Tentar a vida em uma imortalidade solitária para não ser solitária. O desvendar do corpo é a alma. Eu me amo para não amar? Dá para amar na imortalidade solitária? A alma é a imortalidade da vida, que é imortalidade solitária. Não me deixa só, faz-me amar, ser, falar, fazer do meu ser essa imortalidade solitária. Não estou só, pois tenho um corpo. Escuto meu corpo. A vida nasce para quem nem a vê. Ver destrói a alma, distrai a vida. Nasci para a vida. Eu a vejo, mas ela não me vê. Ver é uma imortalidade solitária sem alma. Quem sabe a imortalidade solitária me faça morrer? Morrer nunca dá certo. Morrer era para ser a frieza da alma. A alma não é fria. A morte não faz morrer. O ser morre por si mesmo. Não há liberdade no Sol, que sempre tem que amanhecer. Se não sei viver, não saberei viver ao morrer. O fim não importa se vivi o suficiente para ter o começo de mim. O nada salva uma vida, une, desperta, vê em mim o que sou. Nada de ser se perde na morte. A imortalidade é abandonada sem solidão, é abandonada no nada. E esse nada torna o imortal mortal, mas continua imortal para mim, como um sopro de luz. Imortal é tudo que fica por dentro de mim e morrerá comigo. Morrer é preencher os espaços vazios, deixados pela imortalidade. Seja imortal ou mortal, é o mesmo fim de angústia que me faz ser eu na morte ou na vida. Quando não houver vida para ser mortal ou imortal, resta eu sonhar imortal, mortal, desde que algo dure para sempre. Se não pode ser vida ou morte, que seja meu amor imortalidade da imortalidade, onde o sonho é apenas uma vertigem, é meu corpo. Corpo que se descobriu por si só como meu corpo. Corpo que amparou a minha morte e me designou a ser eu na morte. Morri. Não me fiz morte, mas me fiz corpo. Um corpo que transcende entre o bem e o mal e me fez ser eu além de mim, além das minhas possibilidades, além do meu amor.
