não sou eu o permanecer em ver. O amor foi abandonado por amar. A aparência não é um desejo: é o reconhecimento da falta de desejos. O não reconhecer é um desejo. Não tenho alma, dentro ou fora de mim: tenho prudência. Penso no vazio de ser. O vazio em cada estrela é determinação de ser, existir, mas não me faz esquecer meu vazio, com a triste esperança de te ver. Ver nada significa. Esperança é ficar. Ver é ver onde não permaneço. Algo em mim foi por permanecer. E se foi permanecendo. Não quero incomodar o vazio de ser. O vazio é todo o mar, toda a vida. Todo eu. O nada somente é nada no vazio. O vazio é indestrutível. Não é o vazio que destrói o ser: é a sua indestrutibilidade que é o fim do ser. O nada é bom ao seu lado, juntas. Sem o nada, minhas lágrimas sangram. Preciso chorar, não de palavras. Quem me ama eu sendo só? Veria o amor se ele me fizesse vê-lo, não quero ver nem mesmo o nada. Quero ser levada como um fim, que não consegue permanecer nem como fim. O fim é o que tanto espero sem esperar.

Retirar sem ausências

Retirar meu ser sem ausências como uma lágrima caída do infinito. Há mais infinito nas minhas lembranças do que em mim. Vou amar para sempre a vida, sem saber o que é vida. Sem a vida, há o infinito do meu olhar. Olhar me faz pensar em mim. Pensar sem ver o pensamento não é pensar. O despertar da consciência não é o despertar do ser. A morte é um bem superior inalcançável. Alguns morrem e tornam a alma algo negativo. Tudo é real na morte. Fazer o bem é fazer o nada com a plenitude de ser. Reproduzir o som da plenitude como se fosse a vida em mim. Apenas para enganar meu amor, como se a vida fosse minha. As palavras me tiram da vida, me levam ao céu. O bem causa coisas ruins. Criar palavras na inexistência da vida é um bem que não causa o ruim. Existo para mim ou para os outros? Amar é um adeus que permanece. Tento não demonstrar minha saudade de viver. Minha vontade de viver é uma falta, uma saudade em forma de necessidade. A vida é estranha ao saber dela. Não há um saber na vida, então ela se ignora. É vista por esse ignorar, que cessa a sombra da ausência. Tudo se dilui em ausências conscientes que são vitais para mim.

Me resguardar

Sou sincera no sentir, mas nem tudo é sinceridade, nem tudo é sinceridade, nem tudo é amor. Me resguardo do meu amor, num sofrer eterno. Sofrer me faz ver a vida como ela é: sendo eu mesma. Eu sou o amor que penso ser? Deixa a alma se resguardar de mim. Não sei ter alma, sei sofrer. Sofrer não é ter alma. Algo me afasta de mim, do meu sofrer. Talvez seja apenas o tempo partindo. O tempo é o descanso da vida. Vida, o tempo te deixa, como se eu estivesse em ti. A alma é diferente do resto da vida, é diferente de me resguardar. Não existe fim, existe ser. Ser é diferente de viver. Desnudando a face no amor, sem reconhecimento, apenas a liberdade de aparecer apenas em mim. Parecer-me deixa a vida menos tola, menos débil. A tristeza é leve como o ar. O bem impede a eternidade.

O eterno e o infinito

Meu olhar infinito não é eteno. Ter alma não é suportar tudo, não é guardar tudo ou ter tudo em si. Ter alma é amar despreocupadamente, até que o infinito ou o eterno me separe de mim. Separar-me de mim é me deixar ser, sem o infinito, sem o eterno. Há tudo a dizer do pouco que sei. A eternidade nada pode levar da vida, pode apenas sorrir. Nada pode me levar de mim, nem mesmo a morte. A morte ocupa um lugar vazio: o infinito. O lugar continua vazio no meu amor. Não existe impedimento no vazio. O vazio esclarece a vida. Não há lugar no vazio. O vazio declina no amor. Não sei se saudade é amor, me sinto vazia de saudade. Tudo tem fim nessa saudade infinita. Saudade é como ver o mar. O fim de uma ilusão é a saudade. O eterno e o infinito são apenas uma forma de ver a vida. Há vida para o infinito e para o eterno. Não há vida para mim. Não há como viver, mas dá para esquecer o que não vivi. Sei que vou sofrer por amor, mas amo. Amo sem o infinito, sem o eterno, para amar dentro de mim. A voz cortada como espuma é o som aveludado do amanhecer. Almas de seda desfazem sua costura. Superfície de seda para eu escapar do profundo, do real. A alma é a superfície do ser que entra em mim. Morrer penetra como pele. O tempo torna a superfície profunda. A superfície são as estrelas. Se o amor é a superfície do ser, nada precisa ser profundo. Precisa ser verdadeiro. Verdade e profundidade unidas é plenitude. Morrer é perfeito. A perda de morrer é imperfeita. Nada da morte é vida, tudo da vida é morte, não dá para separar o corpo do ser, por isso, o ser precisa morrer para haver sol. O eterno, o infinito, são uma maneira de te ver sem mim.

A diversidade da alma

A alma aparece de várias formas, não aparece no nada, na própria ausência. Mas a presença do nada exclui a alma, com a presença da morte. A morte é pouco para a alma. Sentir é a falta, que faz falta apenas à alma. A alma é a invisibilidade do ser, na visibilidade alma. O ser é visível e invisível ao mesmo tempo, meu ser vê apenas a invisibilidade e a visibilidade, não vê a si mesmo, nem a mim. O tempo é irreal se for sentido como tal. Diversas almas não tornam uma alma alma. Olhos de alma, corpo de mar, a naufragar meu ser, afunda de amor na superfície, nas margens de mim mesma. Corpos desfazem o nada para ser corpo do nada. Várias almas em mim, me sinto só, em meio a tantas almas, queria não ter, para sentir minha companhia. Oceanos de luz clareando meu amor. Nada se escurece sem motivos. Clarear nem sempre é luz, às vezes é a subjetividade da luz, que sabe mais do que eu do meu olhar. Olhar é captar o infinito como sombra do olhar. O aniquilamento da alma como uma luz cega, afoga o saber, me faz ser, antes de amanhecer, com o sol sendo visto em igualdade com o céu, o mar, o ser, a vida, a poesia. Nada é igual quando se sabe ser. Ainda não sei ser. A vida tem rompante de lágrimas de frente ao sol aterrador. Cresce, vida, não diminua, encare a beleza de viver, nem que seja pela sombra da tua ausência limpa o amanhecer com tua angústia, deixa embaçado o amor. Estranha natureza que morre na natureza de ser como opinião de vida, que não é nem uma suposição. Supus o supor como se fosse feliz pelas estrelas do céu. As estrelas jamais serão poesia. Se pode adivinhar estrelas, nunca a poesia. Para cada alma, uma estrela, como sendo a alma a sorrir. Ninguém desvenda a alma. Não sei o que é alma, mas conheço seu amor, embora às vezes duvide dele. Amortecer a alma para não abrandar o amor. Suave é o fim da alma: é como uma oração. Reter a vida como se as palavras fossem dela: é de ninguém. Uma oração sem palavras, tem mais valor. Nenhum ser é igual a si mesmo, somente é igual a si se amo minha alma como me amo. O silêncio fala por Deus, no calar da noite que desvanece em poesias: como uma prece atendida.

No céu da escrita

A vida queima a alma por dentro de mim. Escrever é como água, como sol. Sol que nasce e permanece na saudade de mim. De perto, não consigo sentir saudade da saudade. A vida são saudades inexplicáveis: é o tempo que me dedico. A falta de saudade, de vida, é apenas ficar só. Ficar só é imensidão. Pela imensidão de ser só, só é vazio. Ser só não é ser, é vazio. O ser com o nada é o existir da vida. A aparência do possível é o nada. Tudo permanece nada em mim, num mar de poesia. As cinzas do nada são a alma. Poesia é me esquecer dentro de mim. Não me faço lembrar, quero apenas ficar dentro de mim, na opacidade de viver. A luz são lágrimas de luz. O nada inseparável como uma luz na luz. Separada de mim, preciso da luz do nada. Saber é ter luz própria. Amar é nada saber. A luz não afasta a escuridão, ela é a escuridão da alma. Não sei se foi a alma que me separou de mim. Sei que vou viver, morrer, sendo alma. Não sou alma em mim, sou o que foi feito da alma. Escrever recupera-me em alma. Alimento-me de alma para criar. A alma é a normalidade de ser. Ver a alma sem mim é ver o passado da alma em mim. Sou o passado da alma. Eu não resisto a minha alma, é uma tentação, provação na minha vida, terei que sentir a alma, como sinto as pessoas. Nada me torna alma, eu sou alma. Decepcionei-me transcendendo, não quero ir além, quero ser alma. Alma é a determinação do fim. Um fim feito de alma não é o fim do ser. Mas um fim feito de ser é o fim do ser no céu da escrita, alma, corpo, palavras, encontram-se como se houvesse ser.