Blog da Liz de Sá Cavalcante

O pressentimento do fim

O som ensurdece por dentro da alma, me faz ver o que não existe. O sonho é a realidade individual em todos e, ao mesmo tempo, em nenhum. A alma paralisada como um querer divino. A alma conhece o desconhecido: o meu ser. Eu não conheço o desconhecido da alma. De alma em alma, nasce a vida. O tempo me faz esquecer da vida. A culpa não é de quem ama, mas do amor que se fez amar, até a morte da inconsciência florescer na escuridão da alma. Alma é inconsciência. A inconsciência do corpo é o ser. Vivo das lembranças. As lembranças são o olhar do meu olhar, que se afastou de mim na lembrança do olhar: não sou eu a lembrança do olhar. A morte é cessar a verdade na escassez do nada. É o fim.

O sol é uma homenagem à vida

Ouvir o amanhecer é uma pergunta para a alma. A alma responde com o silêncio, com a vida. Amanhecer é vida, não se vê. A última visão anoitece em mim, na sombra do nada. O tempo perdido no nada é o amor pela vida: é o otimismo de viver. O céu vazio pelo ser ainda é céu. O fim não tem o silêncio de Deus, a presença de Deus é vida. Mãos sufocam o corpo sem o tocar e depois sufocam, como areia perdida no mar. Mãos são a suavidade de Deus. Minhas mãos recolhem o nada do nada, para não recolher o corpo do seu afastamento. Quem não suporta a dor, é apenas uma mentira. Há lagos de alma a penetrar no sol de mar.

Me expulsaram do nada de mim

De perto a vida não é nada. O pouco de alma que eu tinha era saudade do nada inexistente. O ser no meu ser é a existência do nada. Minha alma divido com todos. Tudo é diferente do que é: por isso sei de mim. Nada pode ser o que perdi: teriam que me atravessar por dentro de mim, para serem o que perdi. Tudo perdi, mas não perdi o tempo perdido, ele permanece.

Insuficiência

Nada pode ser a esperança perdida, brilha mais do que o sol. Minha esperança é inferior a uma esperança perdida. A esperança do céu é o sol. Quando termina o sol começa o ser independente da morte. A vida luta contra o sol de onde nasceu. Devo a esperança o meu nascer, a minha alma. Nunca terei o insuficiente para morrer. A alma é o suficiente para viver. Minha alma é Deus! O ardor da morte é minha pele. A morte é minha pele, viveria apenas sem pele. Não se pode morrer ou viver na solidão. A morte é a mesma para todos. O céu é o passado de Deus. Nós somos o agora para Deus. Sem Deus não há solidão, alegria, amor. Não posso ver Deus, por isso, o amo. Deus são minhas ausências. A ausência foi o sorrir mais pleno que já tive: foi como alcançar o céu em vida. Domino as coisas vazias: pois são eternas. Não uma eternidade qualquer, mas uma eternidade de alma, não da alma. O nada é a razão de tudo, menos da morte não sei como a morte sai do meu corpo feito alma, não tenho reação para viver. O corpo, em colapso por não morrer, se debate. Nada há em te esquecer, não é nem vazio. A alma é o vazio de ser. Viver do interior é viver da morte, como se não houvesse mais suspiro nem poesia, é como desaprender a amar. Se eu vir as coisas, e tudo se iluminar, perderei a alma. A escuridão mantém a alma na alma, isso é: em mim. Pecado, perdição, é não aceitar a perda da alma. Sem alma, irei viver, ao ter o nada dentro de mim. Não é justo viver. Mas o que é justo? Deus. Por isso, morri.

A impercepção do nada

A impercepção do nada é quando a alma vive. A impercepção do nada é a existência da alma. A percepção do nada é o fim da alma. Se eu nascesse poesia, eu seria o meu fim.

O som do vazio

O som vazio não é o som do vazio. O som do vazio é quando não há mais estrelas na alma, e o céu limpo de amor, a engrandecer o vazio sem alma, perto do céu. O que não é sim, não é silêncio, é o sussurro de ver. Notei que nem o barulho nem o silêncio tem a presença de ver. Vou fotografar minha mente na minha alma, para saber onde a perdi, como encontrá-la por ser apenas alma. Transcender sem pensar é o melhor transcender. A ausência é o transcender absoluto. A ausência não é falta de pensar: é o meu ser no pensar. Nada é a imensidão do ser no meu ser. O recuo ao nada é a imensidão do céu na imensidão do ser. Recuar no nada é compreender o universo com o olhar, separando o nada do sentir. Sentir, nada significa na alma, mas para o nada tudo significa. O tempo dá significado ao sentir. Não sei mais qual o tempo real e qual é o tempo verdadeiro. O tempo não se perde no pensamento: se torna meu ser, minha alma, minha perda de mim. O som do vazio é a superfície do meu ser, onde posso, enfim, respirar. Respirar é a realidade ainda morta. Vou me refazer do não morrer ao sonhar, deixando a vida no campo dos sonhos. Apenas o sonho disfarça sua dor. O sonho não pode ser o silêncio que morre ao seguir os passos da solidão sem solidão.

O que deixei em mim sem morrer

Morrer é um momento apenas do espírito. Apenas tento ser esse momento, que não é meu. Resistir a alma é morrer. Ser a alma é luz que foge da escuridão no jardim do pensamento. O que deixei em mim por morrer foi essa mistura de luz e escuridão. A escuridão me aproxima da luz. A luz que o olhar não sente é a luz da escuridão. O firmamento do céu é escuridão. A beleza do céu é a escuridão que torna o céu enigmático, na prontidão do luar para ser o céu inimaginável, como a alma. A morte posso imaginar sem o céu. A sinceridade é o céu no meu amor. A falta de morrer é um sentimento raro. Não morri, me senti morrer. E foi por me sentir morrer que não morri, para a estrela ser eu a morrer. A permanência vem com a morte. O que espero da morte é a vida: não uma vida deixada por mim, mas uma nova vida. Beijos de silêncio calam-me no nascer das palavras. As palavras são o sonho a fala. Meu beijo na superfície do nada, minha fala flui, em acontecimentos eternos, onde permaneço intacta de ser. Permanecer é esquecer.

Tempestade de ausências

O sonho em tempestades de ausências é o despertar do céu nesse nós de mim. O nada emendado no nada é a falta de mim. A alma desencontrada me impede de morrer. Morrer se derrama em mim. O despertar é morrer sem me derramar.

Formar o nada

Cavar minha alma para eu vê-la no fundo do nada, para formar o nada. Quero morrer sem o fundo, raso de vida: não estou mais só em mim. Lágrimas de luz dão-se ao nada, com a certeza de não sofrer, de ser esse ser no nada do não sofrer. O nada eterniza a vida no nada de si, para não sofrer. Me eternizo no nada para ser, para sofrer em paz. Mas o que se eterniza é o meu fim. Fico sem o nada: fico vazia. Quero estar contigo no meu nada, ele não deixa. O nada sacode o vento como uma melodia que não cabe na poesia do vento.

Não há retorno no nada

Não há retorno ao nada, pois ele não é, apenas existe. Seu existir é o meu ser em mim. O nada é de dentro de mim, saindo como entranhas do céu a fixar o tempo no nada de Deus, que somos nós. Somente em Deus posso retornar ao nada de ser feliz.