O pressentimento de morrer é o nada sem o nada, numa dispersão absoluta e absurda. O que imagino é o real misturado com o sonho. A paz é imaginação. O sonho às vezes é imaginação, às vezes é apenas certeza. O excesso não é de escrever, é de viver. Não há alma no sonho, na alma, é uma ilusão. Apenas a morte é penetrável, como uma pele que se abre sem se partir ao meio. Sonho com uma morte impenetrável, em que posso lhe falar de tudo. Mas a morte me escutará? A morte não me escuta no céu, me escuta em mim. A morte é o desejo de ficar sem a eternidade da vida. A eternidade do ser não é a vida, sou eu mesma. Pertencer à vida não me faria ser, existir. A aparência é possível do ser. O nada não é nada, é a sabedoria divina sem a dispersão de ser. Sou dispersa ao lado de alguém, fica apenas o momento ainda intacto. Sou livre na liberdade da alma. Falta a beleza, o sentir. O bocejar da alma é o mundo. A verdadeira existência é o nada. A falta de existência me faz perder o nada sem perdas, como algo que não era meu, então não existia para mim. Me dilacero sem o nada: única lembrança, referência de vidas. Vidas que são opostas ao nada. O fim da vida não é a morte, é o ser. A morte é a alma a falar comigo, preenchendo minha vida da morte. Não há eu para morrer. A escuridão se aproxima do nada. A morte retorna à morte, saindo da morte.
Dispersão |