Blog da Liz de Sá Cavalcante

O caráter da vida

A vida não tem caráter. O que morre de melhor em mim é a vida. O olhar foi detido na pele. Restringir o nada no olhar, ver sem o olhar, se faz alma. Ver o Sol, conversa eterna com Deus. A mente é o corpo. O corpo, abstração do nada. A pele é reagir sem o corpo. O sossegar é apenas ouvir o vento. Sentir o vento sem o vento é ser feliz. O Sol apanha as estrelas castigadas pela Lua. Estrelas de Sol me fazem viver. Saber pelas estrelas é reduzir a luz ao infinito. Luz são as visões do nada. A visão do nada é como um futuro de sonhos do nada, que solta a pele, me prende, me desperta no nunca me tocar, como se a pele ainda estivesse em mim. Cuidar é ter o último respirar, amando o outro. O respirar cego por respirar se torna silêncio. Meu ser não é a minha vida. Se escrevo quando escrevo, é apenas um suspiro do nada em mim. É mais que escrever, vem de dentro, onde a poesia não me alcança. Rendo-me às estrelas, em um ar de estrelas. Consigo sorrir sem suspirar. Nada é perfeito como o nada. Vejo melhor pelo nada. O que você vê, não vejo, nem sinto. É como se a morte tivesse um corpo a esfarelar minha alma. Alma, o que fizeste de mim?! Reconheço-me apenas em ti. Extravasei meu ser em ti, como um ocultamento do nada. A alma não transcende como eu. Definir o ser pelo corpo é dançar sem corpo, saber quantas estrelas têm no céu. Escrever com estrelas, não com canetas. A alma da alma existe nos pedaços que não me tornam eu. Pedaços não ficam sem respirar, não têm solidão. Nem a inteireza anima a alma. Coisas nem sempre são coisas, são espectros sem força de se abrir para a vida. Nada é parecido sem alma. O vento caminha no ar soberano do pensar. Pensar é o vento. Deixo a alma sobreviver a mim. Há pausas que são mortes, onde falar perde o sentido e a vida é apenas esta pausa, na qual morri. Almas veladas como primavera. Sonhos são invernos da alma. Na flor da ausência, o real, sombra que se torna Sol. Tocar é a ausência do corpo, perdida na alma, em cantos de amor.