Silêncio é a arte do amor, é a proteção de morrer. O silêncio é o que se vê na alma. Sem o silêncio, o corpo é carnal, como se eu fosse expulsa de mim, por mim, sem poder levar comigo nem o meu silêncio, voz da minha introspecção vivendo de palavras, lembranças, como se eu ainda estivesse aí. Eu me ausento das palavras na lembrança, em mim. Sou a lembrança viva, mas sinto falta das lembranças. São poesias em mim. As palavras não têm silêncio, e sim as lembranças perdidas em mim. Podem tirar minha lucidez, não o meu coração, que é silêncio, dentro e fora de mim. Não posso me iludir, pois nada vou encontrar. Vou encontrar apenas silêncio. Falo, falo, mas, no fundo, o que quero é o silêncio. Porém não amo o silêncio. Eu amo a sua presença em mim. A sombra do silêncio é a vida. Não me acostumo à solidão, que é silêncio eterno. É como me despossuir de mim. É como se em mim não existisse silêncio. O silêncio é uma maneira de não esquecer, por isso tudo fica tão quieto, parado, esmorecido. O silêncio é minha razão de ser, sem nunca estar no silêncio. Não querer ouvir é silêncio de vida ou de morte. Nada pertence ao silêncio, nem à morte. Não sei o fim do silêncio, nem se me ouvem. Ouvir sacode o vento. É o fim do vento da natureza, sou eu a falar. O encanto silencia o silêncio.
