Sonho no interior. Eu vivo no interior do outro. Acordar é ter no ser o que nunca vou ter: eu. Eu somatizei meu corpo na alma. A vida borbulha na alma e o corpo fica só, sem ter por onde existir. O interior da morte é cruel sem a minha dor. Tudo na dor é fácil sentir. Eu vivo a dor do outro, pois estou viva. Viva como o suportar morrer um dia. O exterior é a reparação do nada. Não sei sonhar só, nem viver só. Sei morrer só como um abismo infinito. Não sei como amanhecer. Quase morrer é tornar o espírito um abismo. Quase morrer é aprender a ser eu. Falta ser minha presença sem o nada. Desorienta-me sem o nada. O corpo não pode dar vida ao nada, então lhe dá sabedoria, fé. Nada sente o corpo, apenas sua morte. A presença é o corpo despedaçado em meus braços, dissolvendo a minha dor. E minha poesia é apenas o não esquecido, nem lembrado: é a vida partindo de mim, ficando só dentro de mim. A espera de um corpo é construir a vida no que me falta: chorar pela pele e morrer em paz. Minhas poesias vão escrever sobre mim, até me esquecer de tanto amor.
