Blog da Liz de Sá Cavalcante

Inexplicável

A alma não pode se transformar em algo constante, alma são momentos. É pela permanência que nada dura. O silêncio é a permanência de Deus na impermanência da vida. A impermanência do amanhecer é a vida na minha alma. A impermanência do amanhecer não é falta de amanhecer, é a presença de Deus. A permanência é apenas o que sinto em mim. A permanência não é viver. O inexplicável é sem ausências, se explicaria na ausência que se reflete no nada. O nada vive no pensamento. O ser não é vazio, pois é nada. Se nadifica na alma. A presença é o vazio da alma. Eu não necessito do vazio, necessito de mim: de ser nada! O ar me detém de viver. O ar refaz e revigora, o amanhecer vai aos poucos se ressentindo do sol. O ar é a aparência que eu quero ter, para desaparecer em nuvens de sonhos, que não conseguem esconder o sol de mim. Ele está dentro de mim, expandindo-me em poesias, clareiam o sol no meu amor.

O que faço em viver?

Nada faço em viver, além de escrever, esperar pela vida nas minhas poesias. Nem mesmo o nada me torna nada. A escuridão é o único silêncio. A luz das palavras clareia o amor e faz perceber o que não amo. Um dia amarei o silêncio quando tudo me faltar. O mundo, a vida, podem me faltar, mas o sol não pode faltar. Eu durmo, acordo, pensando numa cor para a vida, já que não posso viver. Me entrego às estrelas sem vida, sem buscar o céu. O céu da alma é o meu sorrir. Nada foi esquecido na minha solidão. Alma na alma é não ter as estrelas. Não posso ver o meu sentir, por ver a alma. O pensamento arde sem o sol. Quando a vida cessa, o amor permanece. O tempo destrói a saudade de viver, que não é o tempo, é o amor. A vida é apenas uma forma de pensar. Pensar é algo particular. Mas não é íntimo do ser. O ser que eu fui não sou mais, nem mesmo pela sombra da tua ausência. É inútil me dar sua ausência, é mesmo que nada me dar. Já sofri demais, estou anestesiada por sofrer. Vi que meus pensamentos de morrer são apenas vontade de sofrer o insofrível. Pensar me escapa no sofrer. Manifestar a minha essência apenas comigo a morrer. Quando percebi que existo, já estou tão distante de mim, que tudo que sinto em mim, é essa distância de mim. Sentir a alma é sentir o nada, escurecer o meu ser. Nem o maior do sol pode clarear-me. Obedeço ao amanhecer na escuridão divina.

A alma vivida é a alma deixada

Deixei a alma na alma vivida. Nada se explica na alma vivida. A alma deixada por mim é a explicação de eu viver. A alma sussurra a vida em meus ouvidos surdos, mortos de sofrer. A alma vivida é a alma que deixei por não me amar. Não sei nada, pois o motivo de deixar a alma, sou eu, que não sei sofrer com alma. Morrer é um sono tranquilo. Meu ser se torna verdadeiro, ao abandonar sua essência para ter alma. Sinto a essência pela alma. Ausências fazem a vida, surgir de novo. Ausências são o renascer do ser. Meu ser renasce sem ausências, por isso, é perda de mim, pelo renascer. A alma vivida não renasce, a alma deixada, renasce de amor. Amor por mim.

Meu olhar é a minha aparência

Ter uma aparência é o cessar do ser, da alma. Preciso acreditar no não ser em mim, para ter aparência. A aparência é o amor, o ouvir, o tocar. Tocando-me, a aparência se define. O sofrer, ao partir, ainda é sofrer. Sofrer por tocar o céu é sem amor. Desmembrar o pensamento do olhar, pertencer ao céu. Que o céu seja o desmembramento da minha alma em mim. A morte depende de mim, está nas minhas mãos, no meu corpo, em tudo que realizo, não realizaria sem a morte. A morte é a realização de um sonho. Quem dera sonhar assim, com a morte. Sonho apenas com o que sou: só. Tão só como um suspirar, pleno de mim.

Crueldade em morrer

Amizade são duas pessoas viverem a mesma solidão, solidão triste, mas, entre duas pessoas, há alegria para viver. Amar é fácil, difícil, traumatizante é conviver com o amor, com a sensação de perder algo precioso, incontornável. Onde termina o céu começam as estrelas. A estrela é o indefinido dos meus olhos, que se deitam no céu.

Perder o amor

Perder os espaços vazios é morrer. Salvo minha pele com a morte. Minha pele se transforma em mim. Cada vida uma história, um amor, não é diferente de existir. Viver é não precisar o céu ser azul. Os pássaros se perdem no azul do céu. Não sei se é o céu que voa até os pássaros ou os pássaros que vão até o céu.

O tempo da alma e o tempo da vida

O tempo da alma é o ser. O tempo da vida é a insegurança do tempo da alma. A falta do tempo é compreensão. Fazer do tempo alma é o meu fim, fim do amor. Quando o amor acabar, ficarei completamente em mim, no que me faz amar: a solidão. Ser só é um abraço eterno. A eternidade não tem a eternidade do meu abraço. A pele da eternidade em espasmos de vida. Proteger-me não é um espasmo, é um adeus. O sonho fortalece a vida. Quem existe no meu adeus? Meu adeus não é o teu adeus. O mundo existe para o adeus. O adeus do mundo é a percepção. Perceber é sem adeus, sem percepção. A vida se percebe em mim. Sou apenas o espelho da vida. Quando a vida se vê em mim, não se percebe em mim. Nada existe sem perceber a percepção. O existir é além do perceber. Perceber não é viver. Viver não e estar viva. Vivo sem a vida. Posso sair de mim sem a morte. A morte não me deixa sair de mim. O tempo me faz não gostar da vida, da morte, e amar o tempo, por ele ter partido. E, assim, o tempo permanece dividido, entre partir amando ou ficar.

A vida não é do ser

A vida não é do ser, é da alma. Derramando-me em vidas infinitas, descubro a saudade de ser. A inexistência nasce da existência, como um último sol, a se encantar com nuvens. Não dá para viver a ausência, é um desabafo da alma. Tive muitas almas, a única que amo é a alma da minha ausência. O nada desaparece para ser minha presença. A vida é mais que presença: a vida é o nada como ele é: sem presença. Nada satisfaz a realidade. Nada pode ser o que será. Será é sem o ser. O ser é o sentimento do mundo. Sofro o insofrível, como se nunca tivesse sofrido antes. A ideia de sofrer é a dor de sofrer. Sofrer em paz é morrer viva. A fé, sem o ser, é a vida.

Desfolhando-me em amor

A paz suspende o único sorrir da vida. É impossível dormir em mim, a alma se foi em um sonho de alma. Meu corpo, ao boiar na morte, salvou sua vida. Salvar são as duas metades da morte, na minha inteireza. Sinto a morte que não está em mim, me abraço à morte fictícia, mas ela não é morrer de verdade. Seu abraço de mentira me acalenta, me faz viver. Abraços de verdade me fazem ser eterna.

Essência do olhar

A essência é o olhar atravessado na alma. Nada vim fazer na alma. Plantei vidas com amor. A essência é o meu ventre de poesias. A essência do olhar: batalha sem trégua, mais querida que o próprio olhar. A essência é a certeza de ver o invencível e amá-lo. O amor se perdeu em ver: e, assim, descobre o infinito. O olhar se faz ver sem o meu fim.