Blog da Liz de Sá Cavalcante

Sonho da luz

A ausência faz falta de tudo, menos do sonho da luz. São tantas faltas, que é melhor viver mesmo. A falta é vida. O ser é a falta da falta, na falta do nada. Eu sinto a falta como desejo e fiz da falta esperança de ser eu. Eu tirei meu fim do meu corpo com a falta do corpo. Adoro quando a falta me ama. Tudo me falta e sou feliz sem a alma a incomodar. Nada é inseparável, nem mesmo na falta. Tudo se sonha em faltas. Eu sinto falta da falta. Eu respiro as minhas faltas, alimento-me do nada. Sinto o parar do corpo, sem faltas, sem adeus. É como se o corpo estivesse vivo ainda. Não sei o que é falta. Talvez seja essa alegria que sinto. Sonho de luz é não poder ser eu e ao mesmo tempo ser eu sem a falta. Não há falta pior do que ver a vida. Morrer não é falta, é conquista, é o tempo em luz. Admiro as estrelas do céu, como falta de mim na presença do céu. Sem o céu, a alma é um corredor vazio. A lembrança é a falta no vazio. Não quero desejo no meu corpo, nem alma, nem amor. Nada disso tem sentido se eu não tiver vida. O fim da alma é a libertação do espírito. O espírito é belo se não tiver espírito. O espírito é uma forma de viver. Sorrir é um espírito que me deixa sorrir com ele. Sorrir também faz perder o espírito. O espírito tem dois rostos: um de morte e um de vida. A vida não pode ser ajudada, nem pelo espírito. O espírito chora e se comove por chorar. Chorar vem das estranhas da morte. Eu vivo o teu chorar só, pois espírito é fuga. Nem o espírito me fortalece. Chorar é perda da alma, é o descaso, o desprezo da alma com a vida. Não procure me tocar sem a alma, pois eu morreria. Não há sonhos de luz que resistam à alma. Terei mais alma sem sonhos de luz. A luz descendo na luz e o espaço vazio é Deus a me amar. Deus é a vida da alma, mas não é a vida do ser. Pior saber morrer que não saber.