Meu amor, devo ao tempo quando o tempo se despede, fica a mágoa de ter existido, onde apenas o tempo devia existir. A existência não significa existir, é uma falta que não pode ser preenchida. Na sombra da mágoa, nas margens da mágoa, está o sol. Ficar um segundo é a única permanência da vida, que necessita ser feliz. A mágoa da permanência é ser só, como se toda permanência existisse apenas em mim. Por que a permanência de sorrir me faz chorar?! Sorrir, para a vida acabar logo, e a alegria de ontem ser a alegria de hoje. Não importa mais viver, importa que dure como falta, que é a impermanência da falta na presença isenta de morte. Na presença está a pior ausência, que torna o mundo, a vida de todos juntos, somos mais do que vida. No deserto da saudade, o sol é eterno. A eternidade do sol desaparece na eternidade de ser, e a eternidade fica sem sol, sem ser. O tempo se abandona ao relento, sem sol ou chuva, apenas o tempo como escassez do tempo, a companhia cessa o pensar. O respirar vive sem mim, como se fosse a curva da vida, na luz do sol. O sol não tem luz, é apenas o olhar que não tenho. Mágoa é a certeza da falta de um olhar que impeça a mágoa de olhar. A mágoa se vê sem mágoa. A lembrar da falta, me lembro da mágoa, do amor. Como dar um fim a uma poesia? A falta de poesia não cessa a poesia, o ser em mim, que não é por mim, pertence ao nada de outro ser. Se ao menos eu tivesse meu próprio nada. No meio do olhar se esconde a vida, onde o olhar se vê, no sol do amanhã. Tudo me faz sentir o não sentir. Mágoa, onde está o teu sentir? No céu? Nas estrelas? Ou sou eu que te faço sentir alegria, essa alegria por mim?