No ar, no mundo, na vida, na alma, no ser, a solidão é a mesma. Tudo na solidão é superficial, por isso desejo a solidão. Uma morte verdadeira, sem subterfúgio, sem rodeios, contradições, culpa, uma solidão para a solidão, é morrer. A morte não deixa vestígios de morrer. O vazio é uma luta, não é o último adeus. O nada não pode separar o adeus de mim, mas eu separo o adeus de mim. A falta de adeus é meu corpo no adeus. A vida pela presença da vida. O tempo da vida é o ser sem o tempo emocional. O tempo emocional é o que nunca vou sentir. Sentir é confuso, por isso libertador. A falta é um sentir. A vida está presa no meu amor. Meu amor é como recomeçar em um espírito de luz. O ar do meu espírito é a luz. Luz é o entontecer da liberdade. Há mais liberdade na criação livre do espírito que vive em mim, escravo de mim. Floresça, alma. Nasça, cresça com meu desesperar por ti. Minha única fé é o espírito. Espírito, como sofre sem mim? Perto demais de mim, escuto-o sofrer. Escudo de Deus, defenda minha morte de mim. Torne meu aparecer vida. Desvia de mim o que sou para morrer. Um pedaço da alma da minha morte se foi com a minha morte e fico sem o meu destino, meu calvário de alegria em um sorrir transitório. A vida é a dureza da eternidade na morte. A morte afunda de eternidade. Sonhos me repetem, não se repetem. Saí ilesa da morte. Nada sofri com a morte, embora a pele definhou. Estou vendo a vida melhor do que antes. Aproveito a solidão da minha morte, da minha poesia. Assim, fiz da minha morte um voar, nas alturas de mim mesma, amando a morte mais do que a mim mesma.
