Transcender não é flutuar, é pertencer à vida, sem me pertencer. A vida nunca está distante do meu amor. O que me impede de amá-la? Esse pertencimento sem vida, que não é vazio, é poesia! Sou resultado da minha morte, mas não sou minha morte. O vazio é uma morte estruturada, onde nada desaparece em morrer. O silêncio é a fala da morte. Não quero sobreviver a nada, nem mesmo à morte, mas quero que ela fale comigo, prefiro falar com a morte a falar com minha solidão. Para amar, não preciso deixar de ser só. No fundo, ser só é falar, e algo me responder, como o amor de um sonho, que vivo na realidade. A eternidade é um sonho. A falta de sonhar não é o real, é o sonho. Não sei quando sonho. Sonhar não precisa do tempo, nem de mim. O silêncio é um olhar que permanece, para o pertencimento da alma, que é apenas te perder, como silêncio, como palavra, como um despertencimento do nada, que me faz sofrer.