Blog da Liz de Sá Cavalcante

O que fiz de mim?

Não mais importa o que fiz de mim, tudo será eu um dia, quando eu morrer. Minhas poesias serão o coração de alguém a viver. Vida, foste e é meu universo: universo de poesias. Escrevo a mim, não escrevo palavras. Tudo em mim é poesia. Desisto de mim, não da poesia. Poesia é nunca viver. É sonho transcendência, é amor. Com o tempo, vou esquecer a vida que não vivi.

O silêncio do silêncio

O silêncio do silêncio é a imagem de Deus. A margem do silêncio são as palavras. Não sei mais as palavras: me sinto em palavras. Mas não sinto o seu fim: a poesia. Como traduzir a alma como palavra? Seria o fim da alma e o nascer da poesia, onde a ausência inexistente pousa na minha alma, sendo alma da alma. A alma só não se revela só. Espera tanto de mim a alma. Não espero nada de mim. Espero da alma, do sorrir da vida. Vida, nunca será alma. Eu fui tua alma, solidão, me encontrei em ser tua alma, não posso ser sua poesia. Poesia é minha única essência, meu calvário. Olhos são o nada que vê a vida: torna a vida meus olhos. Meus olhos silenciam a alma e expandem meu interior. Meus olhos são meus sonhos: me inspira a ver o que não vejo, que era para eu ver. Depende da minha vida vê-la mesmo sem vê-la inteiramente, um pouco de vida me faria ver quem sou, viver. Apenas a imaginação me faz ver, apenas a imaginação respira por mim. Me vê como sou. O silêncio é o respirar ausente de mim. Não preciso viver, se posso me imaginar na despedida do fim, que é o fim.

O amor é uma canção surda de amor

Nascer o perdido em mim, como o amor numa canção surda de amor. Paro tudo para viver, pois a vida nunca é sem amor. A vida é uma mãe: sempre me ama, até no meu desamor. Cinzas de sol, lua, estrelas acalentam o amor do céu.

Ressuscita-me

Olhar o sol, as estrelas, me ressuscita, me fortalece: é como ler minhas poesias, como se tivesse a emoção de escrevê-la, eternamente, eu e só. Não dá para misturar a alma no ser. O ser é estagnação. A alma é sentir ao viver, ao morrer. O resto são cinzas do tempo, jogadas fora no esquecimento: única realidade em mim. Preservo a realidade da falta do tempo, como se fossem minhas mãos ao escrever, o ser que preciso ser.

Luz observadora

Eu não vejo a luz, a luz me vê pelo nada das estrelas, fere mais que o sol, que o céu em mim. Nada é pior que a falta do céu. O céu dá vida a vida. O céu são o sorrir no que fui, no que sou, no que serei. E assim a vida se torna mais feliz. O instante é uma luz confusa, que não me deixa raciocinar em viver. O que seria da vida sem os instantes? A única coisa que não perdi da vida foram os instantes. Mais instantes, menos vida e a alegria seria perfeita, sublime até na solidão.

Vida turva

A falta de ver torna a vida vida. Ela sente que é o meu ser que não a vê. Ver se isola no real. Ver vai além do real, do sonho, ver é viver. Viver é a fé do amanhecer que dias melhores virão e os viverei vendo por nós duas: eu e a vida. Nada será como antes, as mudanças me tornam o que sou: eu em mim. Nada pode ser o mesmo o tempo todo: por isso a lembrança desaparece, como sendo o agora: última luz da vida para eu ser minha própria luz. Vida turva em sua própria claridade. O céu é a luz de Deus a envolver a escuridão do olhar da vida de amor. Nada fica bem sem alma. A alma vai mais longe do que o céu. De longe meu ver faz a vida ver. Ela desconhece ver e morre no estranhamento de si. Há tudo a dizer para a morte, no adeus que vive, por mim. Nunca necessitei viver, tendo o adeus dentro de mim, que colocou em mim. O adeus vê o não ver da vida. Ver é esquecer a vida ou será esquecer de mim? Perco as palavras ao ver. Posso ver o fim da vida com encantamento, e assim viver por ti ao morrer, ao menos nesse momento a vida me vê, me abraça infinitamente como eu. Ela sempre esperou que eu estivesse pronta para ela me amar. Agora os abraços infinitos são poucos para tanto amor. Vida, não me faça chorar de verdade: de amor. Nunca chorei antes assim: feliz.

A razão da sensibilidade

A eternidade é uma sensibilidade sem razão, sem argumento, sem proteção para viver: sem viver. Viver não é eternidade. Por isso sonho com a eternidade. Renovada para morrer ao pensar eternamente no fim.

A proximidade sem a morte

A proximidade sem a morte, não existe. O ser não tem relação nenhuma com a morte e morre. A espera é uma morte silenciosa. Até onde vai a morte? Até a espera de mim? E se eu nunca chegar a mim, vou morrer? O que é morrer? É a falta de amor que tenho pela morte: faz ela existir.

Vivências

São vivências tenho a morte em mim, não se afaste: tenho vida também dentro de mim. A vida me ensina a ser eu, a morte também. Se deixei de ser, ainda sou. As pessoas partem, não são minhas, nem delas mesmas: essa é a beleza da vida. Vidas permanecem no amor, que também não é eterno: é apenas sonho. Fecho os olhos, o sonho desaparece. Nada mais é sonho. Mesmo assim, o sonho existe inconsciente de mim, imune a existência, como se a única vida fosse me abraçar sem o meu abraço infinito, sabendo que este é seu único abraço e foi dado a mim. Sofrer é uma morte civilizada. Não quero a morte dos sonhos e sim a morte real. Sonhar é falta de morrer. Ter sonhos é morrer. Para que sonhos?

Afeição da vida com o nada

Sempre que minha imagem diminui na consciência, me vejo sem espelhos, sem subterfúgio. Não suporto ver. Nasci para não ver. Ser cega até no meu sentir. Tudo em mim é verdadeiro: não posso sentir. É por você que vivo, minha tristeza: para ser triste como você. A afeição da vida com o nada me deixa triste. A alegria me deixa triste. Tristeza tem fim, se há alegria. Como me permitir ser feliz? Não sei sendo? Não é tão simples. Há alegrias que me impedem de viver. A alegria compreende minha tristeza. A tristeza me tira a alma. Alma é todo dia, a vida é o fim dos dias e o começo de mim. Nada me assusta tanto quanto a profundidade da alma. Nem a morte me assusta como a alma me assusta. Pedaços de nada são o meu amor. As faltas são o amor sem o nada de amar.