Blog da Liz de Sá Cavalcante

Deslizando na vida

O saber é a inexistência de tudo, deslizando na vida. A superfície do nada é o sol. A espera é um abraço sem alma, por isso, é amor. O olhar não é vazio, é a vida. O ser vive sem essência, sem despedida. Por isso, sente vazio. Sente-se vazia como se fosse despertar na alma. A alma é a vida. Este vê, vê o ser, por isso, o ser não se vê como é: nada. O nada é suave, e a vida é áspera. Quero que o meu respirar me faça despertar de mim. Despertar seria uma alegria? Não sei o que sentir, como me definir nesse despertar. Quero ser isenta da vida: quero viver. O meu corpo desaparece ao deslizar na vida. Corpo tem que ser no corpo, não na alma. Apenas um corpo pode dar vida a outro corpo. Corpos se preenchem. A diferença entre o essencial e o inessencial é o ser. Essa diferença não é meu ser. Ser é uma oração de Deus. O ser necessita da negatividade. Ela é a permanência do meu ser.

A ilusão da ilusão

Vivo da falta de sentir por mim. Vivi o inacreditável: a poesia. Não se descreve poesias, amor, esse instante só: se sente dentro da alma. O ser não tem uma atitude em si mesmo. O que é para mim não pode ser para o outro também? A ausência apenas em mim não existe. Somos duas ausências separadas pela ausência de ninguém. O olhar é diferente do que quero dizer. Meu olhar é minha única presença. Para transformar algo em nada, preciso morrer, sem o vazio, te esqueci sem vazio, tristeza. Apenas as minhas entranhas entendem o significado sem profundidade, por ser profunda, como a alma, a lua, se separam de mim, pelo amor que sentem por mim. A alma, a lua, eram minha única forma de amar. Nunca mais eu amarei, cessou a ilusão da ilusão de amor. Amar é um momento perdido na sombra da ausência, que não é ausente, não se perdeu no amor.

A eternidade da eternidade

A indiferença sou eu a me relacionar comigo. Se eu me relacionasse com a eternidade, me encontraria em mim. Você está em mim? Não estou em mim, nem pronta para mim. Desista de mim, mas não desista da eternidade de ser. Quando me liberto de mim, sou eu para mim, sem precisar nem de eternidade.

Saber não é perceber

A vida da vida deixa de ser eu: é apenas o que percebi sem mim. A juventude é um risco de não me perceber dentro de mim. Tem que deixar de ser você para poder ser eu, se puder amar o meu interior, como se fosse seu interior, é meu sonho. O interior existe sem o meu eu, sem mim. O não é tem que ser no não é, sem negatividade, é pura positividade. Meu olhar firme na morte para sempre é meu olhar, que se derrama na eternidade, onde o sempre é supérfluo. Vim até a eternidade para morrer. A eternidade da poesia é uma morte plena. O céu é deslumbrante sem alma. Esplêndido ao se pôr para o sol. O sorrir do eterno e o céu. Cada poesia, uma vida. Vestígios do nada, cravando o silêncio na carne da alma, incorpórea de sol. A alma nasceu de um sonho. O encontro do nada com a vida é a fé. Sentir o amor é me esquecer, o amor é deixar o bom por ser bom. Quando o amor não é amor, eu escrevo: é como se o amor fosse amor.

Buscar o amor fora do amor?

O que espero além da alma? Amor! A espera tem vida. O que falta no amor é a espera do amor. Busco um amor inexistente, como se fosse a minha alma.

Prazer de eternidade

O meu prazer de eternidade é apenas viver. Vou me alimentar de vida, meu prazer de eternidade. Nada há nada eternidade, por isso, ela me ocupa e é sonhável. Não dá para sonhar com a vida. Mas sonho mesmo assim. A vida me mostra o que existe, respondo, agradeço com sonhos. Sem noção, sem pensar, amo. Amo por sonhar. O destino é frágil, cessa na eternidade. O sol desperta adormecido, como uma lágrima do universo suspensa no ar da vida, caindo no seco. A vida não esquece de si, ela esquece apenas sua essência. A morte deve ter um motivo para existir. Estou dentro do nada. O nada está dentro de mim: assim nasceu o meu ser: da miséria emocional. O mar é a calma da vida. O amor é desconhecimento eterno de viver. O amor é incondicional em sua inexistência. O agora esquece o ontem e o torna futuro. A vida está dentro de mim. O nada de mim sente a vida melhor do que eu. Sentir é estar só em mim. Sentir é a falta de sol, vida, numa alegria infinita. A alegria anula o tempo. Amar é melhor do que viver. Viver são faltas sem amor. O amor é apenas admiração. No nada a alma é eterna. Não falta eternidade, falta a mim.

A eternidade do fim

Posso tirar a eternidade da eternidade, cessá-la para ser eterna, tão eterna como o meu fim. O corpo desaparece na alma: essa é a eternidade de ser. O momento de partir é quando me amo. Morrerei apenas se me amar, como eu amo minhas poesias. Amar é ser mortal como a chuva, o vento, o sol. Tudo cessa até o amor. Procuro a vida, onde não há vida, não quero encontrá-la. Deixo que o amor me deixe tão só, como eu era antes de tê-lo. Eternidade do fim é mágoa, pela realização da vida, pela falta que faz morrer. Apenas na desigualdade o certo e o errado aparecem como um resto de mundo. O mundo é o sol, o universo é o sol. Deixa o sol enfrentar a chuva, de amor, alegria. O mundo do olhar é a poesia. Saudade é uma forma de não ver a vida. A saudade nunca se realiza. Meu corpo é o defeito da minha alma. Deixa a eternidade ter fim, meu ser está comigo agora: na morte ou na vida. O essencial é que me aproximei de mim: foi como o sol, a vida, o mar, a eternidade.

A eternidade vazia

A eternidade está vazia para me fazer companhia. Apenas para a minha consciência, sou eu mesma de sempre: isso torna minha eternidade vazia, como um espelho. Tudo se volta contra mim: meu amor, minhas ausências, tudo é preenchido, tudo está vazio. A luz se preenche apenas na escuridão, onde o amor é o que é: vazio. Na escuridão as palavras não estão sozinhas. Não se pode ler as palavras, apenas senti-las, como se não houvesse o nada da tristeza. A rosa é uma tristeza da alma. Meu corpo, distância de mim, onde a eternidade não é vazia, é plena. Pela falta do meu corpo, vou morrer.

Miragem do silêncio

Penso ser o silêncio quando me divido comigo, e o silêncio é apenas uma miragem que é a minha única lembrança, que posso me apegar. A lembrança é solidão da alma, vive como alma. Viver como a alma é não viver. Apenas é. Quero que a alma saia de meu interior, para o meu interior ser apenas a miragem do silêncio. Tudo sinto pela inexistência, mas nada sinto pela miragem do silêncio que absolve meu ser da morte.

Pintando o abstrato

O olhar é abstrato, se pinta no olhar. Pintando o abstrato, não posso mais vê-lo, pois já se definiu. A substância de onde Deus nasceu não é feliz, Deus é feliz. Da alegria de Deus, nasceu o abstrato. O último suspiro é o fim da morte. É vida. O nada existe, não é a vida, mas é o significado da vida, sem significado pra mim, para a minha fé. Acreditar no abstrato é me ter perto de mim, com um único sorriso meu. Sorrir sempre não é alegria, é apenas escapar da fuga de mim. Sinto-me concreta no abstrato, a morte é concreta. O corpo é abstrato do abstrato, mas não é cor, é vida.