Blog da Liz de Sá Cavalcante

Como perder o céu no olhar de amor?

O amor não mantém o céu. Apenas o céu é do céu. Não me entristeço pelo céu. Há coisas mais tristes, solitárias do que o céu. Corpo de céu, olhos de mar. A vida é a agonia da dúvida de viver. Minha alma é a saúde de quem está doente. Dor sem alma, mata e consola. Eu abraço meu corpo na dor, e é como se eu estivesse viva. Viva para o meu corpo, não em mim. Nada se compara à vida de um corpo – é a inexistência do amor, é vida, é morte, é ser. As coisas inexistentes estão mais vivas, reais, como um útero doente no ventre da vida. É inesquecível a dor do útero, é um desnascer de alegria. O Sol nunca nasce. Vivemos na escuridão e pensamos ser Sol. Não se pode tentar ser. Eu sou, sem esforço algum. A alegria tira a vida e não traz eternidade, apenas me faz ser. Ser não é meu ser. Ser é o que não pode existir em mim, para eu ser uma pessoa sem eu mesma. Eu sou eu na poesia, no encanto da escuridão. Perdi o céu vendo-o, e foi como se ele fosse minha escuridão. É melhor do que a luz. Não posso me despedir de mim sem a tua escuridão, morte. Eu me despedi com a minha própria escuridão, em um asilo de amor, desamor, mas é apenas falta de mim.